sábado, 28 de junho de 2008

Términos de uma época e um ciclo

Terminou esta semana a época futebolística e a presença no Sporting para o João. O meu agradecimento ao SCP enquanto instituição por tudo o que proporcionou ao João, assim como aos seus treinadores, em especial ao Nuno Figueiredo a quem telefonei pessoalmente a agradecer.

Sendo o pior período por que passamos por motivos pessoais, os treinos e jogos eram um momento especial para o João, onde esquecia todos os seus problemas e se divertia fazendo uma das coisas que mais gosta, ser guarda-redes. Aqueles dois treinos que ele tinha, eram um momento de escape à sua dura realidade, para o qual contou com a ajuda dos treinadores, amigos e todos os demais elementos do SCP, aos quais deixo um grande e sincero obrigado. Para o desenvolvimento e equilíbrio do João considero que foram fundamentais e nesse aspecto uma das razões que me levam a efectuar este agradecimento público.

Embora não goste de particularizar, vou-o fazer em 2 casos. O primeiro vai para o treinador principal, o Nuno Figueiredo, o qual equiparo ao Miguel, treinador do João no SLB na época de 2005/06. São treinadores maravilhosos que conseguem ensinar e incentivar as crianças, num ambiente calmo e sem gritos, como ainda se vê muito em vários treinadores. Ensinam enquanto as crianças se divertem. O outro agradecimento especial vai para o Sr. Passarela (e peço desculpa se me enganei a escrever). No dia que se seguiu ao falecimento da Ana, o João tinha um jogo de manhã e uma entrada com os jogadores à tarde. Ele não quis ir ao jogo, mas quis ir entrar com os jogadores ..... “é para não pensar em coisas más e ficar triste .....”, disse-me o meu menino ..... chorei copiosamente ..... nessa tarde/noite, pedi ao Sr. Passarela se era possível fazer com que o João entrasse com a equipa do SCP, uma vez que era a 5ª ou 6ª vez que entrava com os jogadores (SLB + SCP) e nunca tinha tido a sorte de acompanhar a sua equipa. Não só entrou com o SCP, como entrou com o seu ídolo, o Rui Patrício ..... que feliz que ele estava ..... quando me ligaram a dizer que o tinham visto e estava feliz, depois do primeiro impulso se ligar á Ana para lhe contar, chorei até à exaustão ..... foi o meu primeiro grande embate com o vazio ..... a ele em especial ..... Obrigado!

Como em todas as histórias, não há bela sem senão ..... esta foi uma época muito difícil para o João, pois veio acompanhar parte dos 17 meses em que decorreu a doença e falecimento da Mãe, o que podem perfeitamente perceber, é um factor com muito peso numa criança de 9 anos. Como se isso não fosse suficiente, 2 semanas após o funeral da mãe, a avó entrou no hospital, para falecer 2 meses depois. Nesta terrível semana que termina, que para mim, enquanto pai foi uma das piores que já tive, fui obrigado na 2ª-feira a dizer ao meu filho que a avó tinha falecido e na 3ª-feira, que o Sporting já não o queria mais, convidando-o a procurar outras paragens ..... a imagem daquela cara triste de quem lhe tira mais um pedaço de felicidade há-de me acompanhar para toda a vida ..... podia ter sido evitada.

O João vinha de 2 anos no Benfica, que tem uma filosofia completamente diferente ..... comparar o SCP com o SLB em termos de formação é comparar o dia com a noite ..... não existe comparação, apenas semelhança porque ambos giram à volta de uma bola ..... e digo isto com a maior das isenções. O treinador de guarda-redes apontou a saída do João ao facto de ele não tendo evoluído o que se esperava ..... como é possível uma criança com os problemas que ele teve esta época se empenhar mais? ..... os treinos era o tempo em que o João esquecia os seus problemas e se divertia, fazendo uma das coisas que mais gosta, ser guarda-redes. Acompanhando o João, tenho a plena consciência que ele não se aplicou o que devia e poderia e que a sua atitude não foi a que sei que ele poderá e deverá ter ..... sempre o soube mas não lhe exigi mais, até porque era o primeiro a não o deixar ir aos treinos todos porque a escola está em primeiro lugar e ele é um aluno de “18” ..... sempre esperei que o SCP, como grande instituição que é, lhe desse o benefício da dúvida e o avaliasse correctamente na época seguinte, determinando então com rigor e isenção se ele tinha ou não as características que eles pretendem ..... no fundo, fazer um pouco a protecção que o Paulo Bento fez esta época ao Rui Patrício ..... considero que isso sim, teria sido mais justo para o meu filho ..... paciência, no bottom line, as instituições visam o lucro, mesmo que futuro ..... esta não foi na minha opinião, excepção à regra.

