É inegável que a
inovação é um auxiliar e um acelerador de tudo nos tempos modernos, porém, como
tudo na vida, quando é mal utilizado passa a ser prejudicial. Neste momento é
quase impensável a alguém não ter telemóvel, preferencialmente com acesso à net
e, em termos profissionais, estar igualmente comunicável em qualquer momento,
independentemente do local onde se encontra. A nossa moderna trela eletrónica.
A proliferação do
facebook e os Farmville da net são uma realidade inegável e, invariavelmente,
uma fonte de problemas, ao ponto de várias empresas banirem os acessos a vários
sites nas suas instalações. Qualquer estudo de ocupação de banda de transmissão
de um site destes ou o nº de cliques feitos demonstra uma taxa de utilização
elevada, logo, fonte permanente de distração. A modernidade aliada ao
auto-voeyrismos é maioritariamente prejudicial.
A facilidade e a simplicidade
de estabelecer uma comunicação ou transmitir mensagens começa também a ser um
sério problema. Para determinados grupos profissionais, é já expectável que
estejam sempre comunicáveis e atentos. Já quase não se pensa em "será que se ligar agora estarei a
interromper algo?" ..... o pensamento é muito mais na linha do "porque é que esta besta não me atende o telemóvel"
..... e no caso do mail, é mais do "já
enviei um mail" .....muitas vezes completamente vazio de contexto ou
impossível de uma correta interpretação e o pensamento é "porque não tenho o meu problema resolvido? já
enviei um mail!"
Este é um problema que
tenho sentido nos últimos anos, onde cheguei a ter um chefe que estupidamente
me chateava se não lhe atendesse logo o telemóvel ..... era irrelevante se
estava a falar ou não, ele ligava e eu tinha de atender ..... e daí obviamente
várias discussões ..... o mesmo se passando com o mail ....."porque não respondeste ainda ao mail do X"
..... ou pior, "porque não está
tratado o problema do mail que já te enviaram" ..... felizmente este
capítulo é passado ..... mudei de emprego ..... mas mesmo assim, continuava a
sentir-me dependente do toque da modernidade.
Ao chegar de manhã
perdia muito tempo a resolver os problemas dos outros enviados por mail,
ficando algumas coisas que tinha de tratar para segundo plano. Ao longo do dia,
a concentração várias vezes torpedeada por um mail com Urgente algures nalgum ponto da sua estrutura ou conteúdo ..... é
impressionante como hoje em dia quase tudo é urgente. E aos poucos e poucos,
cada vez mais sentia que estava preso às modernas ferramentas de produtividade,
que ao invés de serem isso mesmo, estavam a dominar o meu mundo. A fazer-me
sentir improdutivo.
Cansado de sentir esta
grilheta na minha vida, apesar de reconhecer a sua utilidade, decidi tomar
medidas drásticas para recuperar o meu sentimento de produtividade.
Naturalmente que não era improdutivo, mas sentia cada vez mais condicionado, o
que é quase o mesmo. Uma prisão. Urgia fazer algo ….. não sei viver
condicionado ….. ir vivendo não é viver.
Depois de um longo
período de introspeção sobre toda a minha vida atual, tanto pessoal como
profissional, fiz uma pausa zen e
tomei várias resoluções..... a ambos os níveis. Decidi começar uma nova etapa
da minha vida..... irrelevante se dura 1 semana ou 10 anos ..... uma nova etapa
e uma nova abordagem ..... veremos o que sai
e como até agora, sempre passível de alteração após nova reflexão. Quem
não muda são os burros e os políticos. Mudar é sempre positivo, desde que em
consciência.
Comecei com uma
mudança simples .....não via o mail antes de resolver os assuntos que me
impunha de tratar antes desse momento sagrado de abrir o dito cujo, o que foi
um passo grande na forma como vinha a trabalhar. Mas achei que podia ir mais
longe, que podia me sentir ainda menos acorrentado a esse deus Mail.
Estou a chegar ao
final da minha 1 semana de horários controlados para o mail. Tal qual um
drogado que faz um percurso de desintoxicação. Não consegui ir ao mail apenas as
2 vezes por dia como pretendia, mas fiquei muito perto desse objectivo. E a
verdade é que me senti muito mais produtivo. Após ultrapassada a tentação de ir
ver os problemas dos outros a toda a hora, passei a estabelecer horas para o
fazer ..... se demorar 10 minutos a ler e tratar os assuntos demoro, se demorar
2 horas, demoro as 2 horas. ..... mas a horas estabelecidas por mim e sem
sentimentos de culpa por ser dentro desses horários. Penso ainda demorar mais 2
semanas a calibrar o ritmo para me sentir tranquilo com esta modalidade, mas é
esse o esforço que estou a fazer.
Não sei se este será
para mim um modelo eficiente e eficaz, mas claramente acredito que o é e irei
tentar ..... veremos como termina.