terça-feira, 9 de setembro de 2008

Um único não ...

Na realidade não foi um não ....... acho que foi mais um não gostava, concordas?

Preâmbulo: Das poucas coisas que falamos, eu e a Ana, foi o carro. Ela disse que gostava de o oferecer à cunhada, a Ana Luísa ..... com muita dificuldade lhe disse que não gostaria, porque não sabíamos o que o banco decidiria em termos de empréstimo/spread e esse dinheiro faria falta para amortizar a casa ..... ela entendeu ..... “Pois é, o João” ..... primeira e única vez que lhe disse um não em toda a nossa vida conjunta ..... uma das coisas que mais me custou na vida ..... se ela não tivesse percebido e dito uma só vez que fosse que mesmo assim gostaria, ter-lhe-ia dito logo que sim ..... ela nunca o disse ..... era o filhão ..... como eu amo esta mulher!!!! ..... não consigo deixar de pensar nisso ..... disse-lhe um não!

Conto da minha infância: Havia um padre que era a bondade em pessoa, sempre pronto a ajudar o próximo. Passou a vida a dar tudo o que tinha em prol dos outros, fosse o seu tempo, dedicação e compaixão, fossem as próprias roupas do corpo. Um dia, ao percorrer uma estrada, encontrou um homem moribundo e, automaticamente se acercou dele e perguntou o que poderia fazer por ele. O homem disse-lhe que gostaria de comer um último presunto antes de morrer. O padre saiu dali a correr e, ao encontrar um porco, cortou-lhe uma perna, a fim de satisfazer o desejado do pobre moribundo, que faleceu alegre e satisfeito. Após este encontro, o padre continuou a sua vida de dedicação ao próximo, até ao dia da sua própria partida. Quando faleceu, chegou às portas do céu e, foi-lhe dito que a sua vida seria analisada para decidir se poderia entrar ou não nos reinos do céu ..... o padre sabia o bem que tinha praticado ao longo da sua existência e estava tranquilo ..... dum lado da balança foi vendo serem colocados por todos os seus actos, roupas, comida, etc ...... até que a balança pendia completamente para o lado do bem, porém, depois começou a ver a balança a pender para o outro lado, até ao seu ponto de equilíbrio ..... quando olhou para dentro do prato, apenas viu um porco numa grande poça de sangue em dor e sofrimento ..... de um lado um monte de roupas e boas acções, do outro o sofrimento do porco ..... ao padre foi vetado o acesso ao céu .....

Sentimento: Sinto-me nesse estado ..... coloque-se a questão como se colocar, eu disse um não ao meu amor ..... à luz da realidade de hoje, não o teria feito ..... não consigo “largar” o peso desse não ..... dias depois do falecimento da Ana, pedi desculpa à Ana Luísa e ao Ricardo por esse “não/pedido”, explicando o porquê ..... ela, agradecida pela generosidade que a Ana tinha, disse que compreendida ..... aliviou um pouco a minha dor ..... apenas um pouco ..... esse é o peso que para sempre terei de carregar na minha balança ..... pesa muito!

Desejo: Ontem vendemos o carro da Ana, que ela e o João tanto gostavam ..... quando o pai (o António) disse à filha que o carro era dela, se gostasse, vi um sorriso de orelha a orelha ..... uma felicidade autêntica, genuína e sincera ..... a Ana teria gostado ...... ela irá estimar o carro do meu amor ..... isso pode não valer muito mas, para mim, vale tudo. Espero que o carro seja estimado como a Ana o fazia ..... espero!

Conclusão: A amortização do empréstimo da casa, aliado ao não pagamento do seguro do carro e gasolina, permite a libertação de verbas para que o João possa ter os seus cães, se essa for a sua vontade ..... parca consolação, mas mesmo assim uma consolação pessoal ..... acho que a Ana teria gostado ..... assim espero!

..... um único não ..... como estou arrependido!