O ar rarefeito escasseava, o que o obrigava a aproveitar cada respiração. Aquela altitude era sempre difícil respirar, excepção feita ao guia, homem já batido naquelas andanças e aos sherpas que os acompanhavam. Era como se tivessem garrafas de oxigénio por debaixo dos seus Kitycows. Mas não para ele. A sua rotina de Nova York não era naquele registo. Respirava com dificuldade. Ofegava.
Enquanto descansava um pouco, a descer para a 2ª base para pernoitar, recordava a graçola que dizia quando nevava e a temperatura estava abaixo de 20ºC … Ao pé do Central Park, o Everest deve ser um passeio de meninos … onde estava agora o Starbucks mais próximo, onde um Latte Machiado bem quente correspondia ao seu maior desejo naquele momento?
O vento frio era como uma corrente de facas afiadas. Mesmo totalmente protegido, havia partes da sua cara que nada tinham, e eram essas que o massacravam. Mesmo com 3 pares de meias grossas, aquele bocadinho de pele exposta faziam a razia da sua temperatura interna. Regelava.
Não estava só. Olhava para o resto dos elementos do seu grupo, todos presos em fila indiana ao guia aparentavam estar todos na mesma situação. No mesmo desespero. Tinham formado um grupo engraçado. Cinco suecas, cada uma delas mais gira que a do lado, um casal neozelandês e dois gêmeos franceses que, apesar de passarem muito do seu tempo nos Alpes, segundo eles, pareciam ser marinheiros de primeira água.
Conseguiram voltar mesmo no limite do aceitável. Tinham demorado mais 2 horas que o previsto e era já a segunda tentativa de atingir a base seguinte. O casal neozelandês já tinha feito alguma pressão para não voltarem a fazer aquela 2ª tentativa mas, por força do argumento dos restantes, haviam anuído à saída. Como se sentiam arrependidos. A montanha claramente lhes dizia que aquele não era o seu lugar. Que estavam a mais.
Fã incondicional do livro “O monge que vendeu o seu ferrari”, queria escrever um livro inspirador e com suporte a uma aventura real. Precisava daquela experiência. Precisava de se superar. De testar os seus limites. Talvez tivesse ido longe demais e embarcado num desafio grande demais para si … um passo maior que a perna … mas agora era tarde. Agora não podia desistir.
Quando a hora chegou, recolheu à sua pequena tenda, que partilhava com 2 das novas amigas. O conforto da tenda transportava-o para as quentes paragens de um oásis, em muito ajudado pelo facto de dormir no meio de ambas, aquecendo-as e sendo por elas aquecido. Era um bónus que a viagem lhe tinha dado. Haviam já agendado uma semana em NY onde as iria receber e mostrar a cidade, mas isso é outra história. Por agora, era repousar que de manhã, em função das condições climatéricas, haveriam de decidir seguir ou regressar à base. A glória da conquista da montanha ou a vergonha da derrota por esta. Amanhã decidiriam.
Aninhou-se nas suas parceiras e adormeceu de cansado ao som dos seus pensamentos … não desistas!