A época termina e há que começar a procurar outro clube porque o João quer continuar a ser guarda-redes ..... na 3ª-feira, enquanto íamos cabisbaixos para o carro, o João perguntava ..... “ ..... Pai, posso ir para o Pastilhas? ..... é para recomeçar outras vez, desta vez por baixo como o Figo fez ..... talvez um dia mais tarde o Sporting me queira outra vez .....”

..... como pai, resta-me agradecer tudo o que o Sporting fez pelo meu menino e procurar outro clube que tenha a competição que o João gosta e precisa ..... começou o defeso.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ensino: investigação vs despesas correntes

Esta semana tem sido rica em mensagens sublimes das universidades à sua tutela, com o objectivo claro e inequívoco de obter mais dinheiro. Com ou sem razão, o facto é que vários estabelecimentos de ensino se deparam com falta de verbas. Faz-me confusão ..... não percebo.

Segundo a nossa constituição, e corrijam-me se estiver enganado, o ensino e a saúde devem ser tendencialmente gratuitos ..... talvez a razão de acharmos que os políticos estão afastados da nossa realidade, é porque a própria constituição está efectivamente afastada da nossa real realidade, ou não haveria lugar á aplicação de Propinas e Taxas Moderadoras ..... ou será que a prática está oposta à teoria por pura utopia dos princípios?

..... mas esse afastamento é também fomentado pelos próprios políticos, que demonstram falta de dignidade e respeito, como é o caso do Sá Fernandes do Bloco de Esquerda ..... mas isso já falei no artigo anterior, Indignação – A falta de humanidade das regras ..... diz o ditado que a mulher de César não pode somente ser séria, também tem de o parecer ..... mas pretender parecer sem efecticamente o ser não só é desonesto como politicamente fraudulento ..... se não percebe o porquê, pergunte a alguém que não lhe preste vassalagem .....

Voltando ao tema ..... sendo o objecto de uma escola pública, independentemente do seu grau de ensino, a prestação de um bem essencial ao desenvolvimento da sociedade em que se insere, ou seja, a formação do individuo com vista a torná-lo um instrumento activo de desenvolvimento e progresso dessa mesma sociedade e país, estas noticias não deveriam parecer tão “normais” e “useiras”.

Pensando de uma forma financeiramente simplista, é uma questão de balanceamento entre o deve e o haver, ou seja, o modelo financeiro de suporte deveria estar construído de forma a que as receitas a receber do estado deveriam corresponder aos custos racionais de uma instituição dessas, calculadas realisticamente em relação ao corpo docente necessário, às despesas fixas baseadas no local e geografia da instituição e, a complementaridade da sua actividade, tal como a investigação.

Em relação às despesas fixas, o seu não controlo pode provocar obviamente distorções no orçamento da escola, porém, se os nossos impostos já podem ser calculados de forma estatística (índices), estas também podem ser mais realisticamente previsíveis ..... e existe sempre o histórico para ajudar a calibrar cada caso de uma forma individual.

Como a educação é um desígnio nacional e um dos pilares para um crescimento futuro de forma sustentável, obviamente que o rigor financeiro terá de ser ponderado face ao meio envolvente da instituição, sabendo-se à priori que o litoral é diferente do interior, o norte diferente do sul, o continente diferente das ilhas e por aí a fora ..... chamemos-lhe a Equidade Social e coloque-se um montante nas receitas ..... Equidade Social ..... frase bonita que pode significar tudo ou nada ..... mas permite a instituições com poucos alunos porque eles fisicamente não existem, serem economicamente viáveis. Todos têm de ter direito à saúde e educação ..... segundo a constituição, tendencialmente gratuitos ..... só para lembrar .....

Se este modelo existir, assim como auditorias e um organismo normativo e devidamente credenciado para intervir, estas notícias não iriam aparecer quase semanalmente nas notícias ..... obviamente que este semanalmente apenas se inicia perto do verão, quando o orçamento já está na reserva ou a instituição efectuou um forecast e percebeu para onde vai se não chorar por mais dinheiro ..... aplicando o triste fado do Português .....

Eu sei que se gastam milhões na educação mas, em estudos internacionais os resultados são claros ..... gastamos muito e obtemos pouco do nosso ensino ..... onde está o problema? ..... porque se queixam tanto as instituições de ensino? ..... para quando um estudo publicado e conhecido sobre os rácios económicos das instituições de ensino, com a devida ressalva do enquadramento socio-económico, ou este estudo não compara o que pode ser comparável.

Porque tantas instituições de ensino têm problemas financeiros? ..... o erro está no modelo ou na aplicação e gestão que as próprias instituições fazem? ..... como cidadão minimamente informado, não consigo responder a esta questão e gostava de saber quem tem razão:
os sucessivos governos ou os sucessivos corpos gerentes das instituições de ensino?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Indignação – A falta de humanidade das regras

As regras tanto podem ser benéficas como completamente desprovidas de um pingo de humanidade ..... este é claramente um caso de falta de humanidade e respeito pela condição humana ..... e quando falta a dignidade, falta tudo.

