quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Mudam-se os tempos

Os tempos de privação têm o condão de testar as nossas crenças e convicções. Fazem-nos pensar se efectivamente acreditamos no que dizemos ou fazemo-lo por conveniência. Para quem se der ao trabalho de pensar em si, e assim o quiser, pode aproveitar para se tornar uma pessoa melhor. Ficar mais perto da pessoa que gostaria de ser ..... ou no mínimo, ser mais honesto.

Nestes tempos de grande agitação, o que hoje é verdade amanhã já não o é e vice-versa. Ainda está muito presente na minha memória a apologia que se fazia à Islândia e à Irlanda ..... e isso foi à três ou quatro meses. Até há semanas atrás, diziam os nossos reputados economistas que o governo se intromete demais nos nossos negócios e na nossa economia, o que concordo. Hoje em dia reclama-se a nacionalização de tudo e todos.

Até agora apenas ouvi o Basílio Horta a ter um comentário inteligente sobre esta matéria, ou seja, o governo apenas deve salvar as empresas que devem ser salvas. Por mais cruel que isso pareça, especialmente numa semana em que já vamos com notícias de despedimentos globais de quase 100.000 pessoas, essa é a mais dura e simples verdade.

Assim como a vida é feita de nascimentos e óbitos, a vida empresarial rege-se por princípios idênticos. Talvez seja mais parecida com a natureza no seu estado mais básico, ou seja, existem varias espécies mas apenas as mais aptas sobrevivem ..... a natureza encarrega-se de eliminar as fracas ..... e nós dizemos que é a natureza, o decurso normal da vida. Dizemos que pode não ser justo, mas faz sentido.

No mundo empresarial existem empresas cujo plano de negócios é viável e as que estão desde logo condenadas à partida. Nessas empresas distintas podemos encontrar gestores competentes e incompetentes. Por seu turno, estas empresas podem ter os produtos certos no momento certo e ao preço certo, ou falhar num ou em todos estes predicados. Como é fácil imaginar, umas irão sobreviver e outras não. A natureza (mercado) ditará as regras e fará a selecção.

Se a ordem natural das coisas sempre foi assim, e todos concordamos que é assim que deve ser, fará sentido resguardarmo-nos nesta crise para desatar a salvar tudo e todos?

Por muito mal que estejamos habituados a dizer mal do nosso país, a verdade é que temos um sistema social de suporte. Pode não ser o ideal mas existe. Na minha opinião, é este mecanismo que deve suportar o impacto negativo desta crise. Injectar dinheiro em empresas que não são viáveis não é salvá-las da crise, é apenas adiar o inevitável à custa de todos nós.

Gerir e governar não é tomar as medidas mais fáceis ou populares, é ter a coragem de tomar as decisões correctas, ou pelo menos, as que racional e tecnicamente parecem ser as mais correctas. Por difícil que seja, é preciso saber dizer não!

Concordo inteiramente com o Basílio Horta. Um país não é a Santa Casa da Misericórdia. Finalmente uma observação objectiva!