quinta-feira, 31 de março de 2016

A vida é bela

 
Este é nome do filme que provavelmente mais me marcou na vida. Penso até que já o havia referido neste espaço, mas isso não é sequer relevante. A verdade é que é, e este é o filme que me vem à cabeça nestes momentos mais difíceis e que serve de inspiração. Acho que este texto, muito mais pessoal do que os que tenho vindo a publicar neste espaço, serve para isso mesmo. Uma inspiração ..... preciso desse algo neste momento.
 
A vida é o que é, e resultado do que nos impõem, seja Deus ou um badameco qualquer que tem esse poder, e as opções que fazemos. Mesmo o que conseguimos com o nosso esforço é uma opção ..... optamos por nos esforçamos por algo que queremos ou acreditamos. Fazemo-lo quando achamos que o custo justifica o proveito, ou então, por uma questão de princípio, o que nesse caso transforma o custo em algo irrelevante.
 
O desistir de algo, mesmo que seja um capítulo importante da nossa vida tem também a ver com isso ..... opções ..... optamos por não querer mais algo ou apenas porque não queremos mais estar sujeito ao custo de algo, como por exemplo a perda ..... opções que tomamos ..... umas até as revertemos mais tarde, outras ..... não ..... opções.
 
Mas não somos uma ilha isolada e, por vezes, quando outros dependem de nós, temos de ir buscar forças onde não as temos ..... temos de mostrar um sorriso mesmo estando completamente dilacerados por dentro ..... e essa é muito a história do filme.
 
Mas a vida não é um argumento de um filme, em que o resultado está definido muitas vezes à partida e é apenas como se vai do princípio escolhido ao fim predestinado ..... onde é tudo uma questão de como se escreve para maximizar o resultado, vulgo lucro e popularidade .... a vida é tão mais do que isso .....
 
..... e é tão difícil às vezes ..... é tão difícil conquistar mais pontos para o tanque ..... dos cacos fazer pontos é duro .....
 


sábado, 26 de março de 2016

As escolhas de Sofia

 
Sofia passeava ao longo das margens do rio Dâmboviţa. Havia jantado com os amigos perto da Praça da União, mas apesar da hora tardia, precisava de ar. Deixou-os na conversa ao café e partiu. Atravessou para o outro lado do rio e começou a sua caminhada. Nos prédios adjacentes, haviam ainda várias casas com as luzes ligadas. Sofia conseguia observar o que lá se passava e imaginava as histórias. Uma história em cada janela.
 
Parou ao fim de alguns metros num pequeno miradouro por cima do rio. Olhou para a outra margem e vislumbrou a Biblioteca Nacional, onde havia estava naquela manhã. Um edifício branco com uma enorme fachada de vidro que albergava tantos livros de poetas como ela. Imaginou alguns deles a sofrer de amores como ela, talvez sentados naquela margem enquanto deixavam a escrita fluir.
 
A sua cabeça estava a mil e precisava de desligar. Deixava a sua mente divagar enquanto imaginava o texto que iria colocar no seu diário. Tentava, mas não conseguia. A dor era demasiado grande.
 
Lembrava a cara de Susi, a conquista mais recente de um dos seus amigos, que lhe havia segredado algo ao ouvido durante o jantar. Susi era uma hospedeira americana que fazia vários voos de e para Las Vegas.
 
- You have lost!
- What? Sorry, I wasn’t here
- I always know when someone wins or loses when returning from LA
- And?
- You lost! …. It’s all over your face
- We are a long way from LA, my dear
- We may …. but your face says it all ….. and I’m never wrong
 
Sofia recordava agora aquele diálogo, à medida que observava um casal a passear um pouco mais à frente, parando de tempos em tempos para um beijo. Como Susi estava tão certa. Como se imaginava na figura daquela jovem .... havia feito uma escolha .... talvez tivesse de viver com ela.
 
Todas as conversas e mensagens trocadas vinham à sua mente. Sabia que estava certa em tudo o que tinha dito. Em tudo. Sofia nunca se enganava. O seu sexto sentido era exímio e nunca a enganara .... bem ..... exceto no passado e em várias ocasiões que ele realçou ..... e a sua raiva por ele cresceu ainda mais ..... como se atrevera ele a mostrar que ela estava errada! Que audácia!
 
Havia feito o que tanto criticava às suas amigas ..... julgara-o mesmo sem provas ..... a sua insegurança e o seu medo haviam-lhe turvado o juízo e ela sabia-o.  Acusara-o de tudo e mais alguma coisa, não ligando nada ao que ele havia retorquido. Outra afronta dele, negar o que a sua certeza sabia. Como se atrevera!
 
