sábado, 31 de janeiro de 2009

Discurso de alcoviteira

Por norma gosto de atitudes positivas e dizer bem do que é nacional, sem com isso hipotecar o meu sentido crítico, porém, momentos há que isso se torna impossível.

Ontem enquanto esperava pelo jantar em casa do meu sogro, aproveitei para ouvir as notícias e houve duas peças completamente antagónicas em termos de atitude que me marcaram substancialmente.

Pela positiva, vi um presidente americano a insurgir-se sobre os prémios obscenos de Wall Street, (quase) epicentro da crise actual. Pode não ter qualquer capacidade de interferência, mas é a voz do presidente. A juntar a isso, e dentro da sua esfera de intervenção, dando outro sinal claro aos primeiros, a informação de que tinha anulado o gasto de milhões de dólares na compra de um avião a uma companhia à qual estava a ser prestado apoio financeiro. Determinação, moralidade e bom senso.

Pela negativa, vi um discurso de alcoviteira do diz que disse. Ao contrário da assertividade anterior, a pessoa em causa falou em algo parecido com “têm me vindo a dizer ...”. O triste desta história é que essa figura não era o presidente americano ..... era o nosso! Como é possível a figura máxima de um estado de direito prestar-se a um papel destes.

Para juntar ao ramalhete, a postura de chacota sobre a lei do divórcio. Apenas 12 dias depois da sua entrada em vigor, ele tem já dados concretos que os novos pobres que surgiram foram por causa desse facto. Impressionante.

Pessoalmente até o considerava um bom presidente até ao momento que a MFL foi eleita presidente do PSD. Depois desse momento, e cada vez mais mal assessorado, tem vindo a falar demais, a escolher mal o timming e o local dos seus discursos, utilizar métodos disparatados, como o “garganta funda” e, no que seria o seu ponto mais forte, a componente económica, a não proferir nenhum discurso.

Espero que dois factos se conjuguem. Por um lado, que ele tenha visto a intervenção do Obama e, por outro lado, que o Contra-Informação faça uma sátira sobre a sua postura.

Eu explico este último ponto. No tempo do seu antecessor, o Jorge Sampaio, ele fazia uns discursos imperceptíveis, cheios de palavras difíceis que tinha de certeza ir ler o seu significado ao dicionário, ou seja, acho que nem ele percebia os seus discursos. O Contra-Informação começou a brincar sistematicamente com isso e, revendo-se naquelas peças, apesar do próprio o ter publicamente negado, começou a ter um discurso mais simples e perceptível. Espero que façam o mesmo ao Cavaco Silva, que eu acredito ter potencialidades para muito mais que esta recente postura de alcoviteira.

Momentos roubados ou crueldade da situação

Todos nós temos pequenos rituais ou acções que nos permitem manter um certo equilíbrio. Pequenos actos ou gestos sem os quais não nos sentimos tranquilos. Varia de pessoa para pessoa, mas a generalidade funciona assim.

Para o meu equilíbrio interior, existem duas coisas sem as quais me transformo numa pessoa intranquila. Não consigo acordar de manhã e não tomar um bom banho quente, vestindo depois uma roupa lavada. Se houver algum facto transcendente que me impeça isso, sinto-me sujo e muito incomodado o resto do dia. Não estou tranquilo. Não consigo.

Com um universo temporal diferente, o meu outro prato da balança é uma visita semanal à minha menina, levando-lhe uma flor. Por norma é uma rosa que compro sempre no mesmo sítio desde que nos mudamos para Queijas mas, se não puder comprar aí ou mesmo noutro sítio, levo-lhe uma simples flor apanhada num qualquer jardim ou passeio. É o nosso momento ..... aquele que podemos ter .....

Esta semana, entrei na loja quase ao mesmo tempo de um outro senhor. A menina que já está habituada ao meu ritual semanal, pediu licença ao senhor para me dar a minha singela rosa, o qual concordou. Naqueles breves instantes em que esperávamos, ele disse uma frase que me trouxe um sorriso aos lábios e uma tristeza profunda ..... “É para a minha mulher. Há 29 anos ela estava na maternidade!” ..... como senti inveja daquele senhor ..... como eu queria poder fazer o mesmo, tanto hoje como daqui a 20 anos ..... como os sonhos são Desfeitos .....

Sai da loja o mais rápido que pude para dar largas ao meu solitário pranto ..... tenho tantas saudades tuas, meu amor ..... como fomos Espoliados de tantos momentos ..... tenho tantas saudades tuas, meu amor.

Amo-te muito .....

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Efeitos inversos

O efeito de uma determinada acção nem sempre é o esperado ou o logicamente espectável. Sabendo isso, temos tido várias figuras ou celebridades a utilizar artifícios como cenas de sexo para se promoverem. O que à partida seria expectável que fosse visto como negativo, arruinando a reputação da pessoa em causa, pode fazer com que seja falada ou vista como uma vitima da circunstância, permitindo-lhe capitalizar ganhos não previsíveis.

Este caso do Sócrates, para além de voltar a por em evidência a morosidade e ineficiência da nossa justiça, tem igualmente o condão de demonstrar a mesquinhes de alguns políticos e, poderá ter um resultado diferente do previsível desgaste da sua imagem. Começo a ter dúvidas se é um evento adverso ou útil à sua futura campanha eleitoral.

É mais um caso onde existe muito por explicar, e tal como vários outros, duvido que cheguemos a saber o que realmente aconteceu. Infelizmente é apenas mais um.

Sem tomar posição sobre a sua inocência ou culpabilidade, apenas acho que da forma como as notícias estão a ser publicadas e os vários comentários que acontecem, o efeito poderá não ser nefasto para ele como inicialmente poderíamos supor. Ás vezes estas situações realmente acontecem.

Instintos animais

Podemos acreditar na teoria de evolução de Darwin ou, tal como os discípulos das Testemunhas de Jeová, que tudo começou com Adão e Eva. Independentemente do princípio, todos estamos de acordo que a raça humana tem vindo a evoluir, tendo cada vez mais comportamentos ditos sociais. Os nossos instintos animais têm vindo a ser substituídos por instintos racionais. Podemos chamar-lhe evolução.

