quinta-feira, 30 de abril de 2009

Aprender com a crise

Quando a vida corria bem no mercado financeiro e a especulação era prática corrente, vários foram os economistas que alertaram para a bolha especulativa que era evidente. Todos dizíamos que era impossível os preços das casas continuarem a subir e não sabíamos como é que os bancos continuavam a emprestar cada vez mais dinheiro a quem manifestamente não podia pagar. Dizíamos que um dia a coisa iria correr mal. Era evidente a todos e ninguém era intitulado de arauto da desgraça.

Como quando se ganha não se questiona muito, muitos sabiam o risco ser eminente mas este sempre foi tratado como a questão da camada de ozono, a falta de água ou as reservas de petróleo ..... existe muito e os problemas serão num futuro não imediato, o que nos permite preocuparmo-nos apenas mais tarde. O problema foi que neste caso o futuro foi ontem.

Um dos problemas que tenho vindo a meditar é sobre a questão do emprego e desemprego nos nossos dias. No passado mês de Março em Portugal, segundo os números oficiais, o número de subsídios atribuídos pelo nosso governo foram o dobro comparativamente a 2008. O dobro!

Tal como os restantes governos, também o nosso tem vindo a apresentar algumas medidas, muito numa óptica de estarmos perante uma crise passageira. O principio seguido tem sido o do precisamos de fazer aqui algo que nos permita sobreviver a esta calamidade. Vários são os que argumentam que é nestes momentos que nos devemos preparar para o futuro, eliminando as “gorduras” e preparando o terreno para quando a crise passar, já estarmos em rota de crescimento, o que irá permitir estar mais bem preparados que os outros. E isto aplica-se a Estados e a empresas.

A mim preocupam-me tendências. Como gosto de pensar a médio e longo prazo, estas apontam caminhos ou atenções que devo ter em conta. Para além disso, ao definir as minhas estratégias de curto prazo, estou mais consciente de onde posso maximizar os meus resultados minimizando os riscos ou dificuldades.

Ao longo de toda a nossa evolução mais recente, temos vindo a passar de uma sociedade da manufatura para uma sociedade da mentefatura. Um dos resultados dessa transformação é o diminuir da necessidade de mão-de-obra, o que é mais uma vez evidente para todos, certo?

Com a evolução tecnológica potenciada por esta mentefatura, as “máquinas” cada vez mais substituem os homens, permitindo reduzir os custos de produção e a massificação de bens outrora apenas para alguns. E mais uma vez refiro, por sua vez reduzindo-se a necessidade de emprego. Como a população mundial tendencialmente cresce cada vez mais, estamos perante um paradigma, ou seja, existem cada vez mais pessoas mas cada vez precisamos menos delas para trabalhar. O que fazer a estas pessoas?

As medidas para combater a crise e o desemprego são efectivamente importantes, mas o que estamos a fazer para preparar a nossa sociedade para o futuro, quando não forem precisas mais que meia dúzia de pessoas para manter um país a funcionar? Como vamos viver?

Pertenço ao grupo de pessoas que consideram que os números de desempregados que atingirmos no final da crise não se irão reduzir rapidamente, não porque o país não vai crescer mas sim porque não iremos ter essa necessidade. As empresas estarão preparadas para funcionar com menos recursos. Caminhamos para um mundo que as pessoas não são necessárias para trabalhar ..... é um facto ..... como alimentar estas pessoas? como ficará a divisão de classes, se é que continuará a existir? como é que os sistemas de saúde, ensino e afins podem responder a esta realidade? em que se ocuparam elas?

Se os governos apenas se preocuparem com a crise, não criando as estruturas sociais adequadas, apenas estão a sobreviver a este problema para entrarem directamente noutro. Eu sei que no nosso caso em ano de eleições não se pensa no futuro, mas gostava.

O título em si já não constitui novidade nenhuma nem é nos dias que correm um título original, porém, é sobre um outro aspecto que podemos e devemos ter em atenção.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Liberdade de imprensa

Dizer que a nossa imprensa é livre é na sua génese verdade, mas a promiscuidade entre órgãos de informação e políticos ou magistrados é algo real e preocupante. Como é preocupante o poder que um director de informação detém, nomeadamente se ele é susceptível a poder sofrer condicionalismos de outros, sejam eles ministros, magistrados ou da sua própria mulher.

Ainda esta semana o próprio Mário Soares no Prós e Contras falava que no seu tempo um jornalista telefonou para o tribunal para falar com o juiz e, espanto dos espantos, o oficial de justiça de serviço interrompeu o julgamento para saber se o juiz atendia. Não me parece que fosse caso inédito, tal como não pareceu ao próprio Mário Soares como ele referiu.

Pequeno momento de humor – Numa convenção de machos, o orador argumentava que já não os existiam verdadeiros e genuínos e, como prova disso, pedia a todos os que efectivamente não mandavam lá em casa para saírem do meio da sala ..... o que todos fizeram menos um que, ao ser indagado porquê apenas afirmou que “A minha mulher mandou-me ficar quieto”.

Quando ia para casa dos meus pais ia a ouvir a TSF ao mesmo tempo que pensava no que o nosso antigo presidente disse, e sobre a posição editorial dos vários telejornais, revistas e jornais e, nem de propósito, eles fazem uma referência à noticia de abertura dos telejornais nacionais. A saber:

- RTP – Não se confirma a crise suína em Portugal ...
- SIC – Aumento o nº de subsídios em Março ...
- TVI – A crise suína está-se a alastrar pelo planeta ...

São factos ..... e pior do que se diz, é como se diz ..... e pior de como se diz, é o ar com que se diz ..... na minha opinião dizer que as noticias da TVI não são sensacionalistas é como dizer que o seu jornal à sexta-feira é jornalismo ..... liberdade de imprensa e isenção são na minha opinião duas coisas distintas.

Assim vai a nossa justiça

De uma forma pretensamente isenta, e tal como outros, tenho vindo a reflectir sobre o estado de algumas áreas da nossa sociedade que considero estarem em pior estado. Considero que as áreas do ensino, da saúde e da justiça estão francamente muito pior que as outras e, pior do que isso, para algumas vejo reformas a mais ou muito mal feitas. E digo mal feitas pois os resultados são cada vez piores.