Há pouco mais de dois meses, perdi a minha bela esposa, após 17 meses de luta contra uma leucemia secundária, fruto de um tumor no cérebro detectado no longínquo ano de 1999 ..... ela era metade do meu ser e, nessa mesma fatalidade, o meu filho perdeu a sua carinhosa e maravilhosa mãe e o meu sogro perdeu a sua filha ..... como é terrível um pai assistir à partida de um filho ..... mesmo tendo uma dor tão grande, como grande era o nosso amor, não consigo sequer imaginar essa perca.

Duas semanas depois, a minha sogra deu entrada no Hospital Amadora-Sintra, que serve a área onde eles moram, Massamá. Depois de quase um mês de análises e exames, finalmente apareceu o veredicto ..... cancro nos pulmões ..... com metástases em vários órgãos do corpo ..... sobreviveu apenas mais um mês .....

Depois de suportar a perca de uma filha, o meu sogro teve de acompanhar o sofrimento da mulher ..... e acreditem que sei o que ele sofreu ..... para tudo terminar hoje, um mês após completar 60 anos .....

E aqui começa a sua, que é a nossa revolta. Para poder sepultar a mulher ao lado da filha, que por opção quis ser cremada, ele optou pela cremação ..... tudo simples até a burocracia Portuguesa começar!

Segundo informação obtida, por indicação do vereador Sá Fernandes, todos os falecidos fora dos hospitais de Lisboa, têm de ser cremados fora de Lisboa ..... sem excepção nem análise da situação actual ..... como o crematório dos arredores de Lisboa está inoperacional, a minha sogra que faleceu na segunda-feira, apenas pode ser cremada na sexta-feira (1 semana!) em Ferreira do Alentejo ..... esta é a sua e a nossa revolta!

Onde está a dignidade desta situação ..... as regras têm de ter em conta as situações conjunturais e particulares ..... neste caso, não faz sentido que apenas havendo o crematório do Alto de Sº João operacional, que este não substitua o outro que está inoperacional ..... se o primeiro ministro não puder governar, ninguém governa?

Como é possível que alguém que perde uma filha, se veja na situação de ter de esperar quase uma semana para sepultar a mulher, tendo de para o efeito ir de Lisboa a Ferreira do Alentejo ......

..... como é possível?

terça-feira, 17 de junho de 2008

Mérito a quem o merece

Escrevo esta crónica enquanto espero pelo João para o levar à psicóloga do IPO. Felizmente que aquela instituição tem profissionais preparados não só para ajudar os doentes, como os seus familiares directos.

Este processo começou quando começamos a ver a janela a fechar-se, na nossa tentativa de preparar o João para o possível inevitável ..... que o foi mesmo, infelizmente ..... desculpem a interrupção ....... porca de vida! ...... bom, continuando ..... queríamos tentar fazer as coisas o melhor possível, o que equivale a dizer, preparar o João o melhor possível, começando por saber o que dizer, como o dizer e quando o dizer. Tínhamos as nossas ideias mas queríamos ter a certeza ...... era a saúde mental e sofrimento do nosso menino que estava em causa ..... tudo o que pudéssemos fazer para reduzir o seu sofrimento, estávamos preparados para o fazer.

Começa aqui o mérito a quem o merece. Em primeiro lugar para a Ana que, como já tive oportunidade de escrever, foi de uma coragem que não tenho palavras para descrever ..... colocou o filho à frente da sua dor e assumiu o ónus de o preparar, com todo o sofrimento pessoal que isso acarretou ..... que mulher!

As indicações da psicóloga felizmente foram ao encontro do que pensávamos ..... dizer a verdade ao João de forma a que ele fosse se apercebendo, sabendo que o fim estaria no horizonte como uma realidade e, acima de tudo, que fosse através de nós que ele soubesse e não pela boca de outros ..... era a nossa maior preocupação ..... achávamos e achamos que a confiança dele em nós passava por aí ..... como a concordância dos especialistas na nossa maneira de pensar nos aliviou e nos deu animo e força .....

Depois do triste e fatídico desenlace, o apoio da psicóloga foi muito importante para o ajudar a equilibrar as emoções, focalizar no que a mãe foi e representou para ele, e, acima de tudo e mais importante, ajudou-o a interpretar a frase que era o lema da Ana ..... olha sempre para o lado FIXE da vida ..... perceber que isso não significa ser um falso positivo, ou seja, que nem tudo está sempre bem ..... é preciso ter a consciência disso ..... o risco era o João cair nessa “esparrela” apenas para fazer o que achava que a mãe quereria ..... saber por outra boca que não a do pai, que faça o que fizer, a mãe terá sempre orgulho nele e que não a vai desiludir .....

