Já passa das 22:30
quando ela se sentou na sua varanda. Era mais uma daquelas agradáveis noites de
verão, sem uma única nuvem que impedisse de ver o céu estrelado em todo o seu
esplendor. A Lua, em quarto minguante, tinha ainda uma cor viva que refletia
sobre as águas da baía. Nada mais se ouvia que o vinil do Bolero de Ravel que ela
tinha posto instantes antes a tocar.
A humidade do ar fazia
que no seu corpo torneado por inúmeras horas de ginásio aparecessem pequenas
gotículas de água. As pontas do robe de cetim transparente esvoaçavam ao sabor
da pequena brisa que soprava. Era tarde ….. tinha sido um dia complicado ….. precisava
daquela calma …..
O dia culminava uma
série de comprometedores silêncios ….. depois de muito procurar um diálogo de
várias maneiras possíveis ….. menos a via direta ….. dava agora por si a atirar
a toalha ao tapete ….. assumia a sua derrota ….. algum dia teria de o
reconhecer ….. hoje havia sido o dia. A frase podia estar num qualquer pacote
de açúcar da Nicola, mas não, apenas ecoava na sua cabeça.
Ao ir bebendo o sumo
de manga que havia preparado pensava nessa frase ….. deitar a toalha ao tapete …..
que expressão estranha quando usada daquela forma. O gesto é em si de
desistência, porém, não pelo próprio mas por alguém que assiste e o assume, maioritariamente
porque o lutador em causa não deverá estar em condições de o fazer …. Mas era
ela que o tinha feito ….. o silêncio havia ganho ….. não tinha mais forças para
lutar contra ele ….. reconhecia toda a sua incapacidade ….. finito ….. apenas o
Bolero imperava naquela varanda …. isso e pequenas brisas de ar quente …. que noite!
A noite estava calma e
tranquila ….. a sua mente não ….. opostos circunstanciais ….. e ela deixou-se
ficar na espreguiçadeira de tecido branco a saborear a noite ….. e o silêncio que
invadia a sua mente ..... sempre o maldito silêncio .....
Tinha cerca de 4
minutos até a musica terminar ….. e o silêncio total e absoluto extravasar a
sua mente e invadir aquele espaço ….. ficando apenas isso ….. silêncio …..