Deixo-vos uma cópia do texto publicado hoje no blog Jumento para que possam tirar as vossas próprias elações ou, no mínimo, para que guardem pois para efeitos de jurisprudência pode vos vir a ser muito útil um dia destes:

Peça nº 1322 - Arquivamento de inquérito 01-04-2009
Área temática - Criminal
Espécie - Arquivamento de inquérito
Unidade org. - PGD de Lisboa
Processo - 5/09.6TRLSB
Autor da peça - João Manuel Parracho Tavares Coelho
Título - Denúncia contra Magistrado. Injúrias e ameaças. Inexistência de crime. Arquivamento do Inquérito


Sumário

I - Não incorre em prática de qualquer crime, designadamente o de injúrias ou de ameaças, aquele que, perante o agente de autoridade, em exercício de funções, no acto em que está a ser autuado (por eventual violação de regras de trânsito), a título de desabafo e sem que lhe dirija as palavras, se limita a expressar “Caralho! Já ando com problemas que cheguem… e o sr. ainda vai ouvir falar de mim” (sic). II – Com efeito, nem o vocábulo “caralho” encerra qualquer epíteto dirigido à autoridade nem o alerta de que “ainda vai ouvir falar de mim”, no contexto em que foi proferido, não contém a anunciação de um “mal futuro”, apto a causar “inquietação, medo ou prejudicar a liberdade”

Texto integral:

Inquérito nº 5/09.6TRLSB - (contra Magistrado - PRAdjunto)

I - Introdução – Objecto da comunicação/denúnciaA PSP do Seixal, mediante auto de notícia elaborado pelo sr. Agente --- (nº….), entendeu comunicar ao Ministério Público da área (na pessoa do Exmº Procurador-coordenador do Tribunal da Comarca do Seixal, Dr…..) factos que têm como protagonista um Procurador da República adjunto, o Exm. Colega ----, registados quando foi este interceptado enquanto conduzia veículo automóvel e, em simultâneo, falava ao telemóvel.

Aquele agente de autoridade elaborou o respectivo auto de contra-ordenação pela infracção verificada, em 27 de Fevereiro de 2009, pelas 14 horas e 53 minutos, na Praça das Geminações (Torre da Marinha - Seixal (Auto nº ------ a fls. 5) que não foi assinado pelo infractor (o magistrado) por se ter recusado a fazê-lo.

Segundo tal auto contra-ordenacional, o condutor (o magistrado do MPº) praticou a infracção rodoviária prevista artº 84º, n. 4 do Código da Estrada, punível com coima (de 120 a 6.000 €) e com sanção acessória de inibição de conduzir (de 1 a 12 meses, nos termos dos artºs 145º, n. 1 e 147º, n. 2 do mesmo Código).

Mais entendeu o sr. Agente autuante dar notícia à sua chefia (cfr. fls. 4) do que expressou o autuado no momento em que foi interceptado, destacando as seguintes frases: “Eu não pago nada, apreenda-me tudo… Caralho, estou a divorciar-me, já tenho problemas que cheguem… Não gosto nada de identificar-me com este cartão, mas sou procurador…Não pago e não assino… Ai você quer vingança, então o agente Frederico ainda vai ouvir falar de mim. Quero a sua identificação e o seu local de trabalho”.

Foi na posse destes dados que o Exmº Procurador-coordenador do Seixal entendeu, como era, aliás, de seu mister, dar notícia hierárquica, à Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, “para conhecimento” (of. de fls. 2).

II - Da inexistência do crime

O participado, que é Magistrado do Ministério Público[1], beneficia de «foro especial», nos termos conjuntos dos artº 12º, n. 2, a) do CPP artº 92º do respectivo Estatuto (Lei nº 60/98, de 27 de Agosto). [2]

Estamos em crer, sem margem para dúvidas, que a matéria comunicada não constitui qualquer ilícito (penal ou disciplinar).

Mas vejamos.

É certo que é exigível a todos os cidadãos uma postura de colaboração e de urbanidade para com os agentes de autoridade no exercício de funções, maxime na disciplina e controlo das regras estradais.

De todo o modo, não se vislumbra que as expressões utilizadas e proferidas pelo autuado magistrado, consideradas as circunstâncias da sua publicitação, constituam qualquer crime, designadamente de injúrias ou de ameaças. Com efeito, no contexto em que foram ditas só se podem ter como “desabafos” de quem foi surpreendido a infringir o Código da Estrada e nunca como intencionalmente utilizadas para ofender a honra do Exmº agente de autoridade autuante ou outrém.

Desde logo, o dizer-se que “não pago nada e não assino” é uma referência de opção pessoal que apenas terá reflexos na marcha e tramitação do processo contra-ordenacional.

Por outro lado, o vocábulo “caralho” utilizado, não obstante integrar um termo português de calão grosseiro, como se apreciou, foi proferido como desabafo e não como injúria dirigida ao OPC [3] autuante. Ou seja, o autor da expressão “desabafou” sem que se tenha dirigido ao autuante o epíteto, chamando-o ou sequer tratando-o por “Caralho”. Na gíria popular, considerado o contexto e as circunstâncias (pendendo divórcio e tendo já problemas, fica aceite uma fase de perturbação do autuado), tal expressão equivale a dizer-se, desabafando “caralho, estou lixado”. Admite-se que houve falta de correcção na linguagem proferida, mas não de molde a beliscar a honorabilidade pessoal e funcional do sr. agente autuante.

O facto de o magistrado infractor ter referido que não gosta de se identificar/exibir com o seu documento profissional (cédula pessoal de “livre trânsito”) não integra qualquer recusa de identificação, pois o autuado disse ser Procurador e identificou-se integralmente com o Bilhete de Identidade.

Por seu turno, o desabafo “Ai você quer vingança, então o agente F. ainda vai ouvir falar de mim” não contém qualquer ameaça, ainda que velada ou insinuante, pois que a frase não encerra qualquer promessa de um mal futuro que determine que o destinatário se possa considerar perturbado na sua livre circulação, passando a recear a concretização de que algum mal lhe suceda, como “prometido”.

São três os elementos essenciais do conceito de “ameaça” constante do tipo objectivo de ilícito: - um mal, que há-de ser futuro cuja ocorrência dependa da vontade do agente – cfr. AMÉRICO TAIPA de CARVALHO, Comentário Conimbricense, pág. 343.

