terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A nossa primeira conversa

Tal como tenho vinda a referir ao longo dos textos deste blog, tenho (e tínhamos) um orgulho muito grande no nosso filhão. Entre muitos adjectivos que posso utilizar para o caracterizar e caracterizar a relação que temos é que, mais do que pai e filho, somos amigos. Verdadeiros amigos.

Embora esta relação ajude e facilite várias situações, existem infelizmente conversas que o João ainda não se sente à vontade de ter. Tal como não gosta de ver beijos ao vivo ou na televisão, as questões da sexualidade também o deixam um pouco desconfortável. Como pai e amigo, tenho paulatinamente tentado chegar ao assunto.

Comecei com pequenos comentários ou perguntas, lançando pequenas frases ou explicações de forma curta e sucinta. Sem nunca forçar, fui fazendo perguntas genéricas muito relacionada com as aulas de biologia. Aos poucos e poucos, as perguntas ou afirmações foram sendo mais focalizadas, mas sempre sem insistir muito. Esperava a melhor ocasião.

Por estes dias, e não consigo especificar mais que isso, andávamos a fazer algo e passamos por uma campanha de angariação de fundos, por acaso relacionado com a SIDA. Não sendo um assunto novo, fomos falando sobre isso de uma forma descontraída à medida que andávamos pela rua. Para além de um folheto e um laço de lapela, recebemos uma fita e uma caixa de preservativos, todos eles recolhidos pelo João. Propositadamente deixei a caixa no carro.

Ao voltarmos ontem para casa, o João voltou a reparar na caixa e começou a fazer perguntas. Aproveitando essas perguntas, fomos falando do tema. No início a coisa parecia bem encaminhada até que naturalmente ele se retraiu. Por momentos pensei que não iríamos avançar mais. Depois de lhe lembrar que éramos amigos e os amigos falavam nestas coisas, a conversa voltou a decorrer normal e descontraidamente.

O João perguntou se os preservativos tinham validade e quando lhe disse que sim, começou a procurar essa data. Como esta apontava para 2013, ele fez as contas e descobriu que teria 14 anos ..... e perguntou-me se nessa idade já estaria pronto ..... se já deitaria sangue ..... com base nesse erro de género, tivemos uma longa e volto a frisar descontraída conversa, abordando tudo excepto o acto em si. Senti-me a cumprir o papel de pai.

A nossa primeira conversa ..... espero que ele continue a confiar em mim para ter mais.