sábado, 4 de outubro de 2008

Sempre foi assim

Em todos os casos e histórias, desde o tempo da mensagem escrita ou transmitida, existe sempre a figura do bode expiatório. Aquele que é tão culpado como os outros, mas, por algum critério que ninguém percebe muito bem, aparece sempre como “O Culpado”.

Tem sido assim em vários casos; o arbitro que é condenado por corrupção sem que exista ou pelo menos seja conhecido o corruptor; o pedófilo que irá pagar as culpas de todos, se bem que este caso ainda não teve desfecho, este seja já vaticinado por todos, face ao obvio poder dos restantes arguidos e o sentimento de que em Portugal a justiça pode ser muita coisa, mas cega não é um dos adjectivos utilizados para a descrever. São vários e vários os casos, tal como estes e, o último, é o linchamento público do Santana Lopes, por acaso numa altura em que aparece como possível candidato à CML ..... que coincidência.

Quem ouve os vários presidentes e detentores de altos cargos da Câmara Municipal de Lisboa, acha estranho como todos são peremptórios a afirmar com o maior das descontracções que a câmara sempre deu, a seu belo prazer, casas com base não (só) nas necessidades dos seus munícipes mas sim com outro critério muito enraizado na cultura Portuguesa ..... a cunha. Que estes casos apareçam não é de estranhar porque sabemos a forma de funcionamento baseado no clientelismo que é prática corrente em Portugal, porém, o mais chocante é a naturalidade com que este assunto é assumido. Acho chocante.

Numa câmara que tem um endividamento tal que não sei como ainda não declarou falência, o que poderá fazer invocando para si um plano semelhante ao plano Paulson, Fica a dica. Nenhum critério está devidamente definido, ou pelo menos assim nos é transmitido, num sector que para além da vertente social, poderá constituir-se como uma fonte de receitas, até porque vários imóveis são detentores de uma localização privilegiada. Outro factor estranho é o valor das rendas, que claramente nada tem a ver com o real valor de mercado.

Outro fenómeno engraçado em Portugal é a explicação apressada e nervosa, genuinamente estúpida, diga-se. Nos JO tivemos a frase “de manhã só na caminha” e, agora temos a “se me divorciar novamente, tenho de ter uma casa”. Será que essa é a razão de aumento dos divórcios em Portugal ..... uma forma de ganhar um apartamento da CML?

Ficamos a saber que desde o principio dos tempos são atribuídas casas a pedido de todos que têm algum poder ou influência em Portugal, e, como várias pessoas já o referiram, este é um fenómeno que vai da esquerda à direita ..... a “riqueza” é tanta que dá para todos. E isso é tão natural que ninguém tem poejos de falar, como se algo que sempre foi feito assim, deixou de ser judicialmente ou moralmente reprovável por esse mesmo motivo ..... sempre foi assim!

E se sempre foi assim, porque razão apenas um pequeno grupo está a ser constituído arguido? Porque razão os anteriores não o são? Porque razão os actuais também não o são?

E este fenómeno, tipicamente característico e revelador da nossa sociedade, é único na CML? E as restantes câmaras do país? De repente, vem-me à cabeças as câmaras de Oeiras, Gondomar, Porto e Felgueiras ..... como será este fenómeno por lá?