De tempos a tempos assistimos porém a alguns comportamentos instintivos ou emocionais. Quando isto acontece numa organização, o mais provável é ser um evento não positivo. Existem dois grandes momentos em que isto acontece, sendo o primeiro quando alguém é atacado, ou pelo menos sente-se atacado, e o segundo quando alguém quer vincar uma posição por insatisfação com uma determinada situação ou resolução.

Ontem estive presente numa reunião de fecho de um projecto complicado, que olhando do lado que quisermos chegamos sempre à conclusão que correu mal. É um facto e que temos de aceitar, com as consequências que isso implica. Pelo que eu considero uma atitude estúpida, ou de puro instinto animal, o sponsor do projecto decidiu atacar um determinado aspecto do projecto, como forma de tentar atacar todos os participantes. Já era espectável haver uma “cena” destas, pelas razões já descritas, só tinha dúvidas era qual o motivo que seria utilizado. Se conhecermos bem as pessoas elas tornam-se previsíveis.

Esse instinto animal foi na minha opinião um autentico tiro pela culatra. Em primeiro lugar porque numa reunião prévia, já tinha assumido uma posição diferente e correu o risco de lhe dizermos isso à frente dos seus pares e pessoas externas à organização. Em segundo lugar, ao assumir as posições que assumiu, estava a chamar-se incompetente pois ele era o sponsor que é o responsável máximo do projecto, Em terceiro lugar, independentemente do seu papel, ele fazia parte da equipa. E tudo porque estava chateado com algumas aspectos. A emoção sobrepôs-se à razão ..... puro instinto animal.

Detalhando um pouco mais, o grande ponto de discussão foi as decisões que teríamos de tomar em relação a um determinado tema de seguimento pós projecto, assim como o risco face aos timmings envolvidos. Durante muito tempo bateu-se por utilizar a nova ferramenta na sua totalidade desde já, apresentando como argumento que era essa a expectativa há quase 2 anos atrás.

Este é um erro crasso que muitos dos nossos gestores cometem. Quando determinada situação acontece, é preciso assumir os erros para trás e decidir as acções com base no presente e com vista ao futuro. Atenção que isso não significa esquecer o passado pois é de lá que tiramos ensinamentos valiosos. Mas as decisões não podem ser tomadas a olhar para trás. Neste caso concreto é que a pessoa em causa teve de ouvir este “ensinamento” de um dos seus pares à frente de todos ..... e como por instinto animal se defendeu como podia, teve de passar pela vergonha de lhe voltarem a explicar em público esta regra básica da gestão.

Quando se deixam os sentimentos ou instintos animais se sobreporem à razão, o resultado quase nunca é positivo. E infelizmente este é um comportamento que assistimos quase diariamente nas nossas organizações.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Mudam-se os tempos

Os tempos de privação têm o condão de testar as nossas crenças e convicções. Fazem-nos pensar se efectivamente acreditamos no que dizemos ou fazemo-lo por conveniência. Para quem se der ao trabalho de pensar em si, e assim o quiser, pode aproveitar para se tornar uma pessoa melhor. Ficar mais perto da pessoa que gostaria de ser ..... ou no mínimo, ser mais honesto.

Nestes tempos de grande agitação, o que hoje é verdade amanhã já não o é e vice-versa. Ainda está muito presente na minha memória a apologia que se fazia à Islândia e à Irlanda ..... e isso foi à três ou quatro meses. Até há semanas atrás, diziam os nossos reputados economistas que o governo se intromete demais nos nossos negócios e na nossa economia, o que concordo. Hoje em dia reclama-se a nacionalização de tudo e todos.

Até agora apenas ouvi o Basílio Horta a ter um comentário inteligente sobre esta matéria, ou seja, o governo apenas deve salvar as empresas que devem ser salvas. Por mais cruel que isso pareça, especialmente numa semana em que já vamos com notícias de despedimentos globais de quase 100.000 pessoas, essa é a mais dura e simples verdade.

Assim como a vida é feita de nascimentos e óbitos, a vida empresarial rege-se por princípios idênticos. Talvez seja mais parecida com a natureza no seu estado mais básico, ou seja, existem varias espécies mas apenas as mais aptas sobrevivem ..... a natureza encarrega-se de eliminar as fracas ..... e nós dizemos que é a natureza, o decurso normal da vida. Dizemos que pode não ser justo, mas faz sentido.

No mundo empresarial existem empresas cujo plano de negócios é viável e as que estão desde logo condenadas à partida. Nessas empresas distintas podemos encontrar gestores competentes e incompetentes. Por seu turno, estas empresas podem ter os produtos certos no momento certo e ao preço certo, ou falhar num ou em todos estes predicados. Como é fácil imaginar, umas irão sobreviver e outras não. A natureza (mercado) ditará as regras e fará a selecção.

Se a ordem natural das coisas sempre foi assim, e todos concordamos que é assim que deve ser, fará sentido resguardarmo-nos nesta crise para desatar a salvar tudo e todos?

Por muito mal que estejamos habituados a dizer mal do nosso país, a verdade é que temos um sistema social de suporte. Pode não ser o ideal mas existe. Na minha opinião, é este mecanismo que deve suportar o impacto negativo desta crise. Injectar dinheiro em empresas que não são viáveis não é salvá-las da crise, é apenas adiar o inevitável à custa de todos nós.

Gerir e governar não é tomar as medidas mais fáceis ou populares, é ter a coragem de tomar as decisões correctas, ou pelo menos, as que racional e tecnicamente parecem ser as mais correctas. Por difícil que seja, é preciso saber dizer não!

Concordo inteiramente com o Basílio Horta. Um país não é a Santa Casa da Misericórdia. Finalmente uma observação objectiva!

sábado, 24 de janeiro de 2009

Manobras de diversão

Numa altura de critica e contestação, com notícias que aparecem nos jornais nas alturas mais propícias para alguns, assistimos sempre outras puramente designadas como notícias fogo-de-artifício.

