Vamos entrar num ano completamente atípico. Começa com uma grande indefinição, entre estarmos a começar, a meio ou a sair de uma crise mundial e, acabará só Deus sabe como. De permeio temos um ano que se apresenta diferente.
Depois de um período de austeridade onde conseguimos cumprir a redução do nosso défice abaixo dos míticos 3%, havendo obviamente aqueles que defendem que se poderia ter conseguido fazer muito melhor com coragem política, já para não falar de competência política e, outros que defendem que se foi além do que se devia ter ido e com um custo demasiado elevado para os Portugueses. E depois de tudo isso, devido à crise mundial e, não esquecer, em ano de eleições, mandamos tudo para o lixo ..... que esforço inglório!
Algo que tem ficado esquecido é a nossa real taxa de crescimento. Temos vindo a crescer menos que a média dos restantes países da Europa e isso tem decorrido ao longo de diversos governos de diferentes cores e convicções. Neste “saco” incluo o PS, o PSD e o PP e, a única coisa que é comum a todos eles, é a desculpa ..... “não podemos fazer melhor porque o governo anterior deixou isto num caos e temos de sair do buraco primeiro” ..... e nunca saímos. Esta crise mundial será naturalmente (e infelizmente) usada como pretexto para mais um péssimo desempenho nesta matéria. Será que ninguém tem a arte e o engenho para nos colocar a crescer a um ritmo superior à média?
Uma das grandes discussões que deveremos ser brindados é o tema dos investimentos. Dum lado temos os defensores de não se fazerem investimentos, mais uma vez com a desculpa da crise e, do outro lado, temos os defensores dos grandes investimentos públicos. Neste pacote estou a incluir o novo aeroporto, o TGV, novas auto-estradas e projectos de custo muito elevado e que transitaram entre os vários governos até à sua finalização. Neste aspecto tenho 4 comentários a fazer:
Comentário 1: Mais do que comprovado pelo Tribunal de Contas, as nossas obras públicas e grandes investimentos têm tido derrapagens financeiras elevadíssimas. Num cenário de crise, deveriam ser garantidos e publicitados os mecanismos de salvaguarda desta nossa tradição. Para não citar mais, vem-me à cabeça o Túnel do Rossio, a Casa da Música e todas as demais obras do Porto capital da cultura, o metro no Terreiro do Paço e a ponte em Guimarães. Antes de se fazer o que quer que seja, é fundamental garantir o preço e valor final, seja com multas ou competência de gestão. O ideal será ter as duas.
Comentário 2: Particularizando uma das obras, o TGV é algo que me assusta. Neste momento apenas 8 países da União Europeia têm TGV e nós vamo-nos juntar a esse grupo, a que não pertencemos ao nível de poder económico. É estranho. Se somarmos a isto o facto do TGV entre Lisboa e Porto ter tantas paragens que assim que está a acelerar já estará a travar, questiono-me o que significará para nós a sigla TGV. Se compararmos este novo brinquedo com o Alfa Pendular, chegamos à constatação que se ganha 20 minutos pagando-se muito mais. Novamente estranho. Para compor o ramalhete, de referir que se tem vindo a trabalhar na quadruplicação das linhas férreas no Norte do país e para este brinquedo serão feitas novas linhas. Será que o estudo económico está feito com dados realistas? Estatisticamente um projecto tem o retorno que quisermos, dependendo apenas dos dados e dos pressupostos escolhidos ..... mas o custo é do bolso de todos nós.
Comentário 3: Temos vindo a ser bombardeados com diferentes valores para o investimento nestes projecto, dependendo da posição do interlocutor face aos mesmos, porém, nada tenho ouvido sobre quanto nos irá custar depois manter estes mesmos investimentos. Dada a natureza destes e a situação do nosso país, tais investimentos têm dois custos distintos – financeiros e operacionais. No caso do primeiro, teremos de pedir dinheiro para construir e, tal como a CGD recentemente descobriu, o dinheiro que há é pouco e caro, logo, os custos em juros serão astronómicos e claramente serão diferentes dos que inicialmente estudados. O custo operacional está relacionado com o manter as estruturas em boas condições de funcionamento, tanto ao nível de material como de recursos para assegurar tal propósito. Quando custará ao bolso de todos nós? Lisboa tem uma das maiores taxas de auto-estradas da Europa e, estas têm de ser mantidas. Novamente a pergunta, quanto custa agora e quanto custará no futuro? Qual o peso contributivo para um défice que não pode superar os 3%?
