domingo, 9 de março de 2014

Corrigir o rumo

 
Certo dia o meu filhão proferiu uma daquelas frases que em alguém conhecido se tornaria eternas, ou como se diz nos dias de hoje, virais ….. Se não gostas da tua via, muda-a.
 
Alguns episódios da nossa vida provocam-nos mudanças profundas. Um nascimento, uma morte, um acidente, uma doença nossa ou de alguém próximo. São episódios de tal forma marcantes e que alteram a nossa vida que não temos dúvidas que ela muda. Por muito que tenhamos exemplos de outros, como tem sido por exemplo a exposição que o Manuel Ferraz tem tido, a verdade é que as mudanças profundas só as fazemos quando somos diretamente afetados. A frase do António Feio é linda e profunda ….. “Aproveitem a vida. Ajudem-se uns aos outros. Não deixem nado por dizer e nada por fazer.” ….. mas é uma frase pessoal ….. quantos de nós alterámos algo (já para não dizer substancialmente) a nossa vida à conta dela? Quem efetivamente aproveitou o momento para “Não deixem nada por dizer e nada por fazer”?
 
As grandes mudanças, os Tsunamis da nossa vida aparecem quando menos esperamos e arrebatam-nos por completo. As grandes mudanças são relativamente fáceis, porque na maioria das vezes não temos sequer hipóteses de as evitar. Somos arrastados. Não somos tidos nem achados. O difícil são os pequenos nadas que somados correspondem a muito. Ao que na realidade somos e como vivemos.
 
Todos os dias nos deitamos e pensamos no que foi o nosso dia e o que queremos fazer no dia seguinte. Todos os dias quando nos levantamos nos olhamos ao espelho e o que vemos somos nós próprios ….. e pelo menos a mim surge-me a pergunta ….. “estás satisfeito contigo mesmo? é isto que queres? o que vais mudar e quando o vais fazer?”.
 
Hoje de manhã enquanto passeava os meus pequenos na praia, meditava à volta dessa frase. Apesar de guardar para as férias de verão os pensamentos mais profundos, e as decisões de mudar algo de forma mais substancial, a verdade é que ao longo do resto do ano as correções são necessárias. Seja na nossa vida profissional, pessoal ou familiar, existe sempre algo com o qual não estamos satisfeitos e queremos mudar ….. e é um erro estar à espera de um qualquer evento para proceder a mudanças ….. quando nos sentimos preparados, devemos mudar. Ponto.
 
O verão passado foi um turbilhão de eventos e pensamentos como já não tinha desde há 5 anos atrás. Foi a consolidação de ideias profundas e o assistir à destruição de uma ideia que se calhar era apenas um sonho. De tomar algumas decisões para o resto da minha vida ….. ou pelo menos até que um evento deveras significativo as altere. Correspondeu ao impacto profundo. Mas sentia que faltava algo …..
 
Olhar para o espelho e reconhecer o que não gostamos em nós não é fácil. As questões físicas são inevitabilidades que muitas vezes temos de aceitar por não as podermos alterar. Podemos com capacidade financeira corrigir esteticamente alguns aspetos, havendo essa capacidade, claro. Somos o que somos e temos de nos aceitar. Não é ficar contente, mas considerar que são o que são ….. encarar o que vemos como as regras do jogo. Difícil mesmo é o que não se vê no espelho. A nossa alma. O nosso eu. As nossas atitudes, postura e comportamento. A nossa pedra filosofal.
 
Às vezes é preciso fazer grandes mudanças, é um facto, mas também é preciso ir tratando das pequenas com igual atenção. Preocuparmo-nos com o que queremos e não com o que os outros podem dizer. Dar valor ao que temos, enquanto temos.
 
Admiro a força de vontade de algumas pessoas, como era o caso da Ana. Lamento muitas vezes sentir que no que toca a esse aspeto, sou uma pálida imagem do que ela foi e o que nos ensinou. E fico envergonhado pela memória do que ela era e da força que tinha. É tão fácil arranjar pretextos e desculpas para deixar de mudar o que achamos ser importante ou necessário. É tão fácil não mudar …..
 
Depois de muito meditar, tenho bem claro neste momento o que quero mudar. Tal como um alcoólico ou drogado em recuperação, as pequenas conquistas diárias que quero ter ….. não todo o meu universo, mas os pequenos grupos de poucos nadas de cada vez. O meu passeio matinal de hoje foi isso mesmo, uma decisão de corrigir uma série de pequenos nadas há muito identificados e que me corroíam por dentro por não os mudar. Apesar de desde á meses andar a resolver vários pessoais e profissionais, a verdade é que não estava satisfeito com o que “via” quando olhava de manhã ao espelho. Depois de nos últimos tempos ter assumido as minhas diversas perdas, faltava-me isso, o decidir mudar alguns temas do meu eu. Voltando a parafrasear a Nicola, Hoje é o dia …..
 
Adicionei uma pergunta à minha lista matinal: Que vais melhorar, manter ou corrigir hoje?