Quando se assiste a uma prova de todo-o-terreno, sabemos que depois de passar um daqueles bólides a alta velocidade, forma-se uma nuvem de pó muito grande e, o ideal será ou desviar-nos, que não é bem o mesmo que fugir, ou ficarmos sem mexer muito os pés para não levantar mais pó. É elementar.

Numa altura em que deveria haver um pouco mais de serenidade, não era espectável que alguém tentasse agitar ainda mais a situação. Face ao actual panorama de crise mundial e instabilidade social, deveria haver uma centralização num desígnio lusitano comum. Da mesma forma que estivemos todos unidos no apoio ao Euro, deveríamos estar agora unidos para enfrentar melhor esta “crise” ..... só vejo tiros no pé!

Não consigo perceber a cretinice do Sócrates ao trazer para cima da mesa o casamento homo-sexual e a regionalização ..... e desconfio que se esta questão do FreePort aquecer ainda mais, ainda vem também à baila o tema do aborto ou outro qualquer similar ..... porquê? ..... não existe um ditado popular de “quem não deve, não teme?”.

São assuntos em que a única união é na convicção de que são temas que dividem a nação da sua totalidade ..... porquê? ..... será que ele acha que a MFL é tão burra ao ponto de dizer a mesma asneira duas vezes seguidas?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O que pretendem os professores?

Confesso que não consigo perceber o que os professores pretendem. Apesar de me considerar uma pessoa minimamente informada, não consigo perceber. O mais curioso é que falo com outras pessoas e sinto que estão na mesma situação. Pior ainda, é falar com professores e continuar na mesma.

Tentei já falar com vários professores e o resultado é o mesmo. São contra a ministra e acham que serão o D. Quixote a atacar o seu gigante ..... ou seria um moinho? ..... estão numa cruzada contra tudo e contra todos, excepto contra a sua própria incompetência e ineficiência.

Em todo este processo há uma duvida muito grande que tenho. Apenas ouço os professores a dizer que têm de preencher muitos papeis. Até hoje não ouvi um único comentário sobre a relevância ou não desses documentos. Dizem que têm de preencher mas não se isso é relevante ou não. Se os papeis são preenchido e não são utilizados para nada, o que num país burocrático como o nosso nem seria de estranhar, então têm razão. Mas ninguém diz que papeis são. Fica a dúvida. Terei de assumir que são importantes.

Até agora a luta nunca foi posta em termos pedagógicos ..... nunca foi discutido o modelo de ensino ..... nunca o aumento do número de professores em contra ciclo com a redução do número de alunos ..... da diminuição dos resultados dos nossos alunos quando comparados com o resto da Europa ..... o foco sempre foi o processo de avaliação. Dito de outra forma, os professores recusam-se a ter outro modelo que não a avaliação da sua própria auto-avaliação ..... e não percebem porque ninguém para além da sua própria classe está com eles? Quando usam e prejudicam os alunos faltando a aulas e exames, não percebem porque os pais estão contra eles ..... porque será?

E ontem saiu uma notícia no Diário Digital em que a FENPROF exige que o topo da carreira seja possível de atingir em 28 anos, menos 7 que actualmente ..... e que a progressão dependa apenas da avaliação da sua auto-avaliação sem restrições ou quotas ..... ou seja, esqueçam essa história da crise e não aumentar os custos da função pública ..... que timming e pretensão tão desajustada!

A luta tem sido igualmente o conseguir correr com a actual ministra. É curioso como são uma classe coerente. Todos são bons professores excepto o professor que é ministro ..... e é assim à anos. Estupidamente extremaram tanto os protestos e a sua intransigência que ao Sócrates não resta outra alternativa senão manter a ministra ..... face ao actual clima de crispação e à proximidade das eleições, quer ele concorde ou não com a sua ministra, não a pode substituir, excepto se ele der um tiro no pé com algum comentário demasiado cretino para poder ser ignorado ..... os professores passaram o “ponto de não regresso” e não conseguem perceber isso nem fazer concessões.

Quem tem filhos ou sobrinhos numa escola pública vê o empenho que os professores hoje em dia têm. Vê como são poucos os professores que realmente se interessam pelos seus alunos. Pode não ser fácil ensinar hoje em dia porque os alunos cada vez têm menos respeito, mas são os alunos que temos.

Não percebo o que deixar de ser avaliado pode alterar essa postura. O que pretendem então realmente os professores?

Saber desistir

Este é um dos textos mais difíceis que já escrevi, não só pela dificuldade do tema, como das memórias que acarreta, como em parte ser contra a minha própria maneira de ser e pensar.

Arrumemos a parte mais difícil. Uma das coisas que mais me custou na vida foi ter de desistir do meu amor ..... não é desistir dela, mas sim saber que o fim era inevitável e que o seu sofrimento era tal, que o melhor era parar de lutar ..... desistir ..... deixar que a inevitabilidade acontecesse ..... e tal como quase tudo na nossa vida, fizemo-lo em conjunto depois de várias conversas ..... não desejo esses momentos e essa decisão nem ao meu pior inimigo ..... dilacera-nos completamente por dentro ..... foi preciso uma coragem que não sabia que tínhamos ..... que eu não acreditava conseguir fazer ..... foi talvez das provas de amor mais difíceis .....

Por muito complicado que seja, saber parar e desistir de flagelos como a droga, o tabaco ou o jogo é possível. Requer uma força de vontade titânica e de louvar, mas é fácil. É apenas uma dependência. O difícil é saber quando desistir das pessoas ou sobre as pessoas.