O próximo mérito a quem o merece vai para a psicóloga Mª de Jesus ..... perceber os riscos que estas situações possuem e direccionar o João no caminho certo, ajudando-o a escrever o livro das suas memórias da mãe ..... algo que por muito que eu quisesse nunca conseguiria fazer ..... não de uma forma isenta e imparcial ..... obrigado dos pais!

Na escola o acompanhamento foi também exemplar, não fosse a Sandra não só uma excelente professora como uma excelente amiga quando ele precisa ..... na verdade é onde o João passa mais tempo do seu dia (acordado). Volto a não ter palavras para agradecer todo o apoio, num ano tão perturbador ..... sem benesses nenhumas, o João foi capaz de manter as notas ..... mérito a quem o merece ..... obrigado Sandra ..... e restantes elementos do Colégio Manuel Bernardes, que não quero enumerar para não correr a injustiça de me esquecer de alguém ..... o mérito das notas do João é dividido entre ele e vós ..... obrigado!

O penúltimo mérito é para o nosso orgulho, o João, que tem conseguido superar esta tremenda perca, não caindo nem no facilitismo da vitimização, nem no tal falso positivo ..... sendo aquilo que sempre foi ..... um filhão espectacular que é o orgulho dos pais ..... não sei bem o porquê da associação de ideias, mas é como uma frase que li em tempos “coragem não é não ter medo ..... é saber enfrentar o medo!” ..... o mérito é fundamentalmente dele ..... tenho orgulho de ti, meu filhão lindo.

Voltando ao último mérito a quem o merece ..... novamente ao meu amor por ter conseguido criar bases tão sólidas nesse orgulho de pessoa e filho que é o João ..... amo-te muito, meu amor! ..... que saudades que tenho de ti ..... obrigado mais uma vez por tudo o que fomos um para o outro e que vivemos em conjunto, tal como duas verdadeiras soulmates ..... amo-te muito .....

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O pequeno ditador

Hoje estive à conversa com uma colega que tem um pequeno problema ..... um pequeno ditador em casa. A filha está a passar aquela fase dos 3 anos em que tentar impor as suas vontades, “esticando” até poder para perceber os limites. Ora aí está um problema e um desafio.

Para ajudar a tentar “domar o bicho”, ela comprou um livro com o mesmo título deste texto, a fim de tentar perceber o que deveria fazer. Uma boa decisão desde que não seja levada á risca. Eu explico. Cada criança é única e reage de forma diferente a situações que embora sejam parecidas, são sempre diferentes. Instintivamente lembrei-me de mim que, quando o João nasceu, ofereceram-me o famoso livro do não menos famoso Dr. Stock, para, anos mais tarde e já depois da sua morte, a mulher vir para a praça pública dizer que não o tinha considerado um bom pai ..... confesso que foi um choque. Hoje em dia olho com a devida distância estes livros, optando pela génese que deve nortear a literatura e os livros ..... fazer-nos pensar, tal qual chinês ensina a pescar.

O segundo pensamento foi obviamente para o nosso orgulho, o João. Como todas as crianças, também ele passou por essa fase. No decorrer da conversa, aproveitei para fazer uma pequena introspecção e transmiti-lhe a minha opinião sobre como fizemos, tarefa essa muito facilitada pela génese do João, que é um orgulho de filho, para sogra nenhuma “botar” defeitos ..... já estou a treinar!

No nosso caso, fomos dando ao João o seu espaço para lhe permitir ter vontade própria e, sempre que foi preciso dizer não, a palavra tão odiada pelas crianças foi sempre acompanhada de uma explicação. Nunca houve um não porque não, ou porque “eu quero”, que é tão simples de o fazer para quem detém o poder ..... os pais. Cada vez que houve necessidade disso, sempre lhe foi explicado o porquê, o que no caso de uma criança não é fácil colocar de maneira a que ele perceba e não é fácil a ele perceber. Compreendendo ou não, aceitando ou não, sempre houve uma explicação. Acho que isso ajudou muito, uma vez que quando ouvia um não, o João sabia o porquê disso, que existia uma razão ..... o que ele não conseguia atingir, obviamente, é que ele tentava esticar ao máximo os seus limites, e nós íamos controlando para que ele não se tornasse num ditador. Outro factor importante foi a consonância de pensamento e acções entre pai e mãe, não lhe dando oportunidade de aproveitar as contradições em seu benefício, ao que se aliou a convicção da afirmação ..... vacilar à frente de um pequeno ditador ou projecto de, é como estar em frente de um poletão de fuzilamento e gritar fogo! Acho que o nosso truque foi exactamente a combinação desses factores, ou seja, o não permitir tudo como ele queria, aliada a uma explicação plausível no momento certo do não. Acho que foi uma prova superada, pelo menos até agora.

