segunda-feira, 30 de março de 2009

Justiça autárquica

Longe iam os tempos de perfeita impunidade de detentores de cargos públicos, com especial relevo para os autarcas. Lembro-me de quando era miúdo que havia algumas classes sociais que detinham um estatuto de excelência por entre as demais ..... médicos, advogados, bancários e autarcas.

Eram tempos que estas classes faziam o que queriam ou pelo menos detinham um poder económico acima da média. No caso dos autarcas, todos faziam o que o senhor presidente pedia (ou mandava). Era um cargo com um estatuto social muito elevado, de quem podia fazer e desfazer a seu belo prazer sem ter de prestar contas a ninguém, controlando mesmo directa ou indirectamente as forças policiais e de bombeiros, com todo o estatuto e poder associado.

O poder dos autarcas advém ainda de um factor essencial que é o facto de ainda ser o principal empregado de uma região ou cidade. Como para além das autarquias existem uma série de empresas público-municipais (ou como as quiserem designar), onde o presidente acumula o cargo (e vencimento não limitado) e elas são também geradoras de algum emprego ..... e são sempre várias ..... a conclusão é simples e obvia.

Com o decorrer dos tempos a sociedade foi-se alterando e o poder dos autarcas foi sendo cada vez menos um dogma. Apesar do clima de impunidade jurídica ser ainda manifestamente significativo, começaram a aparecer nos tribunais e na comunicação alguns casos e denuncias, que fez com que a população acreditasse que as coisas estavam a mudar. O facto de saberem que são mais controlados e que deixaram de ser divindades, aliado a toda uma nova geração que possui outras bases e outra capacidade de informação, foi contribuindo para uma melhoria de postura e credibilidade da função autarca. Estamos agora a voltar para trás.

Em pouco tempo vindo a assistir a vários processos que deitam por terra toda a credibilidade que se pensava estar a ser conseguida. Foi o processo vergonhoso da Fátima Felgueiras que soube com antecedência suficiente do que se iria passar e decidiu ir até ao Brasil, para onde o nosso estado passou a enviar a sua reforma mesmo na condição de foragida, e, maravilha das maravilhas, ainda se negociou com ela o seu regresso sem ir para prisão preventiva ..... ela nem saberia para onde ir ..... claro. Apesar de tudo o que ficou provado, saiu em ombros pela população e com pena suspensa, ou seja, se roubarem e fugirem para o Brasil, desde que a população goste de vocês está tudo bem.

Depois disso vem o processo do Adelino e outra maravilha da nossa justiça ..... sem condenação. O freguês que se segue é o Isaltino Morais ..... adivinhem como vai terminar este processo .....

Para além de já sabermos que a política e a justiça estão intrinsecamente ligadas, sendo os laços de amizade e ideologias comuns (tipo partido, maçonaria, etc) muito fortes, sabemos também o aparecimento (e desaparecimento) de provas em tribunal parece não ter fim ..... e os resultados acabam geralmente de forma similar. Começo a ter sérias dúvidas sobre a qualidade dos nossos magistrados pois parece que todos são mais espertos que estes.

A bem da nossa sociedade gostava de acreditar que os nossos autarcas são maioritariamente honestos e que estão lá pelo bem comum, mas a verdade é que sabemos que em todos os grupos existem sempre aqueles com poucos escrúpulos e dispostos a enriquecer a todo o custo. Para esses é necessário que exista justiça e que esta seja célere e eficaz, o que é o contrário ao que temos assistido e estamos a assistir.

Estamos a regredir na credibilidade dos cargos autarcas e, pior que isso, quem prevarica vai achar que já pode voltar ao que era. Não auguro futuro brilhante se continuamos a trilhar tais caminhos.

terça-feira, 24 de março de 2009

Do tempo dos reis

Esta semana tem vindo a público o descontentamento dos nossos deputados em relação ao seu futuro local de trabalho. O seu descontentamento não é o espaço, as cadeiras ou o gosto de quem decidiu a decoração. Não, o seu problema é a liberdade da imprensa e a sua exposição pública.

Segundo vários deputados, a disposição dos seus lugares e computadores deixa-os demasiado expostos às objectivas dos repórteres que costumam acompanhar os trabalhos do parlamento. Afirmam que desta forma os mails que trocam entre eles e mesmo mensagens SMS podem aparecer num qualquer jornal ou serem passadas a alguém.