Há tempos atrás ao falar com uma pessoa amiga, disse-lhe que há situações que são ou podem ser uma autêntica ancora. Por muito que tentemos andar para a frente com o barco, sabemos que está ali algo ou alguém que não tem a mesma vontade ou capacidade. Podemos tentar de todos os meios ajudar e trazer à superfície, porém, se isso não for possível, é preciso saber cortar as amarras para não ir também ao fundo. A triste realidade da sobrevivência é essa mesmo ..... vamos ao fundo ou mantemo-nos à tona com a consciência pesada?

Pondo a questão em termos metafóricos, na história da cigarra e da formiga, se fossemos a formiga, o que faríamos?

Não é fácil ver alguém que gostamos ir afundando-se em direcção ao abismo, porém, se essa ou essas pessoas por si nada fazem sem ser lamentar-se, e todas as nossas tentativas de ajuda são mal recebidas ou percepcionadas, podendo mesmo ter o sentido inverso ao pretendido, então é preciso saber desistir dessas pessoas. Torna-se mais difícil quando é um menor, mas o principio é similar ..... mas é tão mais difícil!

Quando tomar essa decisão? ..... infelizmente não há nenhuma formula matemática para o saber ..... é pena.

É preciso saber ganhar e perder. É difícil mas é preciso saber desistir, por muito que isso nos custe e tendo perfeita consciência do que isso significa e acarreta. É difícil, especialmente por termos de viver com esse peso na consciência ..... mas é preciso saber parar ..... desistir.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Quando as más notícias são boas notícias

Pode parecer um contra-senso ..... e se calhar até o é ..... mas a esta hora do dia, parece-me a maior das verdades.

Para efeitos deste texto, e por razões apenas literariamente empíricas, vamos considerar que quando eu escrever Governo, estou a falar de um Governo de Portugal formado em maioria absoluta pelo partido do leitor, seja ele qual for. Caso não tenha um partido de eleição ou afeição, considere um qualquer Governo utópico, formado por elementos que querem o melhor para o país e não para sua satisfação pessoal ou de amigos ..... perfeitamente utópico, portanto.

Hoje foi um dia financeiramente desastroso para Portugal, pelo menos na minha opinião, uma vez que a Standard & Poor’s baixou a nossa notação financeira ..... e daí talvez não. Para quem não está a par, vamos simplificar dizendo que é o 'rating' que indica a nossa capacidade e/ou fiabilidade de enquanto país, ter capacidade de pagar o dinheiro que pedimos ao estrangeiro. Em termos práticos, um 'rating' mais baixo corresponde a um risco de crédito mais elevado, pelo que, normalmente, o custo do crédito fica mais caro.

Em termos financeiramente políticos, significa que as reformas estruturais que este e os anteriores Governos tiveram, na conjuntura actual, não oferecem as garantias necessárias de que as nossas finanças públicas possam suportar os encargos inerentes ao endividamento que possuímos. E quanto maior é o risco, maior é o valor que pagamos pelo dinheiro. Isto significa portanto que as grandes obras que este governo se prepara para "eleitoristicamente" apresentar ficaram mais caras.

Para quem ficou apreensivo, digamos que as más notícias ainda não acabaram ..... estamos em ano de eleições ..... durante o próximo ano nada será feito para inverter esta classificação ..... onde poderá estar então a visão positiva? ..... o próximo Governo vai ter de fazer alguma coisa, ou fica estrangulado!

Nas nossas finanças pessoais, quando temos pouco dinheiro tentamos gerir o melhor que podemos, não cortando totalmente o desperdício pelas mais diversas razões. Explicamos cada um dos excessos mas apenas não conseguimos dar uma justificação para a nossa situação. Sempre foi assim, porém, quando chegamos ao ponto de começar a passar fome, sabemos que temos de deixar o telemóvel, a televisão por cabo e todos os excessos para os quais sempre soubemos que não tínhamos dinheiro. Regra geral, apenas quando as pessoas quase batem no fundo é que se consciencializam que têm um problema e que têm de fazer alguma coisa ..... e qualquer governo é formado por pessoas ..... independentemente dos ideais, a realidade é que são as pessoas que lá estão que tomam decisões .....

Este poderá muito bem ser um factor extraordinário para que o próximo Governo tenha a coragem suficiente para empreender as reformas necessárias, não se limitando a ficar contente com a pequena eficiência de cobrança fiscal que esconde o peso da despesa. Poderá ser a razão para que tenha a coragem efectiva de proceder às reformas necessárias, reduzindo a despesa pública.

Andámos anos e anos a enganar meio mundo, incluindo o FMI, porém, tal como na rábula do Pedro e do Lobo, chega o momento que as pessoas deixam de ir em histórias e falinhas mansas ..... estamos a chegar a essa fase ..... ou talvez já lá chegámos ..... seja como for, garantidamente um “puxão de orelhas” destes tem de produzir algum efeito prático!

sábado, 17 de janeiro de 2009

Olhares diferentes

Existem várias formas de olhar para as mesmas coisas, tais como a vida, os desafios ou os problemas. As grandes evoluções do Homem foram feitas por aqueles que ao olhar para o mesmo que os outros, viram as coisas de maneira diferente, não se auto-limitando. Podemo-los chamar de pioneiros, empreendedores, visionários ou outro qualquer nome, pois seja de que forma os chamemos, estamos a fazer-lhes um elogio. Basicamente são pessoas que olham o mundo de forma positiva.

Em Portugal tivemos um candidato a primeiro-ministro que para ganhar umas eleições, pintou um cenário tão negro que parecia importado de África. Como o povo Português é reconhecidamente um povo negativista, e ainda hoje saiu um novo estudo sobre essa nossa característica, esta estratégia funcionou em pleno e ele ganhou as eleições. O preço que pagou foi que todos ficaram parados nessa visão e não se deslumbraram com o facto dele ser primeiro-ministro. O seu erro foi esse mesmo, ou seja, estava convencido que todos passariam a ter uma atitude positiva, esquecendo todo o negativismo por ele criado. Como não conseguiu fazer com que o povo mudasse essa visão catastrófica, e não conseguiu governar o país, acabou por meter o rabo entre as pernas e fugir para a Europa. Uma fuga mascarada de promoção do país, mas numa perspectiva dura e crua, uma fuga. Parecia um ministro caído em desgraça mas que se retira por motivos pessoais e nunca políticos.