Obviamente que neste processo, e fruto dos tempos que correm, ele foi conseguindo vários ganhos por via de ser bom filho e ser carinhoso ..... a televisão da sala é dele, tendo eu e a Ana chegado muitas vezes a ver as notícias de pé na cozinha para deixar a televisão para o menino ..... o nosso pequeno ditador, ou como carinhosamente dizíamos, o patrãozinho ..... mas sempre sem stress, tipo derrapagem controlada num rally de WRC.

As crianças começam a medir forças e ganhar o seu espaço por volta da idade da filha da minha colega, os três anos e, acho que nunca o deixam de fazer ..... faz parte do seu processo normal de crescimento e afirmação. Na realidade, mesmo em adulto o fazemos. O importante é que eles percebam que uma família é por si só uma pequena comunidade, e que a sua liberdade termina onde começa a dos outros.

O vazio foi a banhos

No meu indesejado dia-a-dia, o vazio costuma bater à porta mais por volta das 22:00, depois do filhão estar a dormir. Até lá vai-se sobrevivendo, muito impulsionado com a azafama do trabalho, onde um dia de 48 horas dava uma boa ajuda ..... felizmente que não existe .....

Continuam a existir vários momentos onde o primeiro impulso é ligar para a Ana ..... como gostava de o poder fazer, de passar horas a falar com o meu amor ..... que saudades ..... que vazio ..... como tudo isto tantas vezes parece um sonho mau e que a Ana vai aparecer ..... como me custa a aceitar a realidade!

Esta semana de férias em Smir tinha sido combinada pela Ana e, o João quis ir para brincar com os amigos ..... por mim, e apesar do descanso que necessito e do bem que conviver com os amigos me faz e fez, dispensava ..... foi difícil ..... em todos os momentos pensei no que a Ana faria e como se iria divertir ..... tanto que faríamos e deixamos de fazer ..... como foi especialmente difícil ouvir o Mila do Netinho, música que a Ana trouxe da viagem de finalistas do Brasil ..... como ela se divertiu ..... porque Deus não quis que pudesses distribuir a tua alegria, divertimento e simpatia nestas férias ..... como teríamos sido felizes .....

Nestes momentos tento imaginar a diferença ou semelhança entre um recém divorciado, que não por vontade própria e alguém na minha situação ..... acho que em ambos os casos sentimos o roubo e o vazio forçado ..... como é possível ao homem sentir-se sozinho no meio de uma multidão? ..... como é complicada a mente humana ..... mas felizmente existem os amigos, que nos permitem estar sozinhos mas não solitários ou abandonados .....
Sei que este texto vai contra a força e a energia da Ana, da sua forma empenhada em olhar para o lado FIXE da vida, porém, este maldito vazio acompanha-me para todo o lado ..... tenho saudades do meu amor ..... falta metade de mim, esteja onde estiver ..... amo-te muito, meu amor!

A necessidade de informação

Vivemos numa era da sociedade de informação, onde tudo acontece tão depressa que não temos tempo nem capacidade para assimilar tudo. Se o presidente dos Estados Unidos se constipar, do outro lado do mundo alguém pode apanhar uma pneumonia ..... mas a informação já circula a uma velocidade tal, que esse alguém tem a capacidade de antecipar a chegada do vírus ..... o da constipação, não o Bush .....

Durante a semana passada, Portugal viveu um período complicado, com impactos directos na economia e no dia-a-dia dos seus habitantes. Por sorte ou azar, estivemos fora a semana toda. Como estávamos num resort em Marrocos, onde a internet wireless não estava a funcionar, o que nos foi salvando foram os telefonemas e a RTP Internacional.

Estávamos ávidos de notícias, especialmente para saber se podíamos abastecer-nos em Portugal ou o faríamos em Espanha. Já não sabemos viver sem informação, especialmente se nos afecta directamente ..... queremos ter tempo para nos prepararmos ..... precisamos de nos sentirmos informados .....

Há pouco tempo li uma notícia que as edições on-line estavam a trazer leitores de volta para os jornais diários. Tento perceber se a razão desse facto se prende com o hábito ou vicio da informação, que na Internet é regra geral constituída por notícias curtas, se a aversão que ainda existe à leitura digital ..... a impessoalidade de um click em detrimento do contacto num mundo cada vez mais individualista ..... mesmo que esse contacto seja com o papel ..... não consigo chegar a uma conclusão sustentável, porém, de uma coisa tenho a certeza, cada vez temos mais necessidade de informação correcta e atempada.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Condomínio ou sã convivência

Achava que morando num prédio de somente 7 inquilinos a sã convivência seria mais simples ..... e foi ..... durante 2 anos.

