Portugal para além da bandeira tem alguns símbolos pelos quais é conhecido. Ainda não dista muito o tempo em que tínhamos o Eusébio e a Amália, sendo que dada a morte desta última reside apenas o fado que a tornou famosa. Fado esse que é também sinónimo e estigma de um povo, que sucumbe ao negativismo do seu triste fado. E estes são os nossos maiores símbolos além fronteiras ….. o futebol e o fado.
O povo Português porém
anda muito distante do seu país. Após um período de descolonização, seguiu-se
um êxodo para o estrangeiro, o que nos fez entrar num período de vergonha
nacional. Em relação ao primeiro é fácil perceber, porém, em relação ao segundo
é difícil compreender. Éramos um povo atrasado em termos educacionais em
relação ao resto da Europa, pelo que naturalmente os nossos emigrantes apenas
poderiam aspirar a empregos de baixa qualificação. Era natural, tal como assim
acontece agora com os imigrantes oriundos dos países de leste, Brazil e países
africanos. É a lei natural da qualificação e da empregabilidade. Mas nunca
perdoámos isso aos Portugueses que embarcaram nessa aventura, como se eles
fossem culpados do que era Portugal nessa época.
Durante muito tempo
Portugal quis o dinheiro dos seus emigrantes, mas abominou-os por vários motivos
….. lá fora eram trabalhadores de baixa qualificação e cá dentro eram novos
ricos que despertavam a inveja alheia, outra característica marcante do nosso
povo. Temos dificuldade em aceitar quem tem sucesso, especialmente se é fruto
do seu trabalho. E os nossos emigrantes acabaram por sofrer dentro e fora do
seu país. Não me recordo de nenhum Presidente que tenha pedido desculpas por
essa nossa postura.
Fruto de uma onda surgida
nesse período, esteja ou não isso interligado, criou-se uma adversão ao que era
Português. Com a abertura à Europa e ao acesso aos produtos que anteriormente apenas
tínhamos por via dos emigrantes, gerou-se a fase “o que não é Nacional é que é bom”. Nada do que era Português era
bom e isso infelizmente generalizou-se. Contrariamente a muitos países que
adotaram medidas protecionistas aos seus interesses de forma a mais rapidamente
melhorarem a sua qualidade, o que gerou uma cultura de valorização do que é
seu, em Portugal assistiu-se ao inverso, o que iremos pagar durante muitas
gerações. É verdade que neste momento isto já não é a realidade reinante,
porém, o mal está feito e mesmo que se mude, temos um atraso muito grande para
recuperar. Voltando à linguagem futebolística, demos meio jogo de avanço e
agora a tática tem de ser muito mais agressiva.
Quando as mentalidades
começaram a mudar, foi preciso o futebol para produzir a disrupção que faltava.
E o mais impressionante é que foi necessário um Brazileiro para nos abrir os
olhos. Se hoje estamos mais próximos do nosso país e os nossos filhos sabem
cantar “A Portuguesa”, o nosso Hino
Nacional, devemo-lo ao Luis Filipe Scolari. Goste-se ou não, essa é a verdade.
Foi o então selecionador no Euro 2004 que o conseguiu. Honra lhe seja feita. A
ele o meu obrigado.
Hoje apareceram notícias
que davam como eminente a condecoração do Cristiano Ronaldo pelo Presidente da
República. Inteiramente de acordo. E estou não apenas pela notoriedade que ele
proporciona ao nosso país, parco de grandes nomes no desporto e tem um logo no
desporto rei, mas acima de tudo pelas características tão pouco Portuguesas que
o mesmo possui. É um exemplo e honestamente gostaria que fosse mais utilizado como
exemplo que é, assim como fossem enfatizadas as características que o levaram a
chegar onde chegou.
Estamos perante um
miúdo que tal como muitos sempre quis ser jogador de futebol. Até aqui nada de
novo, porém, desde muito cedo que a sua vontade de ser o melhor não se ficou
apenas pela garganta, característica típica de muitos povos que não apenas o
nosso. Desde muito cedo que ele interiorizou o que era o seu sonho e
efetivamente lutou por ele. E quando o conseguiu, não ficou a “viver á sombra dos seus louros”,
continuo sempre a querer sempre ser melhor, e isso é indiscutivelmente algo que
deve ser apreciado, valorizado e enfatizado aos nossos filhos ….. querer sempre
ser melhor e fazer por isso.
Em termos de
profissionalismo, num mundo de facilitismo e de vedetas, ainda hoje é dos
primeiros a chegar aos treinos, dos mais aplicados durante o seu decorrer e dos
últimos a sair. E ao contrário do típico Português, não é o último porque ficou
à espera da hora da saída para começar a trabalhar para se mostrar ao chefe …..
não ….. é dos últimos a sair porque continua a tentar melhorar a sua técnica. Isto
é de louvar e referir várias vezes para que sirva de exemplo. Valorize-se essa
característica.
Se as notícias que
hoje apareceram forem verdade, não só é mais que merecido, como deveríamos
aproveitar para valorizar o que ele é dentro de portas. Mais do que ele
representa para a nossa imagem externa, o exemplo que ele pode ser
internamente.
Parabéns ao Cristiano
Ronaldo e muitos sucessos pessoais e coletivos, especialmente os que envolvem a
seleção nacional que a bandeira que ele tem ao peito é um símbolo de todos nós.
E nós precisamos de acreditar mais em nós.