Talvez devido a este exemplo mais recente, tem havido muito mais cuidado na abordagem a esta crise mundial, havendo sempre uma tentativa de aviso mas acompanhado de uma visão de melhoria a longo prazo. Somos constantemente bombardeados com a ideia de que é uma crise de duração limitada ..... só ninguém arrisca é o quanto demorada ela é.

A verdade é que as notícias de despedimentos são cada vez mais frequentes. Se por um lado da mesma maneira que as pessoas nascem e morrem, o mesmo acontecer às empresas é normal e desejado, parece-me que já existem várias empresas a antecipar as dificuldades optando pelo caminho mais fácil e, num período deste, menos sujeito à critica pública ..... é da crise! Não consigo entender como os casos de negociações em que todos ganham, como foi o acordo que ocorreu na Auto-Europa, não se repetem mais. Se são bons exemplos, repitam-se!

Em termos mais humanos, existem sempre as pessoas que enfrentam as dificuldades e as que se sentam a chorar e lamentar. São duas posturas distintas. A verdade é que as primeiras mais rapidamente ultrapassam os problemas e “endireitam” a sua vida que as segundas. Estas últimas limitam-se a perder tempo precioso, apenas para chegarem à triste conclusão que estão na mesma situação que estavam no início e mais tristes e conscientes de que o tempo que perderam a lamentar-se já não é recuperável. E se tiverem o discernimento e/ou hombridade de o reconhecer já é em si positivo.

Apesar dos vários mails de spam que todos recebemos, a verdade não é de que se formos positivos tudo se resolve. Nunca conheci ninguém com mais amor á vida e fenómeno de força positiva que a Ana ..... mas isso não chegou ..... infelizmente. Continuo é a achar que se não fosse isso, a sua partida tinha sido muito mais cedo que na realidade foi, e não tínhamos conseguido viver tudo o que vivemos e da forma como o fizemos ..... todos os três ..... mas não chegou.

Mas ser negativo não traz resultados. Pode trazer esmolas mais ou menos significativas, mas raramente constitui em si a solução. O fundamental é conseguir olhar e parar o negativismo ..... saber que é preciso recomeçar de novo ..... que a vida tem de continuar e da melhor forma. Quem só sabe se lamentar a todo o instante ou situação, está demasiado ocupado a ouvir-se chorar para reagir. É preciso saber parar, o que não é fácil! Mas para estas pessoas, quando mais cedo o fizerem mais cedo podem conseguir o que pretendem.

Viver não é fácil e há situações bem complicadas de serem vividas, porém, o negativismo gera negativismo e o positivismo gera confiança. Tal como no vício do jogo, quem está a passar dificuldades tem de saber dar o que já perdeu como perdido e tentar olhar para a frente, de forma a que o que vier seja aproveitado e não para continuar a perder. Se já está perdido, porquê continuar a fazer, pensar ou actuar da mesma forma? Que têm a ganhar? O que está perdido está perdido e é preciso é aproveitar o que vier para que seja um ganho.

Recomeçar assusta e é difícil, mas tem mais vantagens que desvantagens! Tal como um livro, a vida é feita de capítulos ..... mas é preciso recomeçar. E para quem consegue gerar internamente a força para o fazer, o meu incentivo e esperança que não esmoreçam nem se deixem vencer às primeiras 100 dificuldades ..... essas são as mais difíceis ..... depois é tudo muito mais fácil!

Para os que lerem esta mensagem e sabem que é para eles, peço-lhes que se lembrem mais uma vez do exemplo e prova de vida que a Ana foi ..... aproveitem o que ela infelizmente já não pode fazer ..... olhem para a vossa vida de uma forma diferente ..... renasçam e vivam uma nova vida. Aproveitem!

Olhem sempre para o lado FIXE da vida!

Espero que o filhão tenha herdado a tua força de viver, meu amor ..... amo-te muito ..... foste um exemplo e inspiração ..... que saudades ..... amo-te muito, meu amor!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O melhor amigo do homem

Uma das grandes maravilhas ou realizações do marketing é que, se formos “bombardeados” constantemente com uma ideia, ela acaba por tornar-se “verdade”. Ao fim de algum tempo, todos acreditam nisso e ninguém sabe o porquê, qual a origem ou a razão. Apenas o é.

Quando lemos a frase do título, o que nos vem à cabeça é um animal, mais propriamente um cão. Porquê? ..... porque sim ..... porque para a grande maioria é isso que pensam ..... sempre foi dito isso e como tal acreditam que é verdade ..... será?

Por brincadeira, e para corroborar este fenómeno, muito ao estilo de Pavlov, sugiro o seguinte: peçam a várias pessoas para escrever numa folha de papel o nome de uma ferramenta ..... a esmagadora maioria escreverá martelo.

Tenho uma amiga/familiar que ganhou um concurso com a seguinte frase, que vos deixo para pensar:

“Quem diz que o melhor amigo do homem é o cão, é porque nunca leu um livro!”

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Semântica

A nossa língua tem várias particularidades que a tornam única. Como o povo Português é um povo muito versátil e inventivo, a utilização que faz da sua língua torna-a ainda mais peculiar. Deve ser uma das línguas mais propicia á existência de várias interpretações possíveis para a mesma frase.

Um dos grandes problemas da nossa justiça, para além desta não ser cega e surda como deveria ser, é o facto de estar escrita em Português. Isto gera as mais diversas leituras e interpretações que permitem que tudo seja possível, tais como o facto de vários juristas ganharem dinheiro apenas porque dizem algo diferente dos anteriores, obviamente sobre o mesmo tema.

Enganem-se os que julgam que fazemos algo que os outros não fazem. Os Ingleses, por exemplo, são exímios a brincar com as palavras, apesar do Inglês não ter a mesma versatilidade. Quem não se lembra daquelas famosas séries como os Monthy Python e o Sim Sr Ministro, por acaso percursores dos nossos Gatos?