O crime de ameaças do artº 153º CP, entre outros requisitos, exige que a ameaça seja proferia em tom sério e apta atingir a liberdade pessoal da pessoa humana, que compreende o interesse jurídico do indivíduo à imperturbada formação e actuação da sua vontade, à sua tranquila possibilidade de ir e vir, à livre disposição de si mesmo ou ao seu status libertatis, nos limite definidos na lei (neste sentido Nelson Hungria, II Vol., pág. 145).

E segundo Leal Henriques e Simas Santos, no seu Código Penal anotado (artº 153º) "a ameaça é punida, por um lado, pelo perigo que a acompanha e o alarme que poderia inspirar sendo conhecida; e por outro, porque é um acto de natureza a causar, por si só, perturbação social, isto é não lesando directamente a liberdade, contudo perturba a tranquilidade de ânimo, causando um estado de agitação e incerteza no ofendido ameaçado que não se crê seguro na vida ou nos bens." E dizem mais: "ameaçar é prenunciar ou prometer um mal futuro que constitua crime, é anunciar a intenção de causar um facto maléfico... é o facto de o sujeito, por palavras, escrito ou gesto, ou qualquer meio simbólico, anunciar à vítima a prática de um mal injusto e grave, consistente num dano físico, económico ou moral."

Finalmente, também o facto de o magistrado ter pedido a identificação do agente autuante não traduz qualquer ilícito, pois que consubstancia até um direito.

Supra, deixaram-se desenvolvidas algumas considerações jurídico-penais no campo de análise substantiva.

Todavia, também importante é ajuizar sobre a procedibilidade da comunicação para eventual procedimento criminal, dentro do quadro processual (direito adjectivo) e que afira da legitimidade do MPº para investigar e exercer a acção penal.

Os crimes que se poderiam ter como verificados (injúrias e ameaças) - e já se disse que não se mostram verificados os respectivos pressupostos ou elementos do tipo - têm natureza semi-pública (cfr. artºs 181º, 184º, 132º, n. 2, alínea l) e 188º, n. 1 alínea a), e 153º, n.s 1 e 2, respectivamente, todos do Código Penal).

Ora, atenta a natureza dos crimes in judice, conforme estipulam os artºs 48º e 49º do CPP, para que o MPº possa ser investido na legitimidade para a investigação e ulterior exercício da acção penal (se for caso disso), previamente tem de ser exercido o direito queixa pelo respectivo titular (o ofendido) tal como prescreve o artº 113º, n. 1, do CP.

E como se viu, os autos foram instaurados sem que tivessem o suporte de qualquer queixa ou manifestação de vontade de procedimento criminal, sendo certo que não se imputam ou descrevem factos integradores de outro/s crime/ s público/s.

Concluindo - e julga-se não haver motivos que aconselhem a maior profundidade e exaustão - não temos como verificado qualquer crime, maxime de natureza, pública que determinem a legitimidade do Ministério Público para promover o processo. E sendo assim, porque não há lugar a diligências de investigação e à constituição de arguido[4], determina-se o arquivamento dos autos (artº 277º, n. 1 do CPP).

Notificações e comunicações:

1. com cópia, comunique ao senhor Procurador-coordenador do Tribunal do Seixal, que informará o Exmº magistrado visado neste inquérito

2. com cópia, dê também conhecimento à Exmª. Procuradora-Geral Distrital de Lisboa.
--//--

Lisboa, 01 de Abril de 200
O Procuradora-Geral Adjunto
( João Manuel Parracho Tavares Coelho)


[1] - Procurador da República adjunto no Tribunal judicial do Seixal.
[2] - cfr. artº 92º do respectivo Estatuto (Lei n.º 47/86, de 15 de Outubro , sucessivamente alterada : Lei n.º 2/1990, de 20 de Janeiro, Lei n.º 23/92, de 20 de Agosto, Lei n.º 60/98, de 27 de Agosto, Rectif. n.º 20/98, de 02 de Novembro, Lei n.º 42/2005, de 29 de Agosto).
[3] - Abreviatura de Órgão de Polícia Criminal.
[4] - Por não haver “suspeita fundada da prática de crime”. (cfr. alínea a) do n. 1 do artº 58º do CPP).

Tempo de qualidade

O ser humano é um animal de hábitos e com mais ou menos facilidade acostuma-se e habitua-se ás várias situações e condicionantes da sua vida. E ao fazê-lo, vai seguindo um caminho que seguramente não o definiu à partida e em consciência não seria a sua escolha de destino, ou pelo menos de percurso. Quando tem a sorte de olhar para trás, apercebe-se o quão desviado está do que era a sua ideia inicial. Ás vezes olha a tempo e outras quando olha, descobre que se perdeu ..... ou que algures no caminho passou a caminhar sozinho sem se aperceber.

Todos queremos o melhor para nós e para os nossos, porém, a grande maioria tem de trabalhar muito para o conseguir. O problema é quando esse “tem de trabalhar muito” absorve grande parte do tempo e/ou da paciência.

Em todo este percurso de vida até agora e mesmo antes do tudo o que nos aconteceu, houve alguns ensinamentos que me foram muito úteis e constituíram uma espécie de bússola para o nosso caminho.

O mais simples de todos e que sempre tive presente foi o “só damos valor às coisas quando as perdemos”. Parece uma frase tão simples e banal que muitas pessoas descuram o seu verdadeiro sentido ..... até efectivamente ser tarde demais. Vale a pena reflectir um pouco nela de vez em quando. As melhores coisas da vida são as mais simples. Como é bom saber que sempre te dei valor e nunca me cansei de to dizer, meu amor.

Outro que também tenho sempre presente, foi-nos transmitido há muito tempo atrás um casal amigo, que lhes aconteceu um pouco o descrito no primeiro parágrafo. Era um casal com dois filhos e apenas voltaram a tomar consciência da felicidade que tinham quando compraram um cão. É verdade, quando compraram um cão. Até esse momento, o voltar a casa era um acto normal e rotineiro, porém, a alegria demonstrada pelo cão ao voltarem a casa fê-los tomar consciência da importância desse momento. Muitas vezes lembro-me dessa história ao ir buscar o filhão ..... e consciente ou inconscientemente, volto a dar mais valor a esse momento. Já o era antes de estarmos somente os dois e agora ainda é mais. Pensem um pouco neste parágrafo quando voltarem a estar juntos como família ..... nada têm a perder e tudo a ganhar.