Neste aspecto estou inteiramente ao lado dos deputados. Eles devem ter liberdade de poder escrever o que quiserem sobre quem quiserem, sem correr o risco dessas ideias ou pensamentos serem do conhecimento de terceiros. Faz parte no seu trabalho deter informação e consertar ideias, assim como faz parte da sua privacidade as suas conversas. Limitar a sua liberdade é condicionar a sua actuação que teoricamente é feita em prol de todos nós.

O único que não parece muito incomodado é o Jaime Gama, que por acaso não tem ninguém por cima dele numa bancada e também não existem câmaras de vigilância por cima do seu lugar. Talvez esta seja a melhor maneira dos deputados resolverem o seu problema. Se colocarem uma câmara por cima do lugar do presidente, o tema da liberdade de expressão e confidencialidade passa também a ser um problema dele ..... é meio caminho para o assunto ser resolvido e a seu favor.

Já se dizia no tempo dos nossos reis que a única forma de se ter estradas como deve de ser era ir mudando a residência do rei .....

segunda-feira, 23 de março de 2009

Locais agradáveis

Com o fim do tempo de chuva, os nossos fins-de-semana passam a poder ir para além de casa e dos centros comerciais. Ganhamos espaço e qualidade de vida. Viva o fim da monção!

Este fim-de-semana aproveitei a vontade do filhão fazer actividades ao ar livre e somos para o estádio nacional. Como já não íamos lá há mais de 1 ano, fiquei maravilhado com as alterações. Ao pé da pista de remo que agora é de acesso mais livre e permite o aluguer de canoas, foi criado um café que fazia falta e, mais importante de tudo, já existe um campo de futebol 11 que pode ser utilizado para jogar à bola. Esta era para mim uma das principais lacunas do estádio nacional. Podíamos ir andar de bicicleta pois existem vários caminhos e espaços agradáveis, mas não se podia praticamente jogar futebol, o que especialmente para rapazes é importante. Existe mesmo uma enorme parede para quem gosta de escalada ..... bem, quem gosta e tem jeito, que aquilo não é fácil.

Fizemos um pequeno passeio e fomos até à zona do ténis, onde estivemos a jogar os dois contra a parede, primeiro em treino e depois num pequeno jogo. Por acaso terminou com o pai a levar uma valente “raquetada” nos queixos ..... mas isso foi um pormenor. Foi um excelente dia e teria sido perfeito se o nosso clube não tivesse sido espoliado de um título devido a um erro do árbitro ..... mas isso para o texto não interessa.

No domingo de manhã voltámos ao estádio nacional mas para a zona contrária, fomos ao driving range jogar golfe. Depois de um ligeiro aquecimento gastámos 2 baldes de bolas ..... parecia que o filhão tinha uma metralhadora de lançar bolas e eu uma mera pistola, mas isso também não interessa. Seguiu-se o putt e terminados com uma volta aos 9 buracos. De referir que para além do gosto do filhão pelo golfe, ele também quer melhorar o seu jogo para fazer o seu filme do 009, uma vez que o 007 que ele tanto gosta é um bom golfista. Fico eu a ganhar porque assim tenho o meu amigão a jogar comigo.

Na sequência de tanto aproveitamento da vida ao ar livre, no domingo à tarde o filhão ficou numa festa e eu fui a um lugar que eu e a Ana sempre apreciámos muito e onde íamos várias vezes, o parque por cima do Parque Eduardo VII. Estamos no meio do jardim, com muito verde à volta e uma esplanada muito agradável mesmo à frente do lago, onde aproveitei para recordar bons velhos tempos e escrever alguns textos para o blog.

O meu bónus foi que alguns pardais que andam a aproveitar migalhas das mesas vieram ter comigo enquanto comia um bolo. Como vários estão muito habituados às pessoas, houve dois mais atrevidos que eu esticava a mão com bocados de bolo e eles vinham até ao pé de mim comer na minha mão ..... lindo.

Existem vários locais muito agradáveis e que podem e devem ser aproveitados, mas isso só se descobre saindo de casa. Uma vez que este blog não permite o envio de post aos textos publicados, podem sempre enviar para o meu mail a descrição de locais agradáveis de visitar, passear e fazer actividades. Eu e o filhão agradecemos.

domingo, 22 de março de 2009

Traumas que não se esquecem


Por muito fortes que sejamos emocionalmente, existe sempre algo que nos pode marcar profundamente e que temos dificuldade de ultrapassar. Sabemos que não faz sentido e que é uma profunda estupidez, mas é mais forte que nós. É estranho quando temos plena consciência disso e mesmo assim não conseguimos ultrapassar. Somos humanos.