Um dos termos que utilizamos muitas vezes para descrever este fenómeno é semântica. Ultimamente temos começado a assistir a um jogo político de semântica. E ainda vamos no princípio.

O nosso Orçamento de Estado para 2009 foi feito e apresentado, mas isso foi antes deste período mais conturbado em termos macro económicos. Por simpatia com os jornalistas “isentos” da Lusa, uso este termo ao invés de crise, o qual parece continuarem proibidos de utilizar. E obviamente que nesta conjuntura já está desajustado para a realidade actual.

Como é necessário um reajuste, têm vindo a terreiro os que contestam e que dizem ser necessário um Orçamento Rectificativo, aproveitando para considerar a situação como uma vergonha e falhanço deste governo. Os partidários do governo por seu turno dizem ser um mero ajuste por esta ou aquela razão e, tal não constitui motivo para lhe chamar Rectificativo. Tenho achado muito divertido as várias argumentações, todas elas embebidas numa semântica retórica digna da melhor das séries Inglesas.

Na prática não serve de nada, mas que é divertida a argumentação, isso é.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Mais um legado

“Era uma vez uma família, que se dava muito bem e que tinham muitos amigos, e havia a tradição de se juntarem muitas vezes. A pouco e pouco a família foi crescendo e apesar dos novos membros que entraram também saíram ‘velhos’ elementos, o que fez com que os laços da Família se tornassem menos coesos. No entanto 2002 trouxe a vontade de retomar o convívio e assim está inaugurada a Época de Almoços de Convívio (que se irá chamar ALMOÇO DE REIS em substituição do almoço de Natal) que de agora em diante deverá ser no Primeiro DOMINGO depois do Ano Novo.

Infelizmente nem todos podem estar presentes neste convívio, mas esperamos que os desistentes sejam poucos.

Tentámos criar um almoço a gosto, esperamos que se divirtam!!!

a organização
6 de Janeiro de 2002


Este foi mais um dos muitos legados da Ana ..... foi neste ano que se iniciou a tradição da família “baptista” se juntar, pelo menos uma vez por ano (para quem não sabe, o nome vem do lado da mãe da Ana). No seguimento deste almoço ficou decidido que seria no primeiro domingo depois do dia de reis e que seria rotativo, sendo sorteado quem organizaria o próximo. Este domingo que passou foi o 8º ano.

Este foi o texto original que colocámos na folha que fizemos, juntamente com a ementa. Este foi o meio que a Ana encontrou para que a família se juntasse toda ao mesmo tempo, pelo menos uma vez no ano. Esse obviamente dos anos em que conseguimos reunir o maior número de elementos.

Este ano por ironia do destino tinha ficado a Ana de organizar ..... e o almoço fez-se ..... apenas estamos todos muito mais pobres e tristes, mas o legado fica, e, no que depender de mim, meu amor, não deixará de se fazer ..... amo-te tanto ..... tenho tantas saudades tuas .....

Não é fácil transmitir ao filhão a mãe espectacular que tu eras, meu amor, mas espero que para além do que ele ainda se lembra, estes textos o ajudem a manter a tua memória e legado vivo ..... amo-te muito, meu amor!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A importância e sorte da escolha

Após descobrimos que a Ana estava grávida, e depois de toda a alegria, emoção e satisfação pela notícia tão esperada e desejada, veio à tona a nossa preocupação pela preparação e acautelamento do seu futuro. Sabíamos que as nossas preocupações com aquele ser que aí vinha estavam a começar e não mais acabariam.

De entre as várias escolhas e opções que tínhamos de fazer, e seguindo uma lógica de prioridade, uma das primeiras foi desde logo o pediatra que seguiria o João. Para além da importância inicial que o pediatra tem, estamos a falar de um médico para acompanhar o nosso filhão ao longo de 12 anos. Não encarámos a escolha de animo leve.

Depois de falarmos com várias pessoas sobre as escolhas que fizeram e o porquê, decidimos que teria de ter entre outras as seguintes características:
- Ter pelo menos 5/10 anos de experiência;
- Fazer urgência num hospital, preferencialmente público;
- Preferencialmente pertencer à rede de uma das nossas seguradoras;
- Termos referências sólidas e positivas;
- Estar disponível para uma consulta antes mesmo do João nascer;
- Criarmos empatia com ela.

Após 3 a 5 meses de pesquisa e consulta – não consigo precisar quantos meses foram, mas foi por aí – acabamos por ficar com uma lista reduzida de pediatras. O nome daquela que viria a ser a pediatra do João acabou por ser inicialmente uma referencia dada pelo obstetra da Ana. Reunia todas as características acima referidas.

Após a tal consulta em que tivemos uma conversa muito franca, ambos concordámos que a escolha estava feita. E, até agora, tem provado ter sido uma excelente escolha. O meu amor tinha uma assertividade impressionante! Como tenho saudades das nossas escolhas conjuntas, depois de muito conversarmos ..... as nossas conversas ..... que saudades tuas, meu amor ..... amo-te tanto!

Hoje tive mais uma prova de como acertamos.

O João ficou com febre no colégio na quarta-feira, tendo mesmo sido necessário darem-lhe um comprimido. Como continuou com febre à noite, tive de lhe continuar a dar algo para baixar a febre e ontem não foi às aulas. Sempre fomos da opinião que antes de 48h não se justificava ir a uma urgência, porém, como ontem à tarde a febre não só não cedia, como era cada vez mais alta e num menor intervalo de tempo, assim como começaram a surgir outros sintomas tais como rouquidão, expectoração e afins, decidi que o melhor era recorrer a aconselhamento médico.

