Sofia passeava ao
longo das margens do rio Dâmboviţa. Havia jantado com os amigos perto da Praça da
União, mas apesar da hora tardia, precisava de ar. Deixou-os na conversa ao
café e partiu. Atravessou para o outro lado do rio e começou a sua caminhada. Nos
prédios adjacentes, haviam ainda várias casas com as luzes ligadas. Sofia
conseguia observar o que lá se passava e imaginava as histórias. Uma história
em cada janela.
Parou ao fim de alguns
metros num pequeno miradouro por cima do rio. Olhou para a outra margem e
vislumbrou a Biblioteca Nacional, onde havia estava naquela manhã. Um edifício
branco com uma enorme fachada de vidro que albergava tantos livros de poetas
como ela. Imaginou alguns deles a sofrer de amores como ela, talvez sentados
naquela margem enquanto deixavam a escrita fluir.
A sua cabeça estava a
mil e precisava de desligar. Deixava a sua mente divagar enquanto imaginava o
texto que iria colocar no seu diário. Tentava, mas não conseguia. A dor era
demasiado grande.
Lembrava a cara de
Susi, a conquista mais recente de um dos seus amigos, que lhe havia segredado
algo ao ouvido durante o jantar. Susi era uma hospedeira americana que fazia
vários voos de e para Las Vegas.
- You have lost!
- What? Sorry, I wasn’t here
- I always know when someone wins or loses when
returning from LA
- And?
- You lost! …. It’s all over your face
- We are a long way from LA, my dear
- We may …. but your face says it all ….. and
I’m never wrong
Sofia recordava agora
aquele diálogo, à medida que observava um casal a passear um pouco mais à
frente, parando de tempos em tempos para um beijo. Como Susi estava tão certa.
Como se imaginava na figura daquela jovem .... havia feito uma escolha .... talvez
tivesse de viver com ela.
Todas as conversas e
mensagens trocadas vinham à sua mente. Sabia que estava certa em tudo o que
tinha dito. Em tudo. Sofia nunca se enganava. O seu sexto sentido era exímio e
nunca a enganara .... bem ..... exceto no passado e em várias ocasiões que ele
realçou ..... e a sua raiva por ele cresceu ainda mais ..... como se atrevera
ele a mostrar que ela estava errada! Que audácia!
Havia feito o que
tanto criticava às suas amigas ..... julgara-o mesmo sem provas ..... a sua
insegurança e o seu medo haviam-lhe turvado o juízo e ela sabia-o. Acusara-o de tudo e mais alguma coisa, não
ligando nada ao que ele havia retorquido. Outra afronta dele, negar o que a sua
certeza sabia. Como se atrevera!
Mas naquele pequeno
recanto do mundo, a dor e a tristeza bateram-lhe forte naquele momento ..... a
sua impetuosidade haviam-lhe ditado as suas escolhas ..... relia no telemóvel
aquela ultima mensagem recebida. Sabia que ele não mais lhe escreveria .....
essa era uma certeza que tinha. Se algo ainda houvesse para a salvar, sabia que
teria de partir dela pois ele havia baixado os braços, desistido.
Pensava nisto tudo e no que queria fazer e ser na sua
vida ..... e voltou ao seu passeio para vaguear um pouco mais antes de voltar
ao hotel ..... a sua escolha estava feita e estava na altura de voltar para
casa ..... assumir as suas opções ..... a sua escolha.