terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Um ombro amigo

Por muito forte que sejamos ou aparentemos ser, todos acabamos por necessitar de falar com alguém. O peso das nossas preocupações ou pensamentos, por mais ridículas que sejam, podem tornar-se grandes demais para carregar sozinhos. É nessas alturas que precisamos de um ombro amigo.

Alguém que nos escute. Alguém com quem sabe bem falar, sem que para isso exista uma razão especial. Pode ser pelo timbre de voz que nos acalma e tranquiliza, pode ser pela serenidade que nos envolve, ou então, sem razão aparente, aquele alguém com algo especial. Aquela pessoa em quem se confia, mesmo não a conhecendo bem. Aquela pessoa a quem dizemos tudo ou quase tudo que nos vai na alma. Aquela pessoa que nos ajuda a libertar o peso ..... não precisa de ter uma solução ou conselho ..... apenas de saber ouvir ..... e calar.

Um ombro amigo não é propriamente um padre para ouvir e dizer amén, é alguém que sabe que há momentos em que tem de ser o nosso grilo falante, a voz que nos chama à razão quando o tem mesmo de fazer, sem juízos de valores ou preconceitos. Acima de tudo isso, alguém que nos ouve e em quem confiamos para o fazer.

Recordo com ternura o meu amigo Neco, o meu pastor alemão que era como um irmão para mim e com quem conversei muito. Tirando a parte de opinar sem juízos de valor ou falsos moralismos, cumpria todos os requisitos de um ombro amigo, tendo a grande vantagem de quando me sentia mais triste e carente, me poder dar uns mimos e lambidelas sem que tal fosse considerado abichanado ou ridículo. Um amigo.

Por mais determinado que sejamos, a vida coloca-nos sempre questões para os quais não existe apenas o sim e o não. Os caminhos por vezes parecem labirintos e não existe sinalética ..... pequenas migalhas no chão ou indícios do caminho certo ..... tão certo como não haver certezas ..... é quando precisamos de um ombro amigo ..... o peso dividido por dois, mesmo que momentaneamente, é bem mais suportável.

Alguns têm a sorte de juntar o ombro amigo ao amante. Outros têm ambos em separado e infelizmente vários não têm um, ambos ou já tiveram e perderam. A primeira versão é bem mais simpática ..... bem mais desejável .....

Porque será que regra geral as pessoas falam melhor com estranhos? Tenho a ideia de que será não por confiança, mas apenas porque em princípio essa pessoa não poderá usar isso contra nós ou contar às outras pessoas com quem convivemos.

Felizes aqueles que têm um ombro amigo em quem confiam para conversar.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Pai Natal

Todos nós começamos por acreditar na magia do Natal quando somos pequenos. Durante muito tempo acreditamos piamente naquele simpático velhote de barba branca e vestes vermelhas que distribui presentes. Vemos as montras iluminadas e luzes por toda a parte, e achamos que o mundo está em festa. Tentamos nos últimos dias não fazer asneiras, ou pelo menos que ninguém perceba que as fizemos para receber presentes.

Algum tempo antes, tentamos meter uma lista infindável de presentes numa única lista para enviar ao Pai Natal, com destino á sua fábrica de brinquedos no Pólo Norte, lá na Lapónia. E depois é a espera ..... a esperança de ao abrir encontrar o que tanto se deseja. O desejo que os pais deixem fazer a lista ..... toda a lista.

Aos 10 anos de idade, o filhão está naquela fase pela qual já todos os adultos passaram. Nesta idade, a generalidade dos miúdos já não acreditam, estão cépticos ou no mínimo desconfiados ..... mas para quê arriscar? No meio de tantos e tantos a dizer que o Pai Natal existe e que não existe, em quem acreditar?

Com o advento das novas tecnologias, grande aliado do deixar tudo para a última, este ano o pedido do filhão foi por mail ..... tal como havia ido no ano passado ..... mais que a forma, o que interessa é o conteúdo. E o mail foi com a lista do pai e do filho.

São os tempos modernos ..... não tarda vamos ter um site do próprio Pai Natal com a lista de compras e onde os pais vão poder colocar as boas e más acções ..... deve estar para breve ..... modernices.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Perguntas idiotas, respostas cretinas

Todos nós temos bons e maus colegas. Alguns têm a sorte de ter excelentes ambientes de trabalho, que facilitam a vida e na minha opinião acabam por beneficiar as organizações. Pessoas felizes são sempre mais produtivas.

Mas todos nós também acabamos sempre por ter cretinos como colegas, ou mesmo colegas que não sendo cretinos, não são bons colegas. E neste rol estou a considerar desde o modesto porteiro ao administrador. Tal como a idade não é um posto, a cretinice não escolhe posição hierárquica. Um mau colega é horrível ..... e quando se julgam engraçados, ainda pior.

Durante o nosso dia de trabalho, acabam sempre por existir momentos em que nos apetece deixar o politicamente correcto. A tentação é muitas vezes grande e temos de nos lembrar que a nossa liberdade termina onde começa a dos outros, mas tudo tem um limite.