Mas naquele pequeno recanto do mundo, a dor e a tristeza bateram-lhe forte naquele momento ..... a sua impetuosidade haviam-lhe ditado as suas escolhas ..... relia no telemóvel aquela ultima mensagem recebida. Sabia que ele não mais lhe escreveria ..... essa era uma certeza que tinha. Se algo ainda houvesse para a salvar, sabia que teria de partir dela pois ele havia baixado os braços, desistido.
 
Pensava nisto tudo e no que queria fazer e ser na sua vida ..... e voltou ao seu passeio para vaguear um pouco mais antes de voltar ao hotel ..... a sua escolha estava feita e estava na altura de voltar para casa ..... assumir as suas opções ..... a sua escolha.

terça-feira, 8 de março de 2016

E se .....

 
Carolina olhava para o mar. Já havia estado ali tantas vezes que nem conseguia imaginar um número. Cem ..... mil .... dois mil .... na realidade, isso era irrelevante. Nem sabia porque pensava nisso.
 
Lembrava-se daquela noite em que ele disse que daria cambalhotas completamente nu nas pedras da calçada. Havia rido. A ideia pareceu-lhe estúpida na altura, uma frase certamente dita no calor daquele quente momento entrelaçados no carro, mas agora sabia que não. Agora sabia que tinha sido dito com toda a certeza que se podia ter. Agora era tarde.
 
Tal como as ondas que davam à costa, o momento havia passado. Havia perdido a onda. Mas tal como o surfista, estava já na altura, sabia-o agora bem, com o olhar no horizonte a imaginar na onda perfeita que viria certamente ........sempre a próxima melhor que a atual ..... sempre à espera de ter no futuro o que desperdiçava no momento ....
 
..... às vezes pensava .... “e se .....” .....
 
A sua próxima onde veio e nela surfou ..... e que sensação ..... até cair ..... novamente ..... e ao final de um dia, cada queda não é apenas mais uma queda ..... é o somatório de todas as quedas ..... e o corpo começa a ficar moído ..... cansado .....
 
Carolina olhava o mar. Refletia em tudo ..... tentava esvaziar a mente ..... tentava seguir em frente.
 
- Amanhã é um novo dia!
 
Dizia aquelas palavras para si  mesma enquanto ouvia a música no rádio do carro, estacionada no parque. Na rádio passava Kate Perry .... “Roar” ..... nem de propósito!
 
Aquelas palavras vieram-lhe à memória ..... “não te queixes pelo que não tens mas fica feliz pelo que tem” ..... por mais irritada que ficasse quando ele lhe dizia isso ...... sabia que ele tinha razão ..... tinha ..... e estranhamente isso dava-lhe uma força interior e um alento para lutar ..... para querer mais ...... e secretamente agradecia-lhe por isso .....
 
Enquanto ouvia a música, olhava para o mar e pensava naquelas frases roubadas de uma conversa tão pessoal .....
 
E se .....

terça-feira, 1 de março de 2016

Untitled

 
Sentada no seu sofá, em frente à lareira que crepitava, olhava para a pauta vazia. No chão, um monte de folhas amarrotadas estavam dispersas como que se plantadas propositadamente. Mordiscava o lápis nervosamente. Nada. O pentagrama parecia não querer receber qualquer nota. Nada.
 
Deitado a seu lado, o seu Labrador repousava com a cabeça na almofada. A cada folha amarrotada e atirada para o chão, levantava a cabeça, largava um suspiro e voltada a deitar a cabeça de novo na almofada. Esta era mais uma daquelas noites. Seria uma longa noite.
 
Recomeçar de novo. Aquela partitura era cada vez mais semelhante à sua própria existência. Todos os seus medos acumulados impediam uma única nota de fazer sentido. Era como se a folha árida estivesse destinada a ficar assim, despida de razão de ser. Nua.
 
A cada tentativa fracassada, o tormento de novo insucesso tornava a vontade de criar algo uma ideia aterradora. A noite caminhava para o seu apogeu e nada parecia fazer sentido. As notas não colavam umas nas outras. O processo produtivo era uma miragem. Nada.
 
Teria coragem para mais uma tentativa?
Teria coragem de superar o medo de falhar?
Será que ainda tinha música dentro de si?
 
Uma pauta vazia ..... uma vida inacabada .... a coragem de voltar a tentar .... como as coisas mais simples da vida são tão parecidas à realidade ..... uma pauta ..... uma vida.