Desde que conheci a Ana, a minha soul mate, passei a viver num paraíso. Todas as etapas do nosso namoro foram maravilhosas e foi com naturalidade que o filhão apareceu na nossa vida. A gravidez foi vivida em pleno pelos dois e tudo fizemos em conjunto, com excepção das aulas de hidro-ginástica para grávidas. E quando se rebentaram as águas, seguimos para o hospital onde passadas 14 horas de trabalho de parto, o João nasceu. Era mais uma estrela no paraíso.

Quando saí de ao pé da Ana para fazer telefonemas e ir-lhe comprar umas flores, a vida era perfeita ..... o difícil veio depois ..... quando cheguei de novo ao hospital, a Ana estava numa sala de observação e iam-lhe fazer um TAC ..... foi quando descobrimos o maldito tumor que iria definir o desfecho da nossa história de amor e da vida do meu amor ..... só me lembro que o choque foi tão grande que até fui vomitar. A Ana seguiu no dia seguinte para o hospital Egas Moniz (HEM) e o filhão ficou no Amadora-Sintra (HAS).

Foram dias difíceis em que começava pelo HAS para estar com o filhão, ia visitar a Ana (HEM) e voltava para estar ao pé do filhão, e depois para ao pé da Ana e depois para ao pé do filhão ..... já nem me lembro ao certo quantas piscinas fazia para conseguir estar com os dois. Felizmente a nossa memória apaga algumas coisas.

O resultado deste episódio foi que fiquei traumatizado com bebes recém nascidos, ao ponto de ainda hoje muito dificilmente os visitar. Mesmo que seja o meu sobrinho directo que já nasceu quase 10 anos depois ..... é muito difícil ..... faz-me lembrar o principio do fim do meu paraíso ..... dói muito.

São situações que nos afectam muito mais do que gostaríamos e que nos deixam intranquilos, uma vez que o nosso cérebro volta a reviver o nosso passado. Não nos lembramos de tudo nem muito menos dos detalhes, mas lembramo-nos da tristeza e do desconforto que sentimos.

A história mediática da inglesa Jade que sofria de cancro terminal (cólon do útero) e que hoje perdeu a batalha contra a morte é algo similar. Durante estas várias semanas lembrou-me constantemente todo aquele tempo que vivemos sabendo o fim que se aproximava. Foi doloroso quando ficou claro que não havia salvação possível ..... revivi novamente aquelas dolorosas sensações ..... havia filhos e houve um casamento ..... tantas similaridades .....

Tento reter na memória os momentos felizes que conseguimos ter e a grande vontade de viver que a Ana tinha ..... que força da natureza que tu foste, meu amor! ..... que saudades tenho de ti ..... como ainda te amo tanto!

sábado, 21 de março de 2009

Obama na Antena 1

Há dias com noticias curiosas ..... a Antena 1 foi crucificada por dizer o que não podia dizer ..... mas por acaso é a opinião generalizada da população Portuguesa ..... e do outro lado do mundo, o Obama cometeu uma gaffe ao referir-se de forma menos conveniente aos deficientes e aos seus jogos para-olímpicos ..... qual a diferença ..... simples, o segundo é o “dono” do mundo e como tal ninguém vai pedir a sua demissão.

O recurso generalizado a greves é tal que já não sabemos que greves estão a acontecer e porquê. As únicas certezas que temos é que causam problemas a todos menos aos governantes e parlamentares, o que é o mesmo que dizer “contra quem quer chegar a horas”. Por outro lado, são maioritariamente orquestradas por sindicalistas que têm de justificar o seu papel moribundo.

Os sindicatos e partidos minoritários queixam-se da prepotência dos vários governos ao utilizar as pessoas nos seus propósitos, como o défice e os impostos, porém, esses mesmos acusadores já podem utilizar a população para criar um clima de mau estar contra os governos ..... assim à primeira vista diria que são dois pesos e duas medidas, mas tenho a certeza que os sindicalistas para um dos exemplos dados consideram que os meios justificam os fins ..... adivinhem qual.

