domingo, 22 de março de 2009

Traumas que não se esquecem


Por muito fortes que sejamos emocionalmente, existe sempre algo que nos pode marcar profundamente e que temos dificuldade de ultrapassar. Sabemos que não faz sentido e que é uma profunda estupidez, mas é mais forte que nós. É estranho quando temos plena consciência disso e mesmo assim não conseguimos ultrapassar. Somos humanos.

Desde que conheci a Ana, a minha soul mate, passei a viver num paraíso. Todas as etapas do nosso namoro foram maravilhosas e foi com naturalidade que o filhão apareceu na nossa vida. A gravidez foi vivida em pleno pelos dois e tudo fizemos em conjunto, com excepção das aulas de hidro-ginástica para grávidas. E quando se rebentaram as águas, seguimos para o hospital onde passadas 14 horas de trabalho de parto, o João nasceu. Era mais uma estrela no paraíso.

Quando saí de ao pé da Ana para fazer telefonemas e ir-lhe comprar umas flores, a vida era perfeita ..... o difícil veio depois ..... quando cheguei de novo ao hospital, a Ana estava numa sala de observação e iam-lhe fazer um TAC ..... foi quando descobrimos o maldito tumor que iria definir o desfecho da nossa história de amor e da vida do meu amor ..... só me lembro que o choque foi tão grande que até fui vomitar. A Ana seguiu no dia seguinte para o hospital Egas Moniz (HEM) e o filhão ficou no Amadora-Sintra (HAS).

Foram dias difíceis em que começava pelo HAS para estar com o filhão, ia visitar a Ana (HEM) e voltava para estar ao pé do filhão, e depois para ao pé da Ana e depois para ao pé do filhão ..... já nem me lembro ao certo quantas piscinas fazia para conseguir estar com os dois. Felizmente a nossa memória apaga algumas coisas.

O resultado deste episódio foi que fiquei traumatizado com bebes recém nascidos, ao ponto de ainda hoje muito dificilmente os visitar. Mesmo que seja o meu sobrinho directo que já nasceu quase 10 anos depois ..... é muito difícil ..... faz-me lembrar o principio do fim do meu paraíso ..... dói muito.

São situações que nos afectam muito mais do que gostaríamos e que nos deixam intranquilos, uma vez que o nosso cérebro volta a reviver o nosso passado. Não nos lembramos de tudo nem muito menos dos detalhes, mas lembramo-nos da tristeza e do desconforto que sentimos.

A história mediática da inglesa Jade que sofria de cancro terminal (cólon do útero) e que hoje perdeu a batalha contra a morte é algo similar. Durante estas várias semanas lembrou-me constantemente todo aquele tempo que vivemos sabendo o fim que se aproximava. Foi doloroso quando ficou claro que não havia salvação possível ..... revivi novamente aquelas dolorosas sensações ..... havia filhos e houve um casamento ..... tantas similaridades .....

Tento reter na memória os momentos felizes que conseguimos ter e a grande vontade de viver que a Ana tinha ..... que força da natureza que tu foste, meu amor! ..... que saudades tenho de ti ..... como ainda te amo tanto!