Como sempre fomos pessoas ponderadas, a médica já nos tinha dado o seu contacto directo (telemóvel) e, como ele apenas foi utilizado anteriormente em duas ocasiões e sempre com uma razão válida, a atenção é outra. Para não ser inconveniente, enviei um SMS com uma brevíssima explicação do panorama e a pergunta se lhe poderia telefonar. Pouco depois de receber o ok, entrei em contacto directo explicando o caso, tendo o cuidado de dizer desde quando ele estava assim e o real estado na altura do telefonema. Por sorte, ela estava de serviço nas urgências de uma unidade particular e, face ao que lhe transmiti, ela disse-me para ir lá ter, o que fiz de imediato.

Depois de ter feito a admissão e antes de fazer a triagem, disse o nome da médica que assistia o João e que ela já estaria á espera dele ..... o que a senhora já sabia pois disse-me logo que já estava avisada pela médica e que entraria logo a seguir. Dez minutos depois tinha o diagnóstico feito e o João medicado ..... bem diferente das pelo menos 5 horas de espera de uma qualquer situação normal num qualquer hospital público. Esta comodidade para o nosso filhão não tem preço!

Indiscutivelmente até agora foi uma escolha acertada ..... pessoalmente gosto muito de usar o ditado “trabalhei muito para ter sorte” ..... e aqui volta-se a aplicar.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Amizade em tempo de crise

Os momentos de crise têm por inerência associada uma carga negativa muito elevada, porém, são igualmente momentos únicos para percebermos as nossas convicções, os nossos limites, as nossas capacidades e principalmente, quem são os nossos verdadeiros amigos. Por outro lado, assistir a um amigo passar por esses momentos gera em nós uma luta interna. Em nós trava-se a batalha do nosso egoísmo versus a nossa noção de solidariedade. Ajudamos ou assistimos?

A eterna batalha épica entre o nosso lado bom contra o nosso lado mau. E nos dias que correm, onde vivemos a correr, esta luta pode passar quase sem darmos por ela ..... basta estarmos demasiado concentrados em nós e no nosso pequeno umbigo. Face à velocidade com que nós vivemos a nossa vida hoje em dia, isto acaba por ser invariavelmente o mais frequente.

Uma crise pode ser uma dificuldade financeira, um percalço no trabalho, um problema de saúde, uma crise matrimonial ou arrufo de namorados, enfim, pode ser uma série de situações. Dependendo da situação e da gravidade do mesmo, o impacto em nós ou alguém nosso conhecido pode variar de uma forma imensa. E às vezes uma pequena e simples palavra ou conversa de conforto faz tanta diferença!

Se pararmos e pensarmos um pouco, fazendo uma introspecção interna, bem ao fundo de nós, descobrimos que temos vários amigos à nossa volta que estão a passar por uma qualquer forma de crise. A sua crise. O problema é que o fazendo, temos de decidir entre sermos egoístas e pensarmos apenas em nós ou sermos solidários por quem sofre. Costuma-se dizer que o Natal é uma época de darmos um pouco de nós mas, porquê parar no Natal? Qual a diferença desta quadra para Janeiro ou Fevereiro?

Para que este texto não se transforme em algo parecido como um conto de fadas, ou pior ainda, num texto do socialmente correcto, dou um exemplo inverso que me “magoa” sistematicamente. Em Outubro passado tive de ajudar financeiramente uma pessoa num momento de dificuldade e, quem leu o texto (link) pensará que a pessoa em causa não devolveu o dinheiro na semana seguinte mas no final do mês pois eu disponibilizei-lhe essa possibilidade ..... pois é ..... não só ainda não voltei a ver o dinheiro, apesar do tempo que já passou para quem pagaria na semana seguinte, já para não falar no subsídio de Natal que ela entretanto já recebeu, como a pessoa em causa não teve sequer a dignidade de me dar uma única palavra sobre o assunto ..... nada de nada ..... nem um simples “ainda não consegui reunir o dinheiro, posso ficar a dever mais X tempo?” ..... já para não dizer “desculpa, mas isto está mesmo mal .....”. Eu sei que a Ana dizia que eu tinha jeito para padre, mas daí a ser a Santa Casa da Misericórdia, vai um longo trajecto.

Infelizmente são situações como esta que nos fazem ser cada vez mais egoístas e menos solidários, o que é pena!

Voltando ao socialmente correcto e para finalizar em beleza, não posso terminar um texto destes sem uma palavra de grande apreço para aqueles que dão de si aos outros. Aqueles que nestes dias frios saem do conforto do seu lar e vão ajudar os outros, particularmente os que andam por aí a confortar os sem-abrigo das nossas cidades. É preciso ter uma noção de solidariedade muito desenvolvida para o conseguir fazer!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O custo de investir

Vamos entrar num ano completamente atípico. Começa com uma grande indefinição, entre estarmos a começar, a meio ou a sair de uma crise mundial e, acabará só Deus sabe como. De permeio temos um ano que se apresenta diferente.

Depois de um período de austeridade onde conseguimos cumprir a redução do nosso défice abaixo dos míticos 3%, havendo obviamente aqueles que defendem que se poderia ter conseguido fazer muito melhor com coragem política, já para não falar de competência política e, outros que defendem que se foi além do que se devia ter ido e com um custo demasiado elevado para os Portugueses. E depois de tudo isso, devido à crise mundial e, não esquecer, em ano de eleições, mandamos tudo para o lixo ..... que esforço inglório!

Algo que tem ficado esquecido é a nossa real taxa de crescimento. Temos vindo a crescer menos que a média dos restantes países da Europa e isso tem decorrido ao longo de diversos governos de diferentes cores e convicções. Neste “saco” incluo o PS, o PSD e o PP e, a única coisa que é comum a todos eles, é a desculpa ..... “não podemos fazer melhor porque o governo anterior deixou isto num caos e temos de sair do buraco primeiro” ..... e nunca saímos. Esta crise mundial será naturalmente (e infelizmente) usada como pretexto para mais um péssimo desempenho nesta matéria. Será que ninguém tem a arte e o engenho para nos colocar a crescer a um ritmo superior à média?