Cada um precisa de reflectir sobre o que conhece e descobrir histórias, memórias ou ensinamentos para evoluir enquanto Homem. Descobrir o que o pode motivar ou ajudar a percorrer o caminho que tem de percorrer, por mais solitário que ele seja, ou pareça ser.

Por muito cansado que esteja e das tarefas que tenha para fazer, tento que o tempo que estamos juntos seja passado da melhor forma possível, e dando ao filhão a atenção que ele merece. Nem sempre é fácil e como ele está habituado a isso, se tiver de fazer um ou dois telefonemas ele logo se queixa do telefone. Foi uma questão de alterar os hábitos e as rotinas. Ao invés de fazer tudo o que preciso de fazer, passei a fazer apenas o essencial, tal como o jantar.

Para quem me acompanha e me conhece, sabe que me deito (praticamente) todas as noites com o filhão e lhe conto uma história, ficando depois um pouco a fazer-lhe companhia. Sei que muito em breve ele deixará de querer essa mesma companhia e os amigos tomaram um espaço cada vez maior na sua vida, porém, enquanto isso não acontece, estou a aproveitar este tempo que é nosso, fortalecendo a nossa relação e permitindo que possa genuinamente dizer que para além de pai e filho, somos grandes amigos. Depois sim vou fazer as minhas tarefas, sejam elas arrumar a cozinha, trabalhar, escrever no blog ou qualquer outra tarefa.

É o meu tempo de qualidade. É a minha forma de ter presente o quão importante são os amigos e a família ..... vale o que vale.

Dedicado a dois amigos que se estão a perder, cada um por motivos diferentes ..... e como diria o meu amor ..... Olhem sempre para o lado FIXE da vida.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Orçamentos

O filhão costuma dizer que os telejornais só dão más notícias, e mesmo assim muito raramente o canal visto é a TVI. Pelo meu lado acho muitas vezes que as noticias se repetem no conteúdo, apenas com uma forma diferente. Ver um grupo de Palestinianos à frente de Israelitas é em tudo similar a deputados de uma qualquer oposição à frente de deputados do governo ..... quando faltam as armas, tudo serve de arma de arremesso, sejam pedras ou estatísticas. Para os menos conhecedores de matemática, convém explicar que a estatística é uma ciência exacta na directa proporção do universo de dados que se escolhe para analisar.

Neste momento insiste-se na necessidade de ter ou não um orçamento rectificativo, não pela situação macro-económica de Portugal, mas apenas para apregoar a falha do governo em matéria orçamental. No dia que isso acontecer, é o chamado banquete político da oposição.

Como dizia um amigo meu, “um orçamento é um acto de contrição de fé”. A minha experiência em todas as empresas em que passei, tanto como consultor como quadro, é que se orçamenta mal, muito por culpa do processo em si. Como resultado disso, o último trimestre é muitas vezes um verdadeiro sufoco pelo facto da realização orçamental estar positiva ou negativa. A diferença de sinal é normalmente designada de stress dos seus responsáveis.

O orçamento deveria ser uma materialização da estratégia da empresa ou governo, na expressão a um período de tempo definido, regra geral um exercício fiscal. Isto muitas vezes não acontece. Na parte das receitas aumenta-se sempre pois raramente a estratégia é de redução. Na parte dos custos, um peso significativo são os projectos, porém, estes são muitas vezes apenas previstos e pensados em cima da construção do orçamento ou então vêm do passado, sendo que geralmente reflectem mais as necessidades operacionais correntes e menos a estratégia.
A doutrina é aumentar as receitas na estrita expectativa do EBITA esperado e depois logo se vê ..... o que dá sentido à expressão “contrição de fé”.

Um orçamento é a previsão das receitas e das despesas, o que no final dará um resultado que acima de tudo se destina a remunerar o accionista. É para isso que as empresas existem. Em alguns casos, como é o caso dos governos em áreas como a educação, o resultado financeiro deverá ser nulo e os resultados medidos de uma forma não financeira, ou seja, qualitativa. Mas tem de haver resultados. O princípio deverá sempre ser uma relação directa, ou seja, custos transformam-se em resultados.

No capítulo das despesas orçamenta-se o conhecido, com um grau de certeza directamente relacionado com a maturidade orçamental da empresa, porém, estou para conhecer a empresa que coloque uma rubrica de “Despesas desconhecidas” que seria calculada com base nos valores que todos os anos se incorrem e que não estavam ou podiam ser orçamentados. A verdade é que eles existem. O problema é que isso acaba por se reflectir no EBITA e como tal é mais fácil passar o ano a esconder ou justificar desvios estranhos, algo que se aprende na escola da vida na cadeira de contabilidade criativa. Como no estado não se pode canalizar verbas de umas rubricas para as outras, temos os problemas que temos.

Este fim-de-semana falava com uma pessoa que já fez todas as formações possíveis, algumas delas repetidas, pois no fim do ano as verbas de formação tinham de ser gastas. Este é o grande pecado do nosso Orçamento de Estado que nunca ninguém quis corrigir, seja por falta de visão, interesses diversos, falta de engenho e arte ou por uma das piores razões que existe ..... sempre foi assim.

Principalmente no Estado mas também nas empresas privadas, se não se gasta tudo o que foi previsto, no ano seguinte a diferença é retirada ao orçamento. Não interessa se foi bem ou mal gasto, apenas se foi ou não gasto. Para os idealistas que por esta altura estão a pensar que isso vai contra a étipa de bom profissional, não lhes digo que estão errados, pois não o estão, apenas que não vivem na realidade.

Se houvesse uma análise séria a esses desvios e o orçamento apenas reduzido no que efectivamente está a mais, não se incorriam em custos desnecessários, muitas vezes com impacto directo na produtividade. Faz-se muita coisa para cumprir os objectivos ou verbas definidos à mais de 400 dias atrás. O resultado operacional das empresas e organismos estatais sairia beneficiado, sendo provavelmente superior ao esperado, o que é sempre do agrado dos analistas e principalmente dos accionistas.

Mantendo-se a actual conjuntura macro-económica vamos acabar por ter de rever o Orçamento de Estado por via das receitas, ou neste caso a falta delas, mas iremos continuar a gastar mal verbas muito significativas até final do ano. É uma das perversões históricas do O.E. que ninguém tem coragem política de resolver ou minorar.