Comentário 4: Todos estes projectos decorrem há já muito tempo e apenas ficarão finalizados daqui a muitos anos, sendo previsível que passem pelas mãos de diferentes governos de partidos distintos. Assusta-me não haver pactos de regime para garantir que são feitas as obras e, mesmo assim, assusta-me a credibilidade dos nossos governantes, quando recentemente assistimos ao rompimento de um desses pactos apenas porque a direcção de um dos partidos mudou. Assusta. Como mau exemplo deixo a área da saúde, onde um governo lançou um programa de Parcerias Público-Privadas, supostamente para a criação de 10 novos hospitais e o governo seguinte apenas não matou esse processo porque já estava a decorrer e teria custos muito elevados. Mas não matar o processo não quer dizer que este não possa ser posto à velocidade do caracol, com elevados custos para as empresas privadas que decidiram aceitar o repto e concorreram. Quanto é que já foi gasto por estas empresas financeiramente, uma vez que será difícil quantificar o custo da dispersão dos seus recursos? ..... aposto que já daria para construir 2 hospitais ..... e apenas 1 projecto realmente arrancou. Que desperdício!
Neste aspecto dos investimentos, faço uma ressalva à parte do discurso do Cavaco Silva sobre o apoio às nossas empresas exportadoras, pois são essas que podem ajudar a balançar a nossa balança transaccional e, por conseguinte, uma série de factores de grande importância macro económica.
Qualquer economista dirá que investir é fundamental e, entre utilizar recursos financeiros na despesa corrente ou investir, todos deverão optar pela segunda. A grande questão é num ambiente de crise o critério de como se investe, quais os reais benefícios e qual o custo de manter esses investimentos. Tudo isso é dinheiro que neste momento é um dos bens mais escassos que existem ..... pelo mesmo disponível.
Depois de um período de austeridade onde conseguimos cumprir a redução do nosso défice abaixo dos míticos 3%, havendo obviamente aqueles que defendem que se poderia ter conseguido fazer muito melhor com coragem política, já para não falar de competência política e, outros que defendem que se foi além do que se devia ter ido e com um custo demasiado elevado para os Portugueses. E depois de tudo isso, devido à crise mundial e, não esquecer, em ano de eleições, mandamos tudo para o lixo ..... que esforço inglório!
Algo que tem ficado esquecido é a nossa real taxa de crescimento. Temos vindo a crescer menos que a média dos restantes países da Europa e isso tem decorrido ao longo de diversos governos de diferentes cores e convicções. Neste “saco” incluo o PS, o PSD e o PP e, a única coisa que é comum a todos eles, é a desculpa ..... “não podemos fazer melhor porque o governo anterior deixou isto num caos e temos de sair do buraco primeiro” ..... e nunca saímos. Esta crise mundial será naturalmente (e infelizmente) usada como pretexto para mais um péssimo desempenho nesta matéria. Será que ninguém tem a arte e o engenho para nos colocar a crescer a um ritmo superior à média?
Uma das grandes discussões que deveremos ser brindados é o tema dos investimentos. Dum lado temos os defensores de não se fazerem investimentos, mais uma vez com a desculpa da crise e, do outro lado, temos os defensores dos grandes investimentos públicos. Neste pacote estou a incluir o novo aeroporto, o TGV, novas auto-estradas e projectos de custo muito elevado e que transitaram entre os vários governos até à sua finalização. Neste aspecto tenho 4 comentários a fazer:
Comentário 1: Mais do que comprovado pelo Tribunal de Contas, as nossas obras públicas e grandes investimentos têm tido derrapagens financeiras elevadíssimas. Num cenário de crise, deveriam ser garantidos e publicitados os mecanismos de salvaguarda desta nossa tradição. Para não citar mais, vem-me à cabeça o Túnel do Rossio, a Casa da Música e todas as demais obras do Porto capital da cultura, o metro no Terreiro do Paço e a ponte em Guimarães. Antes de se fazer o que quer que seja, é fundamental garantir o preço e valor final, seja com multas ou competência de gestão. O ideal será ter as duas.