Uma das grandes discussões que deveremos ser brindados é o tema dos investimentos. Dum lado temos os defensores de não se fazerem investimentos, mais uma vez com a desculpa da crise e, do outro lado, temos os defensores dos grandes investimentos públicos. Neste pacote estou a incluir o novo aeroporto, o TGV, novas auto-estradas e projectos de custo muito elevado e que transitaram entre os vários governos até à sua finalização. Neste aspecto tenho 4 comentários a fazer:

Comentário 1: Mais do que comprovado pelo Tribunal de Contas, as nossas obras públicas e grandes investimentos têm tido derrapagens financeiras elevadíssimas. Num cenário de crise, deveriam ser garantidos e publicitados os mecanismos de salvaguarda desta nossa tradição. Para não citar mais, vem-me à cabeça o Túnel do Rossio, a Casa da Música e todas as demais obras do Porto capital da cultura, o metro no Terreiro do Paço e a ponte em Guimarães. Antes de se fazer o que quer que seja, é fundamental garantir o preço e valor final, seja com multas ou competência de gestão. O ideal será ter as duas.

Comentário 2: Particularizando uma das obras, o TGV é algo que me assusta. Neste momento apenas 8 países da União Europeia têm TGV e nós vamo-nos juntar a esse grupo, a que não pertencemos ao nível de poder económico. É estranho. Se somarmos a isto o facto do TGV entre Lisboa e Porto ter tantas paragens que assim que está a acelerar já estará a travar, questiono-me o que significará para nós a sigla TGV. Se compararmos este novo brinquedo com o Alfa Pendular, chegamos à constatação que se ganha 20 minutos pagando-se muito mais. Novamente estranho. Para compor o ramalhete, de referir que se tem vindo a trabalhar na quadruplicação das linhas férreas no Norte do país e para este brinquedo serão feitas novas linhas. Será que o estudo económico está feito com dados realistas? Estatisticamente um projecto tem o retorno que quisermos, dependendo apenas dos dados e dos pressupostos escolhidos ..... mas o custo é do bolso de todos nós.

Comentário 3: Temos vindo a ser bombardeados com diferentes valores para o investimento nestes projecto, dependendo da posição do interlocutor face aos mesmos, porém, nada tenho ouvido sobre quanto nos irá custar depois manter estes mesmos investimentos. Dada a natureza destes e a situação do nosso país, tais investimentos têm dois custos distintos – financeiros e operacionais. No caso do primeiro, teremos de pedir dinheiro para construir e, tal como a CGD recentemente descobriu, o dinheiro que há é pouco e caro, logo, os custos em juros serão astronómicos e claramente serão diferentes dos que inicialmente estudados. O custo operacional está relacionado com o manter as estruturas em boas condições de funcionamento, tanto ao nível de material como de recursos para assegurar tal propósito. Quando custará ao bolso de todos nós? Lisboa tem uma das maiores taxas de auto-estradas da Europa e, estas têm de ser mantidas. Novamente a pergunta, quanto custa agora e quanto custará no futuro? Qual o peso contributivo para um défice que não pode superar os 3%?

Comentário 4: Todos estes projectos decorrem há já muito tempo e apenas ficarão finalizados daqui a muitos anos, sendo previsível que passem pelas mãos de diferentes governos de partidos distintos. Assusta-me não haver pactos de regime para garantir que são feitas as obras e, mesmo assim, assusta-me a credibilidade dos nossos governantes, quando recentemente assistimos ao rompimento de um desses pactos apenas porque a direcção de um dos partidos mudou. Assusta. Como mau exemplo deixo a área da saúde, onde um governo lançou um programa de Parcerias Público-Privadas, supostamente para a criação de 10 novos hospitais e o governo seguinte apenas não matou esse processo porque já estava a decorrer e teria custos muito elevados. Mas não matar o processo não quer dizer que este não possa ser posto à velocidade do caracol, com elevados custos para as empresas privadas que decidiram aceitar o repto e concorreram. Quanto é que já foi gasto por estas empresas financeiramente, uma vez que será difícil quantificar o custo da dispersão dos seus recursos? ..... aposto que já daria para construir 2 hospitais ..... e apenas 1 projecto realmente arrancou. Que desperdício!

Neste aspecto dos investimentos, faço uma ressalva à parte do discurso do Cavaco Silva sobre o apoio às nossas empresas exportadoras, pois são essas que podem ajudar a balançar a nossa balança transaccional e, por conseguinte, uma série de factores de grande importância macro económica.

Qualquer economista dirá que investir é fundamental e, entre utilizar recursos financeiros na despesa corrente ou investir, todos deverão optar pela segunda. A grande questão é num ambiente de crise o critério de como se investe, quais os reais benefícios e qual o custo de manter esses investimentos. Tudo isso é dinheiro que neste momento é um dos bens mais escassos que existem ..... pelo mesmo disponível.

Ao sabor do vento

Enquanto a generalidade das pessoas contava o tempo que faltava para entrar em 2009, com grandes planos, objectivos ou apenas muita vontade de um novo ano, eu contava ansiosamente o tempo que faltava para que o 2008 terminasse ..... desaparece-se ..... acabasse ..... e angustiantemente ele terminou ..... até que enfim!

Ao contrário de toda a minha vida, em que o novo ano sempre foi visto como uma esperança, com este ou aquele objectivo ou fundamentalmente desejo ..... principalmente expectativa de resolução de todos os nossos problemas de saúde, este ano começo de uma forma completamente diferente ..... nada espero ou almejo ..... simplesmente nada.

Fazendo uma simples analogia, estou como um barco à vela que vai ao sabor do vento e corrente, sem rumo ou porto certo ..... apenas sigo, tentando não meter água ..... apenas isso!

Se chegar ao fim de 2009 com:
- o meu filhão continuar saudável e espectacular, que é um orgulho dos pais e o meu grande amigão;
- continuar a ter vários verdadeiros amigos, onde incluo alguns familiares;
- num ano de crise, chegar ao fim do ano com emprego e que pague o meu vencimento.

Se chegar ao fim do ano assim, será um bom ano .....