Na prática apetece dizer aquela célebre frase do conto de Hans Christian Andersen (“But he has nothing on at all,”), conhecido entre nós como “Olhem! ..... o Rei vai nú!

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sou um Euro-ignorante

As eleições para o Parlamento Europeu aproxima-se rapidamente e a única certeza que tenho é que sou um Euro-Ignorante. Apesar de acompanhar razoavelmente as notícias e ter alguma curiosidade, a verdade é que não faço a mínima ideia do que se passa no Parlamento Europeu. O que se passa por lá é quase totalmente desconhecido para mim e penso que para a generalidade da população.

Para além das linhas mestre que os países devem seguir e o dinheiro que ainda temos direito, o resto é uma incógnita.

Não sei bem o que é feito por lá e muito menos sei o que fazem os nossos deputados. Ocasionalmente até ouço referências a méritos atribuídos a alguns deputados Portugueses, como foi o caso da Joana Amaral Dias ou do João de Deus Pinheiro, porém, o que vemos é que independentemente do trabalho realizado, o facto de não serem da “turma” do presidente do partido, retira-os das listas e de poderem novamente desenvolver o bom trabalho que lhes foi reconhecido.

Tinha muita curiosidade de assistir ao Prós e Contras com os principais candidatos ao parlamento. A saber: Vital Moreira (PS), Paulo Rangel (PSD), Nuno Melo (PP), Miguel Portas (BE) e Ilda Figueiredo (CDU) ..... confesso que fiquei na mesma ..... e honestamente acho que foi um triste e paupérrimo espectáculo ..... mas quando se escolhem figuras de segundo plano, é natural que isso aconteça ..... e à boa maneira Portuguesa, aposto que hoje todos vão apregoar que ganharam o debate .....

Ouvi muita ofensa pessoal, muita política nacional, muitas tentativas de definir o que é ético, muita discussão sobre a responsabilidade da crise, a pertinência das auto-estradas entre Lisboa e Porto, a acumulação de cargos e funções, etc. Ouvi muito pouco sobre a Europa.

Como temos de começar por algum lado, vou tentar descobrir as respostas às seguintes questões:
– O Tratado de Lisboa pode ajudar a superar a crise na Europa ou estrangula as possíveis soluções?
– O que vai acontecer ao Tratado de Lisboa?
– Quais as principais medidas/políticas que cada partido defende em termos concretos?
– Para além das viagens e o aumento da sua conta bancária por via do salário principesco auferido, o que têm feito os nossos deputados?
– Quais os deputados que reconhecidamente apresentaram um trabalho válido?
– E desses deputados, quantos estão nas listas propostas e em que posições face ao último resultado eleitoral?
– O que podem fazer os nossos deputados numa Europa a 27?
– Qual é o contributo concreto e não utópico ou desejado que cada partido pode aportar?

Como não tenho uma filiação partidária e não voto porque gosto ou sempre votei no partido A ou B, estou num dilema. Tal como já escrevi anteriormente, faço questão de votar para assumir uma posição, porém, preciso da saber o que efectivamente cada partido pretende fazer para votar naquele programa que considero o mais correcto. Neste momento não sei em quem votar ..... mas a boa notícia (para mim) é que ainda tenho várias semanas pela frente.

Espero que haja sublimação nesta campanha. Apesar do começo ter sido uma autêntica desgraça, tal como no golfe, o importante não é como se começa mas como se termina. Ainda vamos a tempo!

domingo, 19 de abril de 2009

Responsabilidade Social

Várias são as empresas que apregoam a sua responsabilidade social como parte dos seus valores. Não só é socialmente correcto como fica muito bem em termos de marketing e nos relatórios de contas que por esta altura do ano são apresentados.

Mas responsabilidade social é mais do que dar dinheiro a instituições sociais ou obras. É mais do que reduzir custos em prol de poupar árvores ou outros recursos. Responsabilidade social é também desenvolver acções que levem as pessoas a envolver-se mais e passarem das palavras ás acções concretas.

Na passada sexta-feira a minha empresa juntou cerca de 80 altos quadros no que parecia ser um outdoor no Jamor. Tudo apontava para isso. No local estavam 2 camionetas nas quais entrámos para um destino incerto. Foi uma viagem curta até Benfica, onde entrámos na Casa do Lago.

Quando a CPCJP (Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo) identifica situações de risco ao ponto de ter de retirar as crianças às suas “famílias”, elas são imediatamente encaminhadas para uma casa de acolhimento temporário, onde deveriam permanecer não mais de 48 horas, em trânsito para a instituição que melhor esteja preparada para lidar com o seu caso. Não mais de 48 horas. Dentro destas várias casas de acolhimento, cada uma está melhor vocacionada para lidar com determinada faixa etária, sexo e a razão que levou à intervenção dos assistentes sociais. A Casa do Lago destina-se a rapazes entre os 14 e os 18 anos e com os casos sociais mais graves, sendo os seus profissionais reconhecidos como pertencendo aos melhores profissionais da área. Alguns permanecem lá anos.

O cenário com que nos deparámos foi uma casa antiga, de aspecto gasto a quem os anos não foram simpáticos. Ao redor da casa, um jardim em que a vegetação permitia não ver ou perceber bem o que lá tinha. Á chegada, uma tenda para onde nos dirigimos e onde recebemos uma t-shrit com uma frase indiciadora da missão que nos aguardava – “Por uma causa”.

Foi-nos explicado o que era a Casa do Lago e as principais dificuldades e angústias dos seus habitantes e dos profissionais que lá trabalhavam. Seguidamente explicaram-nos o que era esperado de nós – ajudar a transformar aquele espaço físico algo degradado num local mais acolhedor. No fundo, dar expressão física à humanidade que os profissionais colocavam no dia-a-dia daqueles jovens.

Fomos separados em 5 equipas, cada uma com uma tarefa a realizar ao longo do dia:
- Exterior – Limpar o jardim e transformar um barracão abandonado num ginásio, criando no exterior uma pequena área de actividades físicas para permitir gastar as energias “a mais”. Para além do referido, esta equipa plantou árvores, colocou bancos e fez caminhos com areia apropriada;
- Refeitório – Era um espaço frio em azulejos, que foi pintado e forrado a madeira, sendo colocados quadros e cortinados novos;
- Sala de Estar – O espaço de convívio estava também muito degradado, tendo sido pintado e arranjado, ganhando uma nova disposição e motivos de interesse;
- Quartos – Um longo corredor que albergava 15 quartos de aspecto similar ao resto da casa e onde a pintura amarela parecia mais um branco sujo. Foram totalmente pintados, com uma parede de cor diferente das restantes três, ganhando um kit novo composto por cortinados, tapetes, colcha e candeeiros. O corredor e as ombreiras das portas foram também pintadas.
- Equipa de Produção – Tinha como missão manter o animo, conduzir entrevistas, assegurar águas e viveres a quem necessitasse e ainda preparar a festa de recepção dos jovens.