Nos dias que correm em que somos bombardeados por mails, alguns roçam o absurdo, havendo por vezes a tentação ..... e a carne é fraca ..... mas boa ..... de acabar por dar a devida resposta ..... a uma pergunta idiota, nada como uma reposta cretina.

Pode não ser bonito ou mesmo ser politicamente incorrecto ..... mas que sabe bem, lá isso sabe!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A crise e o Natal

Pese embora a crise seja ainda uma realidade, a verdade é que os centros comerciais estão cada vez mais cheios. E as pessoas não se limitam apenas a olhar para as montras. Pela visão nos corredores e nas ruas com lojas, parece mesmo que a crise é algo que não existe em Portugal.

Para quem gosta de oferendar, a questão é mais como conseguir dar prendas com o orçamento disponível, esperando que quem recebe atente mais ao acto que ao valor em si. Para quem não gosta de dar prendas, a questão é mais como entrar numa única loja e comprar tudo o que se tem para dar. Várias pessoas num mesmo espaço, cada uma com um objectivo diferente das restantes.

O que mais aprecio destes dias são mesmo as conjecturas das crianças, que na sua eterna dúvida de se o Pai Natal existe ou não, vão elaborando teorias ou frases soltas na esperança de uma afirmação dos pais. A dúvida de se não acreditarem terão ou não prendas. A alegria de pedir prendas ..... o desejo de ter prendas, regra geral muito mais do que vão receber.

É também uma época em que as pessoas em dificuldades cometem o erro crasso do endividamento, regra geral para manter as aparências. Mas a crise é bem visível e global, não havendo razão para tal. Se no resto do ano já o fazem, no Natal essa “necessidade” torna-se ainda maior.

De um momento para o outro a crise desapareceu ..... é Natal!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Separar as águas

Por esta altura temos assistido nos states a mais um deplorável festival de falsos moralismos. Depois de ter conseguido manter a sua vida privada nessa situação durante muito tempo, o Tiger Woods acabou por claudicar.

Os jornais e revistas procuram desesperadamente mulheres com quem ele tenha dormido enquanto era casado. Cada publicação tenta provar se ele dormiu 20 ou 21 vezes com esta e apenas 17 com aquela. Sendo o golf um jogo composto por tacos, bolas e 18 buracos, procura-se usar estas palavras e, enquanto não aparecerem 18 mulheres, acho que as notícias não terminam ..... bom, à data de publicação deste post já está nos segundos 9 buracos ..... e vão 10.

Deixou de interessar o jogador maravilhoso que é ou o seu palmarés. Não interessa as suas acções filantrópicas. É irrelevante que seja uma questão do foro familiar. Estão a denegrir os seus feitos pelas suas acções fora dos relvados. De acordo com o projecto apresentado por Joe Baca, Woods que merecia receber a Medalha de Ouro do Congresso americano, por provar que o golf é um desporto acessível para todas as pessoas, independente de classe social, género, ou raça ..... já não merece. É como se tudo o que tem feito deva ser esquecido porque sendo casado, prevaricou. Pagou o preço de não ser presidente e não o ter feito na sala oval.

Sejamos honestos ..... cada vez isto acontece mais vezes ..... o estilo de vida e sociedade em que vivemos propicia isso. O individualismo e desejo de carreira a todo o custo fomenta estes acontecimentos. Deixou de ser “defeito” ..... nos tempos que correm é “feitio” mesmo. É assim, pura e simplesmente. As pessoas descobrem que podem ser mais felizes “ao lado” ..... ter o afecto, carinho e atenção que merecem ..... e na generalidade das vezes são-nos.

Se por esta altura os religiosos estiverem indignados, pergunto quantos não usam contraceptivos ..... se é para seguir as normas da igreja, que não sejam apenas as que dão jeito ..... ou é ou não é!

Talvez por ser jogador de golf e admirar as qualidades desportivas do Tiger Woods, custa-me muito assistir a este linchamento. Deixou de ser exemplo desportivo segundo vários. Apesar de ao contrário de outros não ter cometido nenhuma ilegalidade no seu desporto, não ter usado substâncias dopantes ou ilegais, está a ser crucificado. Apenas enganou a mulher ..... algo que acontece a cerca de metade dos casais, por acaso. O falso moralismo americano no seu melhor. Segundo os marketers, o facto de ter pedido desculpas públicas do que não especificou, salvou-lhe uns milhões ..... salvou-se o dinheiro ..... ou metade dele.

É preciso saber separar as águas ..... o que é do âmbito do desporto no desporto e o que é pessoal no âmbito pessoal.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Para além do conforto

O poder da internet e das redes sociais é imenso, pois a velocidade de comunicação estonteante e o poder de mobilização podem fazer milagres. A par da comunicação social, quando usadas para o bem, ambas podem efectivamente conseguir milagres.