O problema da banalização das acções é que deixam de ser relevantes, e isso é o que se está a passar com as greves e os sucessivos pedidos de demissão. Por qualquer motivo pede-se a demissão do responsável ..... e neste ponto eu incluo-me pois foi o meu primeiro pensamento depois do 12-1 do Sporting. E nem de propósito, enquanto escrevo este texto o Alberto João Jardim pede a demissão do Sócrates por ..... bem honestamente nem percebi, mas isso com a figura em causa nem é relevante .....

O que será que tinha acontecido se o Durão Barroso decidisse mostrar novamente a sua obediência e subserviência aos EUA e, na visita a Portugal, o Obama tivesse um comentário infeliz aos microfones da Antena 1?

Por mais politicamente incorrecto que seja o anúncio, a Antena 1 prestou um verdadeiro serviço público ..... disse o que nos vai na alma ..... Se no espaço da Expo onde costuma estar montado um circo no Natal fosse preparado um circuito para manifestações, não condicionando assim os habitantes e trabalhadores de Lisboa, o que acham que aconteceria?

sábado, 14 de março de 2009

O sentido das palavras

Todos nós sabemos que o Português é uma língua traiçoeira. Na nossa riquíssima língua, existem palavras que têm mais que um sentido e outras que têm segundas intenções, como os nossos cantores populares (ou “pimba”) cedo descobriram. Nem é preciso juntar a pontuação para obter situações de algum embaraço.

Se em Portugal já é assim, quando se junta à festa o Espanhol e o Brasileiro tudo se complica. Por exemplo a palavra bateria, em Português pode-se dizer pilha e em Espanhol pila ..... ops ..... era uma palavra inocente.

Recentemente descobri que o Brasileiro também nos pode gerar situações menos convenientes. O filhão tinha um trabalho para fazer com um colega sobre os reis da nossa 2ª dinastia (Avis) e decidiu procurar na Internet informação sobre o assunto. Até aqui tudo pacifico e tive o cuidado de lhe relembrar os perigos da Internet. O trabalho de recolha de sites para posterior consulta rapidamente ficou concluído e o filhão ficou tão entusiasmado com o tema que decidiu construir a sua coroa para brincar de rei. Na realidade ele anda a tentar “conquistar” a independência do seu reino ..... leia-se quarto ..... mas é sempre invadido pelo pai ..... eh eh eh.

O que parecia simples e inofensivo rapidamente se alterou por causa do maldito acordo ortográfico. Como o que ele pretendia era um desenho ou fotografia para copiar ou imprimir, ensinei-lhe que o google tem um motor de pesquisa próprio para imagens ..... agora experimentem a introduzir a palavra “coroa” e carregar em pesquisar..... vejam o que aparece logo na 2ª fila, claramente em destaque a meio do ecrã!

Este é um problema da segurança das crianças na Internet, neste caso por uma coisa tão simples como o Português.
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Para os pais - em conversa com um colega e amigo que até percebe umas coisas do tema, fiquei a saber que no google, se formos à pesquisa avançada, existe uma secção que diz filtros e que existe uma opção (regra geral a 1ª) que se refere a material explicito. Se activarem esta opção, as referidas imagens já são filtradas e não aparecem. Pelo menos inadvertidamente, as nossas crianças estão "a salvo".

sexta-feira, 13 de março de 2009

Responsabilidade do exemplo

É nos momentos de crise que as nossas virtudes e infelizmente os defeitos se tornam mais visíveis. Esta afirmação é tão verdade num individuo como numa sociedade, razão pela qual cada vez se fala mais de ética, especialmente ao nível empresarial.

Ultimamente tenho ouvido várias definições do que é a ética e, muito honestamente, continuo a não conseguir formular uma definição clara. Por definição clara entenda-se uma explicação que o meu filhão de 9 anos possa perceber e preferencialmente logo à primeira. Não é fácil!

Ontem na aula do PAGE que visava os aspectos da negociação, com especial enfoque na maximização total do ganho, vulgo a distribuição do “maior bolo possível”, falávamos em ser honestos e invariavelmente em ética. Sobre a negociação em si e como deveríamos pensar sobre as nossas atitudes, havia uma série de perguntas que deveríamos fazer a nós próprios. Uma dessas perguntas foi algo com que recentemente me debati.