Comentário 2: Particularizando uma das obras, o TGV é algo que me assusta. Neste momento apenas 8 países da União Europeia têm TGV e nós vamo-nos juntar a esse grupo, a que não pertencemos ao nível de poder económico. É estranho. Se somarmos a isto o facto do TGV entre Lisboa e Porto ter tantas paragens que assim que está a acelerar já estará a travar, questiono-me o que significará para nós a sigla TGV. Se compararmos este novo brinquedo com o Alfa Pendular, chegamos à constatação que se ganha 20 minutos pagando-se muito mais. Novamente estranho. Para compor o ramalhete, de referir que se tem vindo a trabalhar na quadruplicação das linhas férreas no Norte do país e para este brinquedo serão feitas novas linhas. Será que o estudo económico está feito com dados realistas? Estatisticamente um projecto tem o retorno que quisermos, dependendo apenas dos dados e dos pressupostos escolhidos ..... mas o custo é do bolso de todos nós.
Comentário 3: Temos vindo a ser bombardeados com diferentes valores para o investimento nestes projecto, dependendo da posição do interlocutor face aos mesmos, porém, nada tenho ouvido sobre quanto nos irá custar depois manter estes mesmos investimentos. Dada a natureza destes e a situação do nosso país, tais investimentos têm dois custos distintos – financeiros e operacionais. No caso do primeiro, teremos de pedir dinheiro para construir e, tal como a CGD recentemente descobriu, o dinheiro que há é pouco e caro, logo, os custos em juros serão astronómicos e claramente serão diferentes dos que inicialmente estudados. O custo operacional está relacionado com o manter as estruturas em boas condições de funcionamento, tanto ao nível de material como de recursos para assegurar tal propósito. Quando custará ao bolso de todos nós? Lisboa tem uma das maiores taxas de auto-estradas da Europa e, estas têm de ser mantidas. Novamente a pergunta, quanto custa agora e quanto custará no futuro? Qual o peso contributivo para um défice que não pode superar os 3%?
Comentário 4: Todos estes projectos decorrem há já muito tempo e apenas ficarão finalizados daqui a muitos anos, sendo previsível que passem pelas mãos de diferentes governos de partidos distintos. Assusta-me não haver pactos de regime para garantir que são feitas as obras e, mesmo assim, assusta-me a credibilidade dos nossos governantes, quando recentemente assistimos ao rompimento de um desses pactos apenas porque a direcção de um dos partidos mudou. Assusta. Como mau exemplo deixo a área da saúde, onde um governo lançou um programa de Parcerias Público-Privadas, supostamente para a criação de 10 novos hospitais e o governo seguinte apenas não matou esse processo porque já estava a decorrer e teria custos muito elevados. Mas não matar o processo não quer dizer que este não possa ser posto à velocidade do caracol, com elevados custos para as empresas privadas que decidiram aceitar o repto e concorreram. Quanto é que já foi gasto por estas empresas financeiramente, uma vez que será difícil quantificar o custo da dispersão dos seus recursos? ..... aposto que já daria para construir 2 hospitais ..... e apenas 1 projecto realmente arrancou. Que desperdício!
Neste aspecto dos investimentos, faço uma ressalva à parte do discurso do Cavaco Silva sobre o apoio às nossas empresas exportadoras, pois são essas que podem ajudar a balançar a nossa balança transaccional e, por conseguinte, uma série de factores de grande importância macro económica.
Qualquer economista dirá que investir é fundamental e, entre utilizar recursos financeiros na despesa corrente ou investir, todos deverão optar pela segunda. A grande questão é num ambiente de crise o critério de como se investe, quais os reais benefícios e qual o custo de manter esses investimentos. Tudo isso é dinheiro que neste momento é um dos bens mais escassos que existem ..... pelo mesmo disponível.