O ânimo, entrega e dedicação de todos foi tal que rapidamente a equipa de produção ficou reduzida a 2 pessoas. Os restantes elementos juntaram-se à equipa de exteriores. Pessoas que se tratam no dia-a-dia por você estavam tão empenhadas que, no fervor da entrega, o “você” muitas vezes era substituído pelo “tu”. Pessoas que em casa nada fazem pois têm empregados, pintaram, lavaram chão e janelas, jardinaram, martelaram, etc ..... todos com apenas um objectivo ..... ter tudo pronto a tempo e horas.

De referir que para além de nós, estavam também presentes a empresa de eventos de recursos humanos e dois técnicos contratados (os nossos especialistas). A missão social e o emprenho de todos foi tal que, rapidamente estas pessoas para além da função para a qual foram contratados se juntaram à força de trabalho e passaram a ser mais alguns braços a trabalhar. Todos deram o seu melhor ..... todos!

No final do dia, com alguma vergonha à mistura, os “donos” da casa foram-se juntando do lado de fora. Para além dos actuais, os responsáveis convidaram também antigos casos de sucesso, o que nos permitiu assistir ao carinho com que foram brindados pelos técnicos e o sentimento com que retribuíram esse afecto. Foi em conjunto que entraram no seu espaço e foram recebidos por uma comitiva que lhes explicou o porquê do aparato e o que tínhamos feito para eles.

Na comitiva de recepção estava também o antigo capitão do Benfica e referência da nossa selecção Veloso que, num espírito altruísta de realçar, não só se juntou ao evento e acompanhou os jovens, como ainda lhes ofereceu bilhetes para o Benfica-Marítimo.

Ver aqueles jovens com histórias de vida muito complicadas a visitar o seu espaço com um sorriso de orelha-a-orelha, maravilhados pela transformação visionada é uma imagem que nenhum de nós vai esquecer tão brevemente. Para além de sorrisos houve vários abraços de genuína felicidade. A parte mais emotiva foi indiscutivelmente a visita aos quartos, espaço onde no final do dia eles acabam por ficar sozinhos na percepção da sua dura realidade ..... longe da “família” ..... longe do futuro ..... no momento mais difícil de quem sofre ..... houve lágrimas e choro ..... tanto deles como nosso ..... uma imagem vale mais que 1000 palavras .....

E depois de um pequeno lanche e palavras de agradecimento diversas, cerca de oitenta pessoas voltaram cansadas e doridas para o autocarro de volta ao seu ambiente e a uma realidade bem diferente, mas com um sentido de realização muito grande. Conscientes que deixamos uma realidade diferente do que tínhamos encontrado. Um lugar mais acolhedor e humano.

Isto também é Responsabilidade Social ..... e posta em prática.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Uma simples frase

Todos nós temos os nossos momentos bons e os nem por isso. Há alturas que nos sentimos qual Dom Quixote e podemos enfrentar todos os gigantes. Outras alturas há que no nosso caminho apenas vislumbramos muralhas que nos parecem intransponíveis.

Nos momentos difíceis são muitas vezes os pequenos nadas que nos dão alento. Pode ser a doce voz do nosso amor, aquele conforto que apenas ela sabe dar ..... muitas vezes era apenas um olhar ..... que saudades e que falta me fazes, meu amor .....

Quando metade de nós desaparece, é como perder uma perna ..... todo o nosso equilíbrio se esfuma. Temos de nos equilibrar com a que resta, o que é bem mais difícil ..... como viver é parecido a um barco em alto mar, nos momentos de tempestade o equilíbrio parece quase uma miragem. É nesses momentos em que nos agarramos ao que podemos e são esses outros pequenos nadas que nos ajudam a voltar a nos erguer. Pode ser uma palavra de um amigo, um desconhecido ou alguém que nos é muito próximo. Desde que funcione, pode ser qualquer coisa ou qualquer um.

Este fim-de-semana como o filhão foi passar uns dias ao Algarve, fui ter com ele e por uma boa desculpa de espaço, ficamos no mesmo quarto. Na noite anterior ao meu regresso, quando ele já começava a ficar nostálgico por saber que o pai regressava um dia mais cedo a Lisboa, acordou de madrugada e sentindo-me acordado, disse mais ou menos isto: “sabes pai, quando for grande quero ser assim como tu, boa pessoa e muito amigo dos meus filhinhos .....

Por momentos fiquei sem palavras ..... completamente desamparado ..... mas aquelas simples palavras a que se seguiram o filhão enrolar-se no pai e voltar a adormecer fizeram milagres em termos de força anímica .....

Obrigado filhão ..... és sem margem para dúvidas um orgulho para o pai e para a mãe.

sábado, 11 de abril de 2009

Em meu nome ..... ou talvez não

Muitas são as acções que em princípio são excelentes medidas mas no final, por este ou aquele motivo o fim não é o desejado. Mas o capitalismo é basicamente a apologia do negócio e visa o lucro, o que faz aparecerem uma série de medidas que encobertas pelo manto das “boas vontades”, mais não são que oportunidades de negócio para alguns.

A guerra entre a Ordem dos Médicos e a ANF não é mais que uma guerra de dinheiro. Por detrás de ambos está o pretexto da saúde da população, mas na prática é a discussão de quem lucra. Se os médicos pela relação com a industria farmacêutica, que alimenta a investigação e os congressos dos médicos, se as farmácias com as margens dos genéricos que ficam nas farmácias. A estes factos economicistas junta-se também a guerra de classes, muito típicas deste meio, que faz com que um médico não aceite que um ser inferior em estudos e conhecimentos troque o que ele prescreveu.