Eu e o filhão íamos para um jantar com amigos e nas voltinhas de conseguir encontrar o restaurante, tive de parar num semáforo sendo o primeiro carro. Quando o sinal abriu, comecei a fazer a curva para a esquerda, porém, reparei que em frente seguia um autocarro que me parecia que ia atropelar um casal que passava na passadeira ..... como alguns já adivinharam, fiquei a andar para a frente e a olhar para trás ..... como o planeamento de algumas empresas ..... o resultado foi uma remodelação do cruzamento, retirando um semáforo de peões do sítio em que um qualquer carro poderia chocar com ele ..... e obviamente foram-se as luzes de todo o cruzamento.

Dilema ..... O que fazer agora? ..... as opções eram retirar os restos do semáforo do chão e seguir viagem ou chamar o 112 para assumir as responsabilidades e regularizar a segurança do cruzamento ..... para além do casal e do autocarro, mais ninguém na rua ..... e agora? ..... o que fariam?

Financeiramente a primeira opção era extremamente atractiva, porém, eticamente eu sabia que deveria optar pela segunda ..... factor a considerar – o filhão estava no banco de trás a assistir a tudo ..... o que vai o meu pai fazer?

Face a todas as questões envolvidas, a minha decisão foi parar o carro e chamar o 112, assumindo a responsabilidade da asneira ..... e essa decisão foi única e exclusivamente por um motivo – dar o exemplo ao filhão do que correctamente deve ser feito!

Para nós educar é isto ..... ensinar também pelo exemplo.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Apoio às PME’s

Apesar da oposição apelidar os apoios sistemáticos do governo às PME’s de eleitoralismo, eu acho que são mais parecidos a noticias de revista cor-de-rosa.

Quando passamos por uma banca vemos títulos do género “O Zé e a Maria foram panhados em flagrante num enorme e apaixonado beijo”, porém, quando se abre a revista para a página no texto de capa, percebe-se que afinal foi o fotografo da revista que conseguiu apanhar uma cena da nova novela. E o mais impressionante é que a mesma fotografia é vendida às revistas concorrentes que a publicam.

As noticias dos apoios têm um comportamento muito semelhante ás noticias cor-de-rosa, ou seja, são anunciadas com pompa e circustância hoje, porém, quando se vai verificar a sua aplicabilidade, ela remete-nos sempre para o ano fiscal seguinte. Tirando as linhas de crédito e o apoio à banca, poucas devem ser as medidas de aplicação imediata. E tal como as fotografias, o mesmo apoio pode ser alterado ligeiramente e ser voltado a apresentar.

Num ambiente de grande instabilidade e em que a realidade muda muito rapidamente, as empresas não podem conviver com apoios para o próximo exercício, com risco de já não existirem nessa altura.

Embora existam muitos economistas em Portugal e muito se fale deste tema, a verdade é que se ouve muita critica e poucas ideias plausiveis, que não sejam ou campanha eleitoral ou disparate de jerico. Cada realidade é uma realidade, mas o que vemos nos EUA é estarem a ser pensados e criados pacotes de apoio imediato e nós nada.

Se por exemplo o estado pudesse cumprir atempadamente as suas obrigações, como pagar a horas e a devolver o IVA a horas, isso já iria beneficiar muito as empresas, e isso aconteceria já.

Neste momento tenho dúvidas se não existem ideias ou se todos as estão a guardar para o período eleitoral que se aproxima.

terça-feira, 3 de março de 2009

A cegueira da crise

Este fim-de-semana levei os meus pais a almoçar num restaurante tipico e conhecido. Durante o almoço falavamos sobre vários temas, sendo um deles a ocupação do restaurante.

Como a sala ainda tinha mesas livres, a conclusão rápida foi de que ainda não era fim de mês, porém, como efectivamente já era, a conclusão rápida seguinte era de que o problema era a crise que afecta todas as áreas, não constituindo os restaurantes nenhuma excepção. Uma série de rápidas conclusões sem nenhuma análise prévia, como vulgarmente acontece em muitas situações, escudadas pela maior chavão dos nossos tempos ..... a crise!

Depois de tão profundas conclusões, fiquei a meditar um pouco no que tinha sido a sequência de pensamentos e a conclusão final ..... será que o restaurante estava mais vazio por causa da crise? ..... o meu pai tinha pedido Cozido à Portuguesa e não ficou satisfeito com a confecção ..... até que ponto não seria esse o problema? ..... e que pensariam os donos do restaurante? ..... estariam a atribuir a ocupação corrente à crise?