Quem morar num prédio e assistir às reuniões de condomínio, percebe perfeitamente a diferença entre condomínio e sã convivência. Por muito que eu ache incorrecto as curvas de distribuição impostas nas avaliações, a verdade é que estatisticamente têm algum fundo de verdade, e, o mesmo se aplica numa reunião destas. A maioria está lá por obrigação, uma pequena parte são os “puristas” que acreditam que iram conseguir fazer uma reunião rápida e chegar a conclusões objectivas para o bem comum, sejam elas o que forem.

Nos extremos é que está a piada ..... ou a falta dela. Regra geral temos sempre um ou dois artista do humor, seja com piadas engraçadas ou alegres, seja por comentários de perfeita estupidez, que mais parecem saídos de um programa do Herman. O nível intelectual às vezes atinge níveis impensáveis. No extremo oposto, existem os pseudo-intelectuais, os Drs, os Engs e os outros assim assim que por aí andam, que acham que tudo se resolve à estalada ou com recurso a advogados ..... nada pessoal Paulo ..... o civismos nestas alturas considera que a reunião vai longa e vai ele também dormir. O meu pai sempre disse, a nossa liberdade acaba quando começa a dos outros ..... sábias palavras, típicas de um pai ..... espero conseguir transmitir estas também ao meu filho.

Depois de passar por várias reuniões, em vários prédios e no mesmo com vários intervenientes, achei que neste pequeno prédio tudo podia ser diferente ..... nop! O primeiro grande problema é comum a todos os prédios, ou seja, depois de alguns voluntários que sabem que viver em comunidade é participar para o bem comum, ficamos sem voluntários para a administração ..... quando a população é de 7, acreditem que este ponto é atingido muito depressa. Este é um drama intemporal, agravado pelo individualismo dos tempos modernos ..... a sã convivência passa também pelo sacrifício do individuo em prol do bem comum, o condomínio.

Quando aparecem os primeiros problemas é quando a sã convivência tem tendência a desaparecer. As dificuldades têm o condão de trazer o pior das pessoas à superfície, seja num casamento, seja no trabalho ou seja num condomínio. Talvez por ser um idealista, como a Ana dizia que eu era, acredito que da mesma forma que no nosso casamento isso não aconteceu, a humanidade ainda não está totalmente perdida e ainda existe salvação ..... até para um condomínio.

Brevemente iremos ter nova reunião e espero que a sã convivência impere neste pequeno condomínio, quase ..... 3 ou 4 Km ..... à beira rio plantado ..... é tão mais fácil ..... atirar pedras é mais fácil que construir paredes ..... mas estas últimas duram mais!

Pessoalmente acredito que com boa vontade e civismo tudo se consegue ..... se todos facilitarmos tudo se torna mais fácil ..... a vida não é já por si só demasiado complicada?

domingo, 1 de junho de 2008

A arrogância da vitória

Havia um grupo português de rock, se a memória não me falha os Heróis do Mar, que cantava uma música que continha a seguinte frase marcante .... “dos fracos, não reza a história”. A questão é, que preço estamos dispostos a pagar?

Todos queremos ganhar. É a natureza humana. Todos os clubes querem ter os melhores, sendo os melhores que potenciam o resultado mais desejado ..... a vitória! Diga-se o que se disser, quantos não gostavam de ter no seu clube um presidente semelhante ao Pinto da Costa? Quem não gostaria de ter à frente da sua empresa um visionário de sucesso como um Bill Gates?

A questão que levanto, que se aplica tanto ao Pinto da Costa como a qualquer dono ou administrador de uma empresa é ..... qual o preço que estamos dispostos a pagar?

As grandes empresas, como os clubes, procuram os melhores gestores, capazes de estratégias vencedoras a curto, médio ou longo prazo. Mas na sociedade de hoje, o sucesso é quase sempre obtido com o custo de alguém e, numa sociedade que se rege por resultados, quando os meios legais ou correctos escasseiam, recorre-se aos meios menos lícitos. Estas pessoas que querem o sucesso a qualquer custo são, regra geral, de uma arrogância extrema.

Escrevo isto sobre o Mourinho que, muito provavelmente vai assinar esta semana pelo Inter de Milão, entrando conotado, e com justiça, de "supra sumo da barbatana" ..... mas com uma arrogância desnecessária.

Se dúvidas houvesse de que ele deveria ser a pessoa que mais estava a torcer para que o Chelsea perdesse, o que é diferente do Man. United ganhar, aquela reportagem imediatamente a seguir dissipo-as. Com tantos títulos ganhos, não precisava de vir pisar o seu sucessor logo após o seu despedimento. É deselegante, desnecessário e completamente mesquinho ..... e a isso acresce o título de capa de um desportivo que supostamente reproduzia palavras dele, não sei em que contexto e que dizia “Sou o melhor”. Quem efectivamente é o melhor, se é possível distinguir 1 entre os demais, não precisa de o dizer porque todos sabem e todos o comentam.

