sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Bons exemplos


Portugal para além da bandeira tem alguns símbolos pelos quais é conhecido. Ainda não dista muito o tempo em que tínhamos o Eusébio e a Amália, sendo que dada a morte desta última reside apenas o fado que a tornou famosa. Fado esse que é também sinónimo e estigma de um povo, que sucumbe ao negativismo do seu triste fado. E estes são os nossos maiores símbolos além fronteiras ….. o futebol e o fado.
 
O povo Português porém anda muito distante do seu país. Após um período de descolonização, seguiu-se um êxodo para o estrangeiro, o que nos fez entrar num período de vergonha nacional. Em relação ao primeiro é fácil perceber, porém, em relação ao segundo é difícil compreender. Éramos um povo atrasado em termos educacionais em relação ao resto da Europa, pelo que naturalmente os nossos emigrantes apenas poderiam aspirar a empregos de baixa qualificação. Era natural, tal como assim acontece agora com os imigrantes oriundos dos países de leste, Brazil e países africanos. É a lei natural da qualificação e da empregabilidade. Mas nunca perdoámos isso aos Portugueses que embarcaram nessa aventura, como se eles fossem culpados do que era Portugal nessa época.
 
Durante muito tempo Portugal quis o dinheiro dos seus emigrantes, mas abominou-os por vários motivos ….. lá fora eram trabalhadores de baixa qualificação e cá dentro eram novos ricos que despertavam a inveja alheia, outra característica marcante do nosso povo. Temos dificuldade em aceitar quem tem sucesso, especialmente se é fruto do seu trabalho. E os nossos emigrantes acabaram por sofrer dentro e fora do seu país. Não me recordo de nenhum Presidente que tenha pedido desculpas por essa nossa postura.
 
Fruto de uma onda surgida nesse período, esteja ou não isso interligado, criou-se uma adversão ao que era Português. Com a abertura à Europa e ao acesso aos produtos que anteriormente apenas tínhamos por via dos emigrantes, gerou-se a fase “o que não é Nacional é que é bom”. Nada do que era Português era bom e isso infelizmente generalizou-se. Contrariamente a muitos países que adotaram medidas protecionistas aos seus interesses de forma a mais rapidamente melhorarem a sua qualidade, o que gerou uma cultura de valorização do que é seu, em Portugal assistiu-se ao inverso, o que iremos pagar durante muitas gerações. É verdade que neste momento isto já não é a realidade reinante, porém, o mal está feito e mesmo que se mude, temos um atraso muito grande para recuperar. Voltando à linguagem futebolística, demos meio jogo de avanço e agora a tática tem de ser muito mais agressiva.
 
Quando as mentalidades começaram a mudar, foi preciso o futebol para produzir a disrupção que faltava. E o mais impressionante é que foi necessário um Brazileiro para nos abrir os olhos. Se hoje estamos mais próximos do nosso país e os nossos filhos sabem cantar “A Portuguesa”, o nosso Hino Nacional, devemo-lo ao Luis Filipe Scolari. Goste-se ou não, essa é a verdade. Foi o então selecionador no Euro 2004 que o conseguiu. Honra lhe seja feita. A ele o meu obrigado.
 
Hoje apareceram notícias que davam como eminente a condecoração do Cristiano Ronaldo pelo Presidente da República. Inteiramente de acordo. E estou não apenas pela notoriedade que ele proporciona ao nosso país, parco de grandes nomes no desporto e tem um logo no desporto rei, mas acima de tudo pelas características tão pouco Portuguesas que o mesmo possui. É um exemplo e honestamente gostaria que fosse mais utilizado como exemplo que é, assim como fossem enfatizadas as características que o levaram a chegar onde chegou.
 
Estamos perante um miúdo que tal como muitos sempre quis ser jogador de futebol. Até aqui nada de novo, porém, desde muito cedo que a sua vontade de ser o melhor não se ficou apenas pela garganta, característica típica de muitos povos que não apenas o nosso. Desde muito cedo que ele interiorizou o que era o seu sonho e efetivamente lutou por ele. E quando o conseguiu, não ficou a “viver á sombra dos seus louros”, continuo sempre a querer sempre ser melhor, e isso é indiscutivelmente algo que deve ser apreciado, valorizado e enfatizado aos nossos filhos ….. querer sempre ser melhor e fazer por isso.
 
Em termos de profissionalismo, num mundo de facilitismo e de vedetas, ainda hoje é dos primeiros a chegar aos treinos, dos mais aplicados durante o seu decorrer e dos últimos a sair. E ao contrário do típico Português, não é o último porque ficou à espera da hora da saída para começar a trabalhar para se mostrar ao chefe ….. não ….. é dos últimos a sair porque continua a tentar melhorar a sua técnica. Isto é de louvar e referir várias vezes para que sirva de exemplo. Valorize-se essa característica.
 
Se as notícias que hoje apareceram forem verdade, não só é mais que merecido, como deveríamos aproveitar para valorizar o que ele é dentro de portas. Mais do que ele representa para a nossa imagem externa, o exemplo que ele pode ser internamente.
 
Parabéns ao Cristiano Ronaldo e muitos sucessos pessoais e coletivos, especialmente os que envolvem a seleção nacional que a bandeira que ele tem ao peito é um símbolo de todos nós. E nós precisamos de acreditar mais em nós.