Depois de várias trocas de argumentos, a ministra veio tomar a última palavra e veio a público dizer que apenas comparticipava os medicamentos que os médicos dessem autorização para alterar. Apesar de ser uma medida sensata entre ambas as partes, obviamente privilegia o lado dos médicos, e foi com naturalidade que assistimos à réplica da ANF com ameaça de tribunal. Previsível.

Na teoria, quanto menos o cliente pagar, melhor. Na prática, existem situações que ou por motivos puramente médicos ou por suposição destes benefícios, os doentes ficam melhores com os medicamentos de marca e não os genéricos. Por outro lado, existem genéricos mais caros e, a estes factos, temos de nos lembrar que os próprios genéricos são em si um negócio, em que as farmácias detêm um papel muito importante na distribuição. Existem motivos e argumentos para sustentar ambas as utilizações.

Para um determinado medicamento, para além da marca podem existir vários genéricos e, segundo o principio dos mesmos, deveriam ser todos iguais. Se o interesse das farmácias fosse apenas o cliente, teriam apenas o mais barato, porém, como todos sabemos isso não é verdade. A estratégia comercial mais ou menos aguerrida impõem portanto apenas algumas marcas e, como o farmacêutico é o elemento comercial por excelência desta industria, o resto é simples de concluir. Segundo a lei, os farmacêuticos deveriam de explicar várias coisas quando aviam uma prescrição e nós assinamos atrás em como fomos informados ..... há anos que ninguém me explica nada e há anos que eu assino o que sei que não devia assinar.

Fico chateado quando sou usado numa guerra de quem lucra, quando sei que não sou o motivo dessa luta. É verdade que fico a ganhar com os “despojos da guerra”, mas não me utilizem como arma ..... ou pelo menos, não me tomem por parvo.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Voltei ao golf

Durante anos tinha uma vontade muito grande de aprender golfe, o que só foi possível há cerca de 10 anos, muito por insistência e força do meu amor. Na parte final da gravidez, as nossas manhãs eram passadas no Parque Eduardo VII com o seguinte programa:

1. aulas de golf para mim, a que o filhão assistia na barriga da mãe;
2. aula de preparação para o parto onde íamos os dois;
3. aula de hidroginástica para grávidas a que a Ana ia;
4. almoço de salada na varanda a ver ténis e pássaros.

As águas da Ana rebentaram quando num sábado voltávamos para casa depois de um programa destes.

Com o decorrer do tempo, comecei a bater umas bolas, ir ao campo com alguns amigos e iniciei-me em torneios pela mão de uma amigo que infelizmente também já partiu. Mais tarde a Ana iniciou-se também ela no golf, o que nos proporcionou belas tardes conjuntas de conversa, passeio e ar livre.

Como querer não é saber, e o tempo dedicado ao golf não podia ser o desejado, é com grande pena minha que refiro que nunca baixei do inicial handicap 28. Com o filhão não era fácil irmos os dois e acabei por deixar de jogar tanto quanto gostaria pois sempre preferi o tempo em família ao tempo de prazer que o jogo proporciona. Entre passarmos uma manhã ou tarde juntos ou apenas eu no meu divertimento, a escolha foi fácil ..... mas o bichinho nunca desapareceu.

Após um interregno de 3 anos em que por diversos motivos não peguei num taco, voltei esta semana ao campo ..... que maravilha. Andar por entre a natureza, as árvores, os patos, a paisagem ..... e até tive a sorte de ver um coelho quando procurava uma bola no meio do mato ..... diga-se que eu não falhei o shot ..... não, a bola é que fez um intervalo para satisfazer as suas necessidades fisiológicas. Foi um belo jogo.

Como a melhor forma de terminar é com um piada, vou-vos contar a história da primeira vez que fui para o campo. Foi na Academia Internacional de Golf, que é um campo pequeno de 9 buracos e que começa e acaba num lago. O mesmo lago, mas de locais diferentes. O primeiro buraco é um par 3 que devido aos nervos de ser o meu primeiro, obviamente falhei logo na tacada de saída. A minha bola foi alojar-se no meio de uns juncos antes do lago, o que me obrigou a fazer um drop (deixar cair a bola em local jogavel a um máximo de 2 tacos de onde se encontrava). Sendo a segunda tacada, concentrei-me um pouco mais mas o resultado não foi novamente brilhante ..... um lago é uma barreira aterradora para qualquer golfista, especialmente para um iniciado.

Ao invés de uma bola alta em arco como vemos os profissionais fazer, saiu uma bola baixa ..... e ouviu-se um grande e estrondoso QUAC !!! ..... acertei num pato! ..... o meu primeiro buraco e acertei em cheio num pato no meio do lago ..... quais as probabilidades???

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Hipocrisia organizacional

Existe um ditado português que diz que de médicos e loucos todos temos um pouco, porém, se à frase se pudesse juntar “e de má língua”, eu acho que continuava a ficar na generalidade correcta. Para não ferir susceptibilidades dos mais pudicos, direi que não sendo todos mas a grande generalidade de nós acaba sempre por tecer comentários menos abonatórios sobre outros, muitas vezes por puro desconhecimento.

Isto é (maioritariamente) verdade tanto na nossa vida particular como nas nossas empresas. Quem não disse já que o chefe não fazia nada ou que o departamento ou equipa do lado tinham uma produção não condizente com a empresa ou o seu vencimento? Quantas foram as vezes que saiu da boca uma frase da família do “ganham muito e fazem pouco”? ..... à conta desta crise, deve ser o que mais se ouve por aí!

Fiquei a saber que um colega meu levou recentemente uma valente reprimenda devido a um comentário feito sobre o binómio produção/vencimento. Algo que qualquer um de nós diria, até porque parece ter sido do mais genérico que existe. O que mais me chocou não foi a conversa, dado que tenho uma opinião menos abonatória sobre a sua chefia em termos de posicionamento como colega e chefia. O que mais me chocou foi que tudo partiu de uma conversa de café onde se diz os maiores disparates pois é um ambiente descontraído ..... e foi parar às orelhas do seu chefe, ávidas destas coisas ..... fiquei chocado com a cultura organizacional que a minha empresa tem. E como estávamos na conversa, descobri que colegas meus de departamento tiveram o mesmo problema, apenas que o nosso chefe não valorizou mais que na estrita dimensão do problema organizacional que essas pessoas se estavam a habilitar. Bom senso ao invés de perseguição.

