John acordou e olhou
para o relógio. Eram 4:32. Desta vez tinha conseguido dormir um pouco mais de
tempo. Uns redondos 23 minutos. Cansado, sentou-se na cama. Olhou para o lado e
a outra metade da sua cama estava vazia. Um espelho da sua vida e alma. Vazia. Por
mais que fechasse e abrisse os olhos a realidade era imutável ..... apenas nada
….. um vazio.
Lentamente levantou-se
e dirigiu-se para a casa de banho. Parado no lavatório, abriu a torneira e
deixou a água correr um pouco. Colocou as mãos debaixo do jorro fresco que
corria e depois de algum tempo, levou as mãos em concha à cara, refrescando-se
como podia. Após algumas repetições levantou a cabeça enquanto as suas mãos
procuravam a toalha. Viu-se ao espelho. Á sua frente estava uma figura que
reconhecia em feições mas não em alma ...... essa estava morta ..... quebrada.
Tão lentamente como
ali tinha chegado, dirigiu-se até á sua varanda. Um alpendre de sonho, outrora
local de muitos momentos de felicidade. Já lá fora, fez uma festa ao seu fiel
amigo que o seguia desde o quarto. Umas lambidelas trouxeram-lhe um fugas leve
sorriso aos lábios, mas apenas isso, genuíno mas fugaz. Encostado a um dos
postes, observava o horizonte que lhe surgia aos olhos. O dia certamente não
tardaria a raiar. Mais um dia que sentia não ser seu ..... vivia num tempo
emprestado que não tinha pedido e não queria, mas fora-lhe dado ou imposto
..... um prolongamento depois do apito final.
A vista era magnífica.
Estava no alpendre da sua casa de Malibu, com escadas de madeira que davam
acesso direto à praia de areia branca e limpa. Mais um pouco à frente, o oceano
beijava ritmadamente a praia, originando uma visão tranquilizante e um som acolhedor.
Para qualquer um menos para John. Aquela casa tinha sido o sonho de uma vida a
dois ..... mas o outro não era o simpático e amável Max ..... não era este o
sonho, era apenas a realidade. A sua dura realidade.
Fazia agora 6 anos que
tudo na sua vida mudara ….. após aquele dia, culminar de todo um ciclo, nada
era como antes. Na sua mente apenas algumas perguntas sem respostas ….. porquê?
..... porquê ela? ….. porquê eu? ..... porque não podemos trocámos de lugar
..... porque não pude eu escolher quem ficava e quem ia? ..... porquê?
Demasiados porquê sem
resposta …..
Á sua volta via todos
a correr desalmadamente para empregos que não gostam, a voltar para casas onde
não querem estar, a aspirar por um ideal ou sonho de realidade que não a sua.
Homens e mulheres com o sonho de um amor idílico que se calhar nunca iram
encontrar e, enquanto procuram, perdem momentos que se tivessem ponderado,
talvez tivessem tomado decisões diferentes ..... talvez.
Mas esse não era o
dilema ou a frustração de John ..... ele tinha sido verdadeiramente feliz .....
tinha ...... e agora, em pé no seu alpendre de sonho, não era capaz de ser
feliz ..... a sua vida tinha terminado e vivia um tempo que sentia não ser seu.
Já conseguia sair com amigos e esboçar alguns sorrisos, mas não era ele .....
era um mero prolongamento de um tempo que não era o seu. Que não sentia ser seu.
Vivia os vários
momentos de alegria e tristeza sem qualquer constrangimento ou dilema moral
..... apreciava o lado FIXE da vida no que podia, por mais fugaz que esses
momentos fossem ..... sem dilemas morais ou restrições de uma sociedade de
valores em que é mais o que se apregoa do que outra coisa. Sem grilhetas
sociais.
Naquele início de
manhã, John olhava para o horizonte ..... vivia um tempo que não era o seu
..... e agora?