Periodicamente aparecem campanhas de mobilização para dadores de medula, como foi o caso da Ana ou por estes dias é da Camen de 4 anos (link). A sua única e ténue esperança é encontrar um dador compatível, assumindo que a quimioterapia consegue dar-lhes a esperança de poder usar essa única alternativa de cura. Mas sem um dador não existe futuro ..... não existe esperança ..... o horizonte dos amanhãs vai encurtando ..... a única cura possível está em encontrar esse elixir da vida ..... um dador compatível.

O “palavra-puxa-palavra” pode mobilizar dezenas, centenas ou mesmo milhares de pessoas, mas quando a acção obriga a mais do que reenviar um mail ou numa outra janela fazer um donativo, aí é que muitas vezes a bondade humana termina. Muitos são extremamente solidários mas desde que isso não extravase a sua margem de conforto. Quando toda a sua ajuda está no dedo indicador em cima do rato.

Infelizmente assisti no caso da Ana a várias pessoas, incluindo amigos, que por muito boa vontade demonstrada, ainda hoje não são dadores. A Ana já partiu há quase dois anos e eles ainda aguardam algo para ser dador. Podiam já ter salvo alguém, incluindo a Ana e ..... nada. Terão de viver com esse “peso” na sua consciência. Desta lista estou a excluir os que tentaram e por razões médicas ou de critérios economicistas foram excluídos ..... é horrível querer ajudar e não poder. É frustrante.

Ser solidário e dizer presente é mais que se emocionar com a história de uma criança de 4 anos, fazer uns donativos ou enviar os mails. Ser solidário e humano é saber onde se pode ir ser dador e efectivamente ir lá. Ter esse trabalho. É mais do que enviar um mail a dizer que queremos ser dadores e ficar sentados à espera que as boas acções venham bater à porta.

Estando a decorrer no twitter uma angariação de dadores, a par do artigo da Lux, espero que a Cármen possa ter uma esperança ..... que as pessoas efectivamente façam mais que enviar mails e posts ..... que tenham o trabalho de poder salvar vidas .....

Olhem sempre para o lado FIXE da vida!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A verdade da mentira

Qualquer mentira só é boa numa única situação ..... não ser descoberta. Tudo o resto são meros exercícios de retórica. Para ser consistente convém que tenha dois ingredientes básicos ..... um fundo de verdade e uma superficialidade quanto baste.

O episódio das escutas do Sócrates tem servido para alimentar várias polémicas, nomeadamente o facto dele saber ou não do negócio da TVI. E isso tem tentado ser utilizado pela Manuela Ferreira Leite, de uma forma pouco inteligente na minha opinião. Mas não tão pouco inteligente como a resposta do PS.

Acho que a fuga de informação dos processos é tanta que ninguém acredita que tudo não se saiba. Como naturalmente se torna previsível, qualquer escuta ao Sócrates interessa especialmente aos seus adversários, especialmente ao PSD ..... parece-me natural. O discurso da Manuela Ferreira Leite tanto pode ser de quem ouviu as escutas como de quem quer insinuar algo. O ridículo foi o partido do governo vir falar no assunto, dando-lhe mais importância do que isso tem ou teria a não ser verídico.

Cada um fez o seu papel institucional, defendendo a sua verdade ou a realidade da sua mentira. Uma prática normal. O estúpido foi o PS na voz do seu porta-voz vir dizer que a MFL falou como falou por ter tido acesso às escutas. Torna-se irrelevante se teve ou não, até porque poucos acreditam no segredo de justiça. O relevante foi essa afirmação em si pelo que ela comporta. Dito daquela forma, isso apenas significa apenas uma coisa ..... o Sócrates falou isso e ficou gravado ..... se assim não fosse o ataque do PS seria “está a inventar uma história” e não “só pode ter tido acesso às escutas” ..... a assim se mata uma mentira.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Uma ultima corrida

O ano está prestes a terminar. Constituindo isso um marco importante, nas nossas cabeças vamos fazendo uma retrospectiva do ano e pensando em tudo o que temos em “aberto”. Surge-nos o ímpeto de terminar com as pontas em aberto para se iniciar um ano novo, e com ele a esperança de uma nova etapa.

Tal como o fazemos na nossa vida pessoal, também nas empresas isso se passa. O orçamento é talvez a face mais visível, onde se tenta fechar os gastos ou vender os projectos que faltam para cumprir os objectivos. O stress deste período é em muitas empresas ou áreas de uma empresa asfixiante. Nota-se isso no comportamento de várias pessoas.

De um momento para o outro o ano está a terminar e faltam poucos dias. As decisões que foram sendo pensadas urgem em ser tomadas, podendo nalguns casos levar a precipitações. Embora seja mais um de doze meses, a existência de feriados a meio da semana, neste ano propicio a “pontes”, assim como uma época de festas como o Natal e a passagem de ano, tornam o mês quase reduzido a 2 semanas ..... encurta.

E começa então o esforço para o final ..... a ânsia de terminar o que achamos que precisa de ser terminado. A nossa última corrida do ano ..... o último esforço.