É certo que uma organização não pode tolerar um clima de comentários, com risco de minar o seu bom funcionamento. Tal como não pode permitir que o boato se sobreponha à realidade factual, o que normalmente acontece quando não se comunica correcta e atempadamente. Daí a fazer perseguição pessoal sobre algo que humanamente sempre se fez e fará, parece-me uma autêntica hipocrisia organizacional.

Eu posso falar mal com os meus pares da empresa e dos meus colegas, mas as minhas pessoas não. Falou mal e foi apanhado, óptimo, para além da avaliação já tenho outro bom momento para mostrar quem manda e “bater” ..... pobre organização que assim funciona, pois o caminho é afastar-se da produtividade e bom espírito de grupo que permite emprenho e maior agilidade na transposição das dificuldades.

O meu colega deve ser neste momento um exemplo de motivação!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Saber arriscar

Inicialmente este texto ia-se chamar de “A mentira tem pernas curtas” e visava uma situação que assisti a ainda assisto sobre alguém que se “vendeu” como sabendo muito e não está a corresponder às expectativas. Pior do que isso, todas as mentiras que disse na sua admissão foram descobertas assim que entrou pois quem já lá estava conhecia pessoas da empresa de onde essa pessoa provinha.

A predisposição dos restantes elementos, alguns com mais experiência real e menor vencimento obviamente não foi nem poderia ser a melhor. A estes factos e sentimentos aliou-se uma série de asneiras e muito fraca produtividade, resultando numa conjuntura que não sei como a pessoa em causa irá ultrapassar.

O meu primeiro título obviamente reflectia tudo o anteriormente exposto, porém, ao ouvir os meus próprios pensamentos lembrei-me do meu percurso inicial e as várias entrevistas de emprego a que fui. Recordei isso e lembrei-me em como também eu adocei um pouco alguns conhecimentos ..... em consciência não poderia colocar esse título, mesmo nunca tendo mentido descaradamente como foi o caso.

Muitas vezes me lembro das palavras de um administrador de uma empresa para a qual prestei serviços de consultoria sobre um dos seus ex-directores – “só há dois tipos de incompetentes, os que têm sorte e os que têm azar”.

Onde está então a diferença? ..... é que sempre que me foi dado o desafio de corresponder às expectativas me preparei muito antecipadamente, estudando os assuntos afincadamente. Lembro-me de no tempo de programador ter mandado vir livros pela internet através de um colega (eu ainda não tinha) e ter passado dias e noites a estudar e a treinar. A Ana, o meu grande amor, inspiração e suporte passou horas a ensinar-me contabilidade e gestão, que eram valências que o meu curso não me tinha dado. Os seus livros e cadernos foram reutilizados até altas horas da madrugada. Tudo o que sei na vertente económica devo às bases e conhecimentos que a minha Soul Mate me ensinou. Essa é a única diferença ..... arrisquei mas tudo fiz para estar à altura ..... sempre tive determinação e afinco.

Evoluir é isso mesmo, é ter a coragem de arriscar em águas agitadas, fugindo à monotonia das calmas águas do lago. Gosto muito da frase “ter coragem não é não ter medo, é enfrentar os nossos medos” e, nessa óptica, deixo-vos uma frase da minha autoria – “Arriscar é ir para além da nossa margem de conforto”. Por ser uma frase do mais obvio que existe, apresento desde já as minhas desculpas se alguém já a tiver dito.

É preciso coragem para arriscar, porém, é burrice deixar o destino ao sabor acaso. A preparação é a chave do sucesso, mas quanto mais se arrisca mais deve ser o empenho com que fazemos as coisas ou estudamos novos temas e situações. Estupidez não é arriscar no que não se conhece, é não colmatar o desconhecimento.

Todas estas pequenas verdades são tão aplicáveis a uma pessoa que inicia um novo trabalho, como uma nova função, como igualmente um novo projecto ou investimento. A preparação e o conhecimento são a chave do sucesso ..... se não temos ainda, é fácil, é preciso trabalhar mais que os outros para passarmos a ter.

domingo, 5 de abril de 2009

O tempo

Um dos muitos mails que recebi e reencaminhei falava sobre o tempo e das diferentes percepções da sua dimensão mediante uma determinada situação. Tudo é pouco ou muito mediante a conjuntura desse mesmo advento.

Para perceber a importância de um décimo de segundo, falamos com um corredor de 100 metros que não bateu o recorde do mundo por essa diferença ..... para perceber a importância dos segundos, é assistir ao nascimento do nosso filhão e esperar aquele primeiro choro ..... para perceber o que representa um minuto, lembramo-nos do comboio que na plataforma vimos partir da estação ..... para perceber a importância de um ano falamos com um estudante que chumbou no exame ..... e por aí a fora .....

O tempo que vivemos juntos foi tão lindo ..... um belo e edílico paraíso ..... mas já foi há tanto tempo ..... parece que foi ontem mas infelizmente isso não é verdade ..... já só posso ouvir a tua melodiosa voz em gravações e no meu coração ..... pobre e triste o nosso fado ..... tenho tantas saudades tuas, meu amor, minha soul mate, minha linda e doce namorada .......... amo-te tanto meu amor .......

Olho para as nossas fotografias e dói ..... és apenas uma maravilhosa recordação, para sempre perpetuada no meu coração ..... um anjo que por cá passou e tudo mudou ..... metade de mim que se eclipsou ..... tão pouco para alguém tão especial ..... como te amo tanto, meu amor.

Dói ouvir o filhão dizer que já não se lembra bem das brincadeiras que fazia contigo ..... que já não se lembra bem da mãe ..... que já precisa olhar para as fotografias para recordar ..... são palavras honestas mas que me dilaceram por dentro ..... não mereciam isso ..... tu não merecias .....

Perfaz hoje um ano que depois de uma descida desde o paraíso, aterrei de cara no chão depois de Alguém nos ter pregado uma valente e vil rasteira ..... espoliado do que de bom a vida tinha ..... o tempo ..... perdi a noção ..... os ponteiros giram interminavelmente ..... ao dia segue-se a noite e depois o dia, num simples movimento perpétuo ..... um ano, um mês, uma semana, um dia ..... um segundo, um décimo ..... apenas um tempo que não queria ..... para quê? ..... aquele banco de jardim é já somente uma miragem .....

O tempo ..... cruel realidade com que temos de viver ..... faz hoje um ano ..... tenho tantas saudades tuas, meu amor .....