Tudo na vida tem componentes positivas e negativas e uma crise na sua essencia rege-se por estes principios. Um dos (poucos) aspectos positivos que existe é o despoletar do engenho humano. Estes momentos podem ser geradores de grandes e profundas transformações, com um retorno muito positivo a médio e longo prazo.

Mas existe um risco. Quando algo não corre como o esperado, pode-se correr a tentação de acusar a crise de ser a causadora e negligenciar uma análise às reais razões que estão por detrás desses resultados. Com essa simples palavra ..... crise ..... tudo se justifica e tudo se permite e, vai-se andando tal como se está à espera de melhores dias. Á espera que o amanhã volte a trazer a prosperidade desejada.

Mas se os reais problemas não forem descobertos, é como estar doente do coração e estar a tomar medicamentos para o figado ..... existe uma doença com um desfecho mortal mas estamos entretidos a tratar de outra. Vou colocar as coisas de outra forma. Uma das principais causas de morte no mundo diz-se que é o colestrol ..... discordo ..... para mim é a falta de informação. Se as pessoas souberem a tempo que têm problemas de colestrol podem tomar as medidas apropriadas e, graças aos medicamentos que existem já hoje disponíveis, podem-se tratar com facilidade ..... mas não saber que se tem problemas leva a continuar a cometer todos os dias os mesmos erros alimentares ..... e os pequenos sintomas que vão aparecendo são encarados por exemplo como sinais do stress que a crise está a causar ..... pois.

Em termos empresariais, o parágrafo anterior pode ser facilmente transposto e adaptado. Para mim este é outro grande risco da crise ..... as suas costas largas.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Brincadeiras do meu tempo

Á medida que os tempos vão evoluindo, também as próprias brincadeiras das crianças se vão modificando. As brincadeiras dos nossos filhos nada têm a ver com as nossas, tal como as nossas nada tiveram a ver com as dos nossos pais. São diferentes. O mundo está diferente.

No tempo dos meus pais, para se poder jogar à bola era preciso construir uma com meias, o que nem sempre era possível. No meu tempo, quem tinha uma bola era quase um rei e mandava no jogo e na forma como jogavamos. O Filhão tem um cesto cheio de bolas de futebol (mais de dez!).

O Filhão andava já há dias por vários motivos a solicitar mais atenção e brincadeiras conjuntas, não se contentando apenas com o visionamento de filmes e televisão em conjunto. Como o tempo ainda não permite passeios de bicicleta ou outras actividades ao ar livre, andava a pensar no que poderiamos fazer de diferente e ontem, finalmente conseguimos fazer algo.

Como fomos visitar as obras de construção dos meus cunhados, ao olhar para todos os materiais que existem sempre nas obras, lembrei-me de uma brincadeira que faziamos no inverno. Pegavamos em pequenos ferros e desenhavamos no chão de terra mole um grande circulo que representava o mundo. Um jogador de cada vez atira o ferro para dentro do circulo, juntando os pontos de embate por meio de uma linha até formar pequenas porções de terra fechadas. Para que a jogada seja válida, o ferro tem de ficar espetado na terra e a uma distância inferior a um palmo da anterior. Caso estas condições não se verifiquem, o jogador perde a jogada em curso, mantendo apenas os terrenos já “fechados”. No fim, ganha quem tiver mais terreno conquistado. Na prática, esta era uma evolução do jogo do prego do tempo dos meus pais. Este foi o jogo que desafiei o filhão a jogar.

Após lhe explicar as regras e lhe mostrar como se fazia, passamos cerca de duas horas de grande camaradagem e divertimento, atirando um simples pedaço de ferro ao chão e a conquistar terreno um ao outro, aproveitando para brincar pelo meio das jogadas, e rindo-nos um do outro. Durante essas duas horas voltei aos meus tempos de criança, mas com o bónus de levar comigo o meu grande amigão, ou seja, o meu filhão. Foi uma maravilha e, tal qual crianças, ainda tivemos de fugir por breves instantes da chuva e tudo. Uma tarde diferente.

Apesar de ser uma criança do tempo das PlayStations, a sua adaptação ao jogo foi rápida e, como qualquer criança, no final já me ensinava e discutia novas regras e a sua grande experiência. Estava tão divertido com a simplicidade e divertimento do jogo que me fez lembrar as crianças que recebem brinquedos (caros ou baratos) mas que se divertem mais com a caixa onde eles vêm. E no fim ainda ouvi aquela frase bem demonstrativa de quem gostou .....”Quando é que voltamos a jogar outra vez?”