segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A camada de ozono

Tal como o nosso planeta, também nas nossas empresas existe uma “camada” que impede uma visão clara e isenta da administração para o que se passa mais ao nível do terreno. E tanto pode ser ao nível dos directores como dos administradores nomeados pelos accionistas. Se isso é bom ou mau, já é outro post para um dia mais tarde. Um dia.

Muitas vezes dizemos que determinado elemento é demasiado “fraco” para ocupar o lugar que ocupa na organização, porém, muitas vezes acontece que quem está hierarquicamente em cima ou mesmo o próprio CEO não tem a mesma opinião. Às vezes não é um, mas sim vários.

As razões da existência destas situações são na maioria dos casos por puro desconhecimento da realidade, muitas meramente por questões de amizade, e outras ainda por falta de capacidade de arriscar fazer o que seria correcto do ponto de vista da organização. O facto é que acontece acharmos que as nossas empresas são geridas por elementos sem visão estratégica e/ou sem capacidade de gestão ..... que honestamente não sei o que é pior ..... e essa opinião é algo consensual mas em off-the-record ..... vulgo conversa entre colegas ..... mas a cúpula das empresas tem quase sempre uma ideia diferente. Várias vezes pergunto-me porque será assim?

O problema é que dependemos dos nossos empregos para pagar as nossas dívidas e educar os nossos filhos e, quando um CEO nos pergunta se tudo está bem, quem tem a coragem de dizer a sua opinião sobre a organização? Quem pode cometer o suicídio organizacional dizendo que determinado director ou administrador é na sua opinião incompetente? Como provar isso? Ainda há não muito tempo tive a experiência do receio das pessoas em dar a sua opinião. No dia anterior um colega meu fartou-se de dizer mal de uma coisa e quando lhe perguntaram sobre isso disse apenas ..... “acho que está encaminhado” ..... confrangedor do ponto de vista organizacional. Por receio de represálias (reais!), acaba-se sempre por alimentar essa camada de ozono.

Podemos até dar umas pistas, mas o CEO diz que vai assistir a uma reunião e para além dela existir, tudo corre bem, com acta e tudo. O episódio passa e tudo volta à normalidade ..... e o CEO não só não volta a repetir a experiência, como não pede as actas das outras reuniões para acompanhar ..... alguém iria ter muito trabalho a escrever contos se assim não fosse! Nas actas que efectivamente há, se ele fosse olhar para as acções a realizar que sistematicamente estão por realizar/terminar, também teria a sua piada.

Nas empresas dos nossos tempos, o que importa na realidade são os resultados, por muito que se apregoe outra coisa e, se mal ou bem esses elementos conseguem obtê-los, a coisa vai andando à boa moda portuguesa ..... no deixa andar. Para além disto, reconheço que é muito complicado que “lá em cima”, exista uma visão clara e isenta, até porque a realidade que conhecem é a que lhes é transmitida na maioria das vezes ou por estes elementos.

Em termos organizacionais o problema é o desgaste e a desmotivação dos restantes elementos, o que invariavelmente será prejudicial à organização. A dúvida é como é que se pode furar esta camada de ozono ..... e que coragem haverá de mudar algo se isso acontecesse .....

É como olhar para uma revista e ver um país pelas fotografias que nos mostram ..... a situação real não se conhece assim.

Um grande obrigado à minha musa inspiradora, esperando que as nossas tertúlias da hora do almoço continuem, e um obrigado ao meu amigo Ricardo Costa pelos elogios aos meus posts ..... considera isto mais uma provocação!