A verdade é que um treinador desconhecido pegou naquela equipa, que honra lhe seja feita, foi trabalhada em parte por ele, e, disputou até ao último jogo o campeonato, foi a duas finais, sendo uma delas a Champions que Mourinho não teve a arte e o engenho de conseguir atingir e, somente não a ganhou porque um destino da sorte ditou uma escorregadela. Ele vai pegar numa equipa antes da pré época e que foi campeã e derrotada na final da Taça de Itália ..... não me vou esquecer das frases que quase conseguimos são desculpas de derrotados ..... a ver vamos.

Estas pessoas à frente de destinos são, regra geral, não só arrogantes como não olham a meios para atingir os seus fins, semeando um clima de terror e desconfiança a fim de poderem obter resultados em detrimento do bem estar familiar e profissional de quem deles depende.

Qual o preço que estamos dispostos a pagar pela vitória .....

Amigos

Estando a voltar de um jantar com amigos, não posso escrever sem deixar uma palavra de apreço a todos os amigos que temos. Sempre disse que na vida o importante é ter saúde e amigos ..... o resto com esforço e mais ou menos dificuldade conseguimos superar ..... a Ana era uma pessoa tão espectacular que felizmente temos vários amigos ..... e como são importantes nesta fase.

Se pudesse transpor o que sinto para imagens, descreveria a vida neste momento como estando parado na margem errada de um rio. Mas o rio é muito largo e de águas muito revoltas, e, olhando para o lado constatamos que a corrente está mesmo muito forte e, o rio termina numa catarata tão grande como se estivéssemos na foz do Niagara. A primeira sensação é que não tenho vontade de atravessar o rio, porém, olhando lá ao longe, bem lá ao fundo na outra margem, vejo o meu filhão lindo que precisa de apoio no seu longo caminho e, sei que a Ana não perdoaria que não vivesse da melhor forma possível ..... se fosse ao contrário eu também não quereria que fosse de outra forma. O maior tributo que lhe posso fazer é atravessar o miserável rio!

É aqui que entram todos os nossos verdadeiros amigos ..... neste penoso trajecto são as pedras que estão salientes, permitindo a travessia de um lado para o outro, constituindo uma ajuda sem a qual tudo seria muito mais difícil. Obrigado a todos que estejam a ler esta mensagem e que sabem que este texto se lhes destina. Obrigado pela amizade, antes e durante deste longo período de dificuldade, e por todo o apoio que me têm dado e ao João. Obrigado.

Na vida, o importante é ter saúde e amigos .....

Mulheres ao poder

Terminou o processo de escolha do líder do PSD ..... ganhou a Manuela Ferreira Leite ..... mulheres ao poder sem ser preciso decretar cotas!

Nos últimos tempos tem havido um ténue movimento para a consciencialização da nossa sociedade. Na generalidade das nossas empresas, os cargos de chefia já vão sendo ocupados por mais mulheres, embora não se possa considerar que percentualmente isso tenha significado. À frente do destino das grandes empresas, essa realidade é quase ficção mas, não podemos deixar de constatar que algo está a mudar. Às mulheres está entregue muita da comunicação social e, consciente ou inconscientemente, a pressão para a mudança existe e trará frutos no futuro.

Um grande impulso, ou talvez não, será a eleição da Manuela Ferreira Leite. Esta vitoria na minha opinião, deve-se em muito à falta de reais alternativas ..... mas essa é somente a minha opinião. Se estivéssemos em Inglaterra, a nossa Margaret constituiria por certo um retorno baixo na casa de apostas. As outras opções eram um perfeito desconhecido, um jovem que recentemente superou a sua puberdade política e um playboy que dispensa apresentação. No caso do ex-jovem, apesar de apontado como futuro, não conseguiu fugir ao discurso populista a fim de granjear apoios ..... a situação financeira do país não está para discursos demagógicos que ele por certo ouvia quando ainda andava de fraldas, literalmente de fraldas. O Pedrito é o Pedrito e está tudo dito ..... um animal político do debate mas, como timoneiro .....

A Manuela tem três grandes desafios.

1º - Por o partido em sentido e respeito, a fim de não ser apunhalada nas costas como os seus antecessores. No dia da sua vitória, já se ouvia o sibilar do afiar das facas;
2º - Conseguir mostrar que não é outro Sócrates ..... figuras de grande peito e convicções, lendo-se peito em sentido figurado, obviamente, com políticas austeras até ao momento das eleições e o partido/governo entregue ao lobbie partidário ..... jobs for the boys ..... and girls, now;
3º - Apoiar pelo exemplo a corrente que emerge paulatinamente na sociedade;

Na educação do nosso filho sempre dissemos ..... há coisas que se aprendem e à outras que se apreendem ..... o seu maior problema será que ..... boys will always be boys!

