sábado, 26 de março de 2016

As escolhas de Sofia

 
Sofia passeava ao longo das margens do rio Dâmboviţa. Havia jantado com os amigos perto da Praça da União, mas apesar da hora tardia, precisava de ar. Deixou-os na conversa ao café e partiu. Atravessou para o outro lado do rio e começou a sua caminhada. Nos prédios adjacentes, haviam ainda várias casas com as luzes ligadas. Sofia conseguia observar o que lá se passava e imaginava as histórias. Uma história em cada janela.
 
Parou ao fim de alguns metros num pequeno miradouro por cima do rio. Olhou para a outra margem e vislumbrou a Biblioteca Nacional, onde havia estava naquela manhã. Um edifício branco com uma enorme fachada de vidro que albergava tantos livros de poetas como ela. Imaginou alguns deles a sofrer de amores como ela, talvez sentados naquela margem enquanto deixavam a escrita fluir.
 
A sua cabeça estava a mil e precisava de desligar. Deixava a sua mente divagar enquanto imaginava o texto que iria colocar no seu diário. Tentava, mas não conseguia. A dor era demasiado grande.
 
Lembrava a cara de Susi, a conquista mais recente de um dos seus amigos, que lhe havia segredado algo ao ouvido durante o jantar. Susi era uma hospedeira americana que fazia vários voos de e para Las Vegas.
 
- You have lost!
- What? Sorry, I wasn’t here
- I always know when someone wins or loses when returning from LA
- And?
- You lost! …. It’s all over your face
- We are a long way from LA, my dear
- We may …. but your face says it all ….. and I’m never wrong
 
Sofia recordava agora aquele diálogo, à medida que observava um casal a passear um pouco mais à frente, parando de tempos em tempos para um beijo. Como Susi estava tão certa. Como se imaginava na figura daquela jovem .... havia feito uma escolha .... talvez tivesse de viver com ela.
 
Todas as conversas e mensagens trocadas vinham à sua mente. Sabia que estava certa em tudo o que tinha dito. Em tudo. Sofia nunca se enganava. O seu sexto sentido era exímio e nunca a enganara .... bem ..... exceto no passado e em várias ocasiões que ele realçou ..... e a sua raiva por ele cresceu ainda mais ..... como se atrevera ele a mostrar que ela estava errada! Que audácia!
 
Havia feito o que tanto criticava às suas amigas ..... julgara-o mesmo sem provas ..... a sua insegurança e o seu medo haviam-lhe turvado o juízo e ela sabia-o.  Acusara-o de tudo e mais alguma coisa, não ligando nada ao que ele havia retorquido. Outra afronta dele, negar o que a sua certeza sabia. Como se atrevera!
 
Mas naquele pequeno recanto do mundo, a dor e a tristeza bateram-lhe forte naquele momento ..... a sua impetuosidade haviam-lhe ditado as suas escolhas ..... relia no telemóvel aquela ultima mensagem recebida. Sabia que ele não mais lhe escreveria ..... essa era uma certeza que tinha. Se algo ainda houvesse para a salvar, sabia que teria de partir dela pois ele havia baixado os braços, desistido.
 
Pensava nisto tudo e no que queria fazer e ser na sua vida ..... e voltou ao seu passeio para vaguear um pouco mais antes de voltar ao hotel ..... a sua escolha estava feita e estava na altura de voltar para casa ..... assumir as suas opções ..... a sua escolha.