O futuro a médio prazo se encarregará de me dar ou não razão .....

Felicidade roubada

Não resisto a escrever mais uma nota pessoal. Como este não se trata de um diário ou algo similar, decidi escrever sobre vários temas, mas tinha de começar por este para aliviar o “peso” que sinto.

Esta foi uma semana difícil, talvez porque o dia da criança se aproxima e falta-me a minha metade para o viver em pleno. Para dificultar ainda mais, durante a semana, ao folhear uma revista qualquer, e digo qualquer porque não me recordo de qual era, vi um exemplo de marketing para nichos de mercado que me afectou de sobremaneira.

Já estamos habituados à publicidade de SPA’s e hotéis, regra geral com raparigas giras, algumas mesmo muito giras, alguns com casais com um ar feliz e poucas vezes com figuras masculinas, tal qual um Adónis. Em relação aos casais, tanto aparecem a desfrutar da companhia mutua, como em poses sensuais de envolvimento romântico, muitas vezes a roçar o erótico. Esta semana deparei-me com um desses, apenas que o casal tinha pelo menos uns 60 anos e a frase era sugestiva, qualquer coisa como “volte a descobrir a paixão”. Fiquei cheio de inveja daquele casal, e uma saudade imensa do meu amor ..... o vazio que me acompanha desde o fatídico dia do adeus cresceu desmesuradamente. Fiquei muito triste. Tenho saudades do meu amor!

Este episódio passou, mas não ficou esquecido, tal foi a inveja com que fiquei do que aquele casal significava ..... a minha perca. Porém, sendo hoje um dia muito difícil, os acontecimentos do dia fulminaram o meu “sossego”, ganhando força nesse episódio não esquecido, apenas adormecido.

O João hoje teve um torneio na Nazaré. O primeiro torneio fora de Lisboa desde que a Ana se juntou ao firmamento. O dia era já de si difícil, e o decorrer do torneio, sem a minha metade foi aumentando o sentimento de vazio ..... como é difícil suportar o vazio. Mas adiante. À hora do almoço, fomos almoçar a um restaurante recomendado, lá bem no alto ao lado da Igreja. Até aqui tudo bem. Depois do almoço, fomos aproveitar o passeio e observar a vista do miradouro ..... Que dor! ..... foi um misto de satisfação e tristeza, uma vez que a vista é soberba mas a Ana estava lá bem no alto, longe de mim. Recomendo apreciar, uma vez que é bem lá no alto, vendo-se a vila, a praia em toda a sua extensão e a nova entrada na marina. Que dor! ..... era um daqueles locais em que apreciaríamos juntos, estaríamos abraçados um ao outro e trocaríamos vários beijos e frases de amor e carinho ..... que vazio! ..... que dor horrorosa que me deixou vazio e oco ..... que falta de vontade de viver que senti ..... mas rapidamente voltei à crua e dura realidade ..... a vida continua e a Ana não me perdoaria estes sentimentos ..... desculpa amor.

Voltamos para o carro e decidimos visitar a vila, descendo até ao pé da praia ..... como tudo é tão semelhante à vila de Sesimbra. Ao chegar ao pé da praia, descobrimos os nossos tesouros a brincar com os misters na areia. Por alguns momentos esqueci tudo e apreciei aquele longo e feliz abraço, com todos os mimos que se seguiram ..... este miúdo é mesmo um orgulho.

Depois de eles seguirem para o local do torneio, a fim de se prepararem para o último jogo, ficamos na esplanada a tomar um café. O problema foi ao levantar.
No muro que circunda a praia, estava um casal de cerca de 70 anos a namorar que nem um casal de jovens apaixonados, como se vinte anos tivessem, com beijos e abraços e aquele ar que somente os apaixonados conseguem ter ..... foi nesse momento que me consciencializei que a minha Felicidade foi Roubada ..... aquela era a cena que eu e a Ana sempre dissemos que gostaríamos de fazer naquela idade e, ao fim de dezasseis anos de namoro constante, com uma paixão tão grande como no início, acredito piamente que a faríamos ..... Fomos Roubados ..... a nossa felicidade foi roubada ..... a vida da Ana foi barbaramente ceifada ..... que vazio. Foi como todos os episódios da semana de juntassem e me acertassem no estômago ..... fiquei sem reacção.

Espero que o meu filho encontre alguém que lhe permita viver um amor no mínimo tão grande como o que nós vivemos, mas espero que possa viver na primeira pessoa aquela cena. O amor bem vivido é lindo.

